O TEATRO
MUNICIPAL DE GUARARÁ
01
- Descrição:
O
imóvel este estilo "Art déco" foi construído para
abrigar o Teatro Municipal da cidade. Está implantado em terreno
plano no alinhamento do passeio e possui partido retangular com pé
direito alto. O acesso é feito por três degraus na porta central da
fachada principal na Rua Capitão Gervásio, que dá acesso ao hall
de entrada. Pela travessa Gilson Mendonça possui uma porta de
entrada na parte posterior dessa fachada lateral, de acesso aos
camarins e ao palco.
Sua
estrutura é autoportante de tijolo maciço e possui laje no
mezanino. A sua cobertura faz-se em duas águas, e meia-água na
parte posterior, sobre os camarins, com vedação em telha francesa.
Nas laterais possui beiral em caixote e a fachada é coroada por
platibanda.
Suas
fachadas tem uma proporção de cheios bem maior que de vazios, e são
caracterizadas pela volumetria. Seus vãos são todos em verga reta e
a fachada principal possui revestimentos com planos diferenciados, em
fulget. As fachadas laterais possuem revestimento em reboco pintadas
com tinta a a base de água na cor branca.
A
fachada principal é composta no térreo por um grande vão central
rasgado por inteiro com a porta de ferro sanfonada ladeada por dois
basculantes, um de cada lado, de ferro com vidro transparente
martelado. Em toda a extensão desta fachada, ao nível do piso do
mezanino interno, há uma marquise de laje em balanço com decoração
de friso de cordão entrelaçado em todo o seu perímetro e sob ela,
três globos de iluminação. Sobre a marquise, na sua parte central
da extremidade do balanço há um letreiro luminoso metálico com
vedação em vidro martelado, e com alturas diferenciadas, sendo o
centro mais extenso e mais alto. Ainda nesta fachada, ao nível do
mezanino, tem-se, um vitral central fixo da largura da porta, com
vidros martelados, nas cores azul, verde, laranja, vermelho e
transparente, simetricamente dispostos. De cada lado desse vitral
tem-se um basculante, na direção dos do térreo, com vidros
martelados transparente, e verde nos ângulos. Acima de cada um
desses vão encontra-se afixada na fachada uma luminária de ferro
tipo tocha. Essa fachada possui o revestimento em rebaixo, em três
faixas verticais, uma na direção de cada vão.
A
platibanda se faz em alturas diferenciadas. Sobre a parte centrai é
mais alta e possui decoração vertical em massa no centro e nas
laterais. Entre os vãos possui altura intermediária e sobre os
basculantes laterais é mais baixa. Esse escalonamento de altura se
faz em iguais proporção.
A
fachada lateral esquerda possui apenas três vãos, na altura próxima
a do mezanino. São janelas de madeira com venezianas, de uma folha
de abrir. A fachada lateral direita, além dessas três janelas altas
há ainda uma porta e uma janela de madeira de duas folhas de abrir,
no vão de acesso aos camarins.
Internamente,
o hall possui piso em ladrilho hidráulico, na parede frontal à
porta há uma pintura artística de um grande vaso de flores e sobre
eles um violonista e uma dama, seu teto é em laje que sustenta o
mezanino superior e também possui pinturas artísticas de cercaduras
e flores. No hall há ainda a escada de madeira de acesso ao
mezanino, este possui guarda-corpo em balaustrada de massa.
Na
plateia o piso é cimentado com resina vermelha, seu forro de madeira
possui uma pintura longitudinal de uma faixa com formas triangulares
que é ladeada por frisos. Possui rodateto de madeira igual à faixa
que percorre o perímetro do forro. As paredes são amplamente
decoradas com pinturas artísticas, abaixo do rodateto uma faixa
geométrica percorre toda a parede, as pinturas abaixo são de buquês
de flores, três em cada parede, abaixo do palco uma pintura de sol
com raios. O vão de abertura do palco possui enquadramento de
madeira com pinturas artísticas, na parte superior tem-se pintura
com o monograma"TM", referência à denominação "Teatro
Municipal".
O
piso do palco é de madeira e o dos camarins é cimentado pintado na
cor verde. Nos camarins há um banheiro com revestimento de azulejo
até meia-parede.
02
- Histórico:
O
Teatro Municipal de Guarará começou a ser construído em 1939 e foi
inaugurado no início da década de 1940. Arquitetoricamente a
construção se enquadra no estilo Art Deco, e apresenta muitas das
características próprias do estilo que são as estruturas austeras,
onde se destaca o geometrismo mediante a combinação ou inserção
de superfícies planas cortadas mecanicamente e sustentadas por
suportes finos. Como historicamente também é próprio do estilo,
grande é o contraste decorativo interior-exterior, apresentando o
interior rico detalhamento e tratamento estético na decoração de
superfície, com utilização de materiais exóticos e texturas
naturais.
Até
o ano de 1945, na gestão do Coronel Affonso Leite e Bertholdo
Machado, a edificação sediou grandes apresentações de companhias
teatrais importantes e abrigou grande número de eventos sociais
diversos, essa época, foi segundo os antigos moradores do município,
o período em que a entidade mais atuou na área cultural.
Entre
os depoimentos levantados o que mais fornece informações relevantes
é o da professora aposentada Neuza de Oliveira, nascida em
08/12/1920 ainda moradora no município de Guarará:
(…)
As suas pinturas artísticas foram feitas por três pintores da
Escola de Belas Artes de Juiz de Fora e que mais tarde ganharam
prêmio na frança. O pano de boca foi pintado por Arnaud Gribel,
pintor local além de ser um excelente músico
O
Teatro era considerado o cartão de visita da cidade pois todos que
aqui vinham faziam questão de visitá-lo. Nele trabalharam
companhias teatrais como a Procópio
Ferreira que
apresentou as peças Deus
lhe pague e Não
me contes esse pedaço,
além de trazer diversas vedetes.
As
irmãs Iracema e Norma Garcia colaboraram muito conseguindo trazer
elencos teatrais e conferencistas famosos para nele atuar. Uma das
concertistas famosas foi Magdalena
Tagliaferro
que mais tarde mudou se para a França recebendo lá muitos prêmios
pelo seu trabalho.
Esteve
nele, para cantar, Orlando
Silva do Rio de
Janeiro e um grande jornalista, escritor e poeta, Agripino
Grieco, De Bicas,
atuou um elenco teatral.
Além
das peças teatrais foram apresentados nele mágicos e palhaços de
circos famosos como o Serrazane
do Rio de Janeiro.
Aos
poucos, a juventude de Guarará conseguiu apresentar algumas peças.
Mais tarde serviu para ser apresentado, no prédio, o cinema exibindo
ótimos filmes.
O
Grupo Escolar “Ferreira Marques” também contribuiu para a
cultura trazendo, nas datas cívicas conferencistas que vinham de
outras cidades.
A
decadência do teatro começou quando sua porta foi aberta para
bailes carnavalescos e festas que não incluía “cultura”.”
(Depoimento
da Neuza de Oliveira, nascida em 08.12.1920, registrado em Abril de
2003, transcrito e arquivado por André Colombo, pesquisador da
Fundação Cultural Chico Bonedrio – Rio Novo-MG)
TEATRO MUNICIPAL
Texto
do jornal "O GUARARÁ" (ANO XXI, Nº 21) de 01/06/1940
O
sólido, moderno, confortável e lindo Teatro Municipal que a
Prefeitura local acaba de construir nesta cidade, vai ser
festivamente inaugurado no dia 23 do andante.
Era
o único próprio público de que se ressentia esta cidade, que agora
fica dispondo de tudo necessário ao relativo conforto e bem estar de
sua população. É mais um importante e útil marco que fica
assinalando à fecunda administração de que desfruta o nobre povo
guararense, construído e já pago pela respectiva verba
orçamentaria, despendida sem o sacrifício de outros serviços
municipais.
Sabemos
que não foram pequenos os esforços dos empreendedores dessa
magnifica obra educativa e recreativa. Mas, sabemos também que não
lhes faltou o apoio e a boa vontade de nossa gente. Vários foram os
donativos recebidos, entre os quais é de se registrar mais uma vez a
rica e artística Bandeira Nacional, oferta das damas guararenses, e
iniciativa e confecção do ilustrado corpo docente do Grupo local; a
superior cortina da boca de cena, oferecida pelo Cel. Bertholdo
Garcia Machado; o letreiro luminoso da fachada principal, dádiva do
funcionalismo federal, estadual e municipal local, e o fardamento
para a corporação musical, presente valioso do Cel. Pedro Leite.
O
nosso Teatro está lindamente decorado, mobiliado, dispondo de tudo
mais necessário ao fim a que se destina. Satisfaz,, com vantagens,
as exigências locais, e oferece aos espectadores conforto e ambiente
que devem agradar ao gosto mais exigente.
Sua
inauguração será ás 19 horas em ponto, com o seguinte programa,
sujeito a modificações: Apoteose da República, sendo o Hino
Nacional cantado por 21 meninas, representando, cada uma, um
Estado
da Federação Brasileira; discurso do Prefeito e do orador oficial
da solenidade; Hino da Bandeira, por um coro de meninas; um ato
variado, e a representação da interessante comédia "Não me
contes esse pedaço", por um grupo de amadores locais.
Só
terão ingresso as pessoas previamente convidadas e munidas de um
cartão cujo numero corresponde ao da cadeira que lhe está
designada. Por não ser possível convite geral, o mesmo espetáculo
será repetido no dia seguinte, dedicado às pessoas que, somente por
falta de espaço, não puderam ser chamadas para o ato inaugural, e
às crianças das escolas públicas, sendo os ingressos distribuídos
na hora, na bilheteria do Teatro.
Por
mais esse melhoramento antecipamos nossos parabéns, não ao nosso
grande Prefeito, mais ao querido povo de nossa amada terra.
A Inauguração do Teatro Municipal de Guarará constituiu com justiça um acontecimento relevante na vlzinha cidade, despertando no povo um vivo contentamento, cujo júbilo era fácil notar na fisionomia de todos.
Gentilmente convidado, "O Municipio", ali encontrou a cidade em festas, notando desusado movimento, musica e fogos.
Prédio recentemente construído. teve ele um acabamento completo que dispensa a todos os espectadores um ambiente confortável e elegante.
Às 19 horas em ponto o pano de boca do Muicipal de Guarará subiu pela primeira vez descortinando aos olhos ávidos do publico um cenario lindíssimo e 21 meninas, vestidas de branco e uma representando a Republica, que cantaram o Hino Nacional acompanhado pela corporação musical "10 de Novembro", regida pelo maestro Otavia de Carvalho.
A numerosa assistencia, ao terminar, aplaudiu com entusiasmo a mocidade guararense ali tão bem representada.
Houve após o discurso de inauguração pelo sr. cel. Bertholdo Garcia Machado, operoso prefeito daquele município, que em substanciosa oração fez o historico da constrção daquela casa, terminando possuído de justa comoção ao fazer entrega ao público daquele templo de arte.
Em seguida houve o hastemento do Pavilhão Nacional no palco, quando então orou coaa a eloquência que é possuidor, padre Oscar de Oliveira, piedoso vigário daquela cidade.
Após a formosa oração do padre Oscar, seguiu-se a representação teatrla que constou, em primeiro lugar, de um ato de variedades e em segundo lugar da interpretação da comedia: "Não me conte esse pedaço".
Não disporíamos de espaço suficiente se fôssemos fazer uma apreciação detalhada do espetáculo.
Podemos, no entretanto afirmar que todos os interpretes desempenharam seus papeis com muita felicidade, nada deixando a desejar.
Afonso Leite, um dos intérpretes da peça, continua a ser um grande amador da arte dramática.
Mentalidade admirável de adaptação, possui ele verdadeiro senso artístico, como aconteceu encarnando Trancoso com tal naturalidade que, despertando o aplauso entusiástico da platéia, o torna muito naturalmente o Ídolo das multidões e fino cavalheiro, "doubé", de "condotiére" e artista.
Ao finalizar esta noticia, sentimos possuídos de satisfação ao endereçar ao sr. cel Bertholdo Garcia Machado, o administrador Inteligente e operoso que Guarará tem a ventura de possuir e ao sr. Cel. Afonso Leite, o idealizador do criação do Teatro Municipal naquela pitoresca cidade, as nossas felicitaçôes calorosas, extensivas áquele povo culto e adiantado.
Guarará, pois, deu passo agigantado na senda do progresso material e intelectual. (De "O Município", de 30 de junho de 1940).
Conforme noticiámos, realizou-se no domingo último, dia 23 do andante, a festiva inauguração do Teatro Municipal de Guarará, obra da atual administração do vizinho município.
Discursaram no ato os srs. Cel Bertholdo Garcia. Machado, Prefeito MunicipaJ, e o Rvmo. Pe. Oscar de Oliveira, vigário da Paroquia, como orador oficial.
Cantados o Hino Nacional e o Hino á Bandeira por um coro de meninas, teve lugar uma sessão teatral, com um ato variado, cujos números agradaram inteiramente, e a comédia: "Não me contes esse pedação".
O desempenho desta foi perfeita, portando-se os amadores como os mais reputados profissionais. Não houve faltas, tudo denotando um grande cuidado e muita competência nos ensaios.
No que toca ao trabalho não é possível destacar-se nomes, entretato, não podemos deixar de mencionar o do sr. Cel Afonso Leite, que arcou com o principal papel e a maior responsabilidade da peça, portando-se admiravelmente.
O edifício inaugurado inaugurado é linhas sóbrias porém harmônicas, sendo o melhor possível, dada a artística decoração, o aspecto interno da casa.
Para esta sessão inaugural foram feitos convites especiais, notando-se, além de pessoas gradas do vizinho município, grande número de visitantes desta cidade de Bicas e de outras localidades vizinhas.
Abrilhantou a festividade a garbosa Corporação Musical "10 de Novembro", da vizinha cidade.
Fazendo estes registro, renovamos nossas felicitações ao governo e ao povo do município de Guarará.
(De "O Momento de Bicas", de 29 de Junho de 1940).
Aos 12 anos de idade estava eu presente na inauguração do Teatro; sito o fato na seguinte história: A Banda de Música...
Saudade dos tempos em que o progresso ainda nos permitia sair para brincar ou passear nas ruas a procura do lazer hoje monopolisado pelos aparelhos eletrônicos que transportaram todas as atividades ao ar livre para dentro de casa!
Saudade daqueles tempos em que cada pequena cidade do interior tinha, no meio do jardim da praça principal, um coreto onde, aos domingos, uma Banda de música se reunia para fazer uma retreta. Aquelas mesmas bandas das quais um compositor brasileiro se lembrou descrevendo a sensação da moça na janela ao ver a banda passar.
Saudade das alvoradas para despertar a população nos dias festivos;
Saudade daquela bandinha de crianças na qual, aos 11 anos de idade, iniciei minhas atividades musicais, tocando entusiasticamente o meu saxhorne.
Era a Banda dos meninos que passou a existir por iniciativa do Padre Oscar de Oliveira e de membros da Prefeitura Municipal de Guarará. O Sr. Otavio de Carvalho foi indicado para ensinar Teoria Musical e Solfejos e, em seguida, distribuir instrumentos musicais com os meninos de acordo com a capacidade de cada um. Todas as noites a turma se reunia no casarão ao fim da Rua Direita, junto da escadaria que na época levava ao Cemitério no alto do morro ao lado da Igreja de São Sebastião. Estimulados por minha mãe éramos tres irmãos tocando na bandinha: Elizio, Vicente e eu.
Além das Alvoradas e Retretas a Banda era frequentemente convidada para tocar em solenidades públicas, religiosas e particulares (Batisados, casamentos e outras celebrações).
Era grande o prestígio dos componentes da Banda, especialmente com as garotas; assim é que quando havia retreta o pessoal do “footing” ia fazê-lo no jardim onde as meninas paqueravam os músicos que nos intervalos eram liberados para dar uma voltinha no jardim. Os moradores da vizinhança traziam cadeiras para fora da casa; dali ouviam a banda tocar e saudavam as pessoas que perambulavam pela praça.
O “footing” era o local reservado nas pequenas cidades para o passeio noturno das garotas que caminhavam de braços dados (duas, tres ou mais) enquanto os rapazes em pé ao longo da rua, exerciam uma divertida paquera da qual muitas vezes resultavam namoros firmes e até casamentos.
Os meninos mais acanhados, como eu, sem coragem para abordar uma possivel namorada, aproveitavam a oportunidade do “footing” para entregar a garota preferida um cartão impresso com os dizeres: “RIFA DO MEU CORAÇÃO QUE NUNCA AMOU MAS QUE TE AMA PELA PRIMEIRA VEZ APAIXONADAMENTE. A EXTRAÇÃO FAR-SE-Á PELA LOTERIA DO TEU CORAÇÃO NO DIA EM QUE DERES O SIM”. Nos vértices superiores do cartão estavam de um lado o SIM e do outro o NÂO.
Não foram poucos os cartões que me devolveram com o cantinho do NÃO cuidadosamente dobrado, decepções às quais se junta o ocorrido em São Pedro do Pequeri onde fui com uma turma jogar futebol; aventurava-me num “footing” enquanto esperava o trem que levaria a turma de volta para Bicas. Depois de muita insistencia dos colegas para que eu me declarasse a uma bela garota que sempre me olhava ostensivamente todas as vezes que passava com sua amigas, tomei a decisão de acompanhar o pequeno grupo e perguntei acanhadamente para a menina: “posso falar com você”, ao que ela prontamente respondeu: “fala com meu pai; ele vem ai atrás”.
Os meninos da Banda eram os melhores da cidade no jogo de futebol; o time da Banda era praticamente imbatível; treinavamos e jogávamos constantemente, mas o que mais gostávamos era das tocatas nas festas celebradas nas fazendas porque um almoço ou jantar especial era servido para os músicos acompanhado de deliciosas uvas ou jaboticabas.
Belas lembranças ficaram daquele tempo mas entre elas uma triste recordação. Aconteceu por ocasião da inauguração do Teatro Municipal de Guarará; a Banda tocava em frente ao prédio como sempre dirigida pelo maestro Otávio de Carvalho. Foi quando sua mãe, escura como o filho e já velhinha, teve vetada sua entrada no teatro em razão de sua cor. O Sr. Otávio, triste e transtornado de pesar, perdeu o auto controle; atirou-se ao chão e se autoflagelava socando-se desesperadamente ao tempo que gritava em altas vozes “eu quero morrer”.
Não foi fácil contê-lo no seu desespero e reconduzir sua humilde genitora para dentro do teatro.
Para nós foi uma lição: apesar da tenra idade vimos um exemplo vivo do que pode resultar dos preconceitos de cor.
A construção do Teatro foi muito importante para a comunidade. Logo se transformou numa das poucas opções de lazer em Guarará. Ali se apresentaram artistas nacionais levando à população a possibilidade de assistir peças teatrais famosas na época como “Deus lhe Pague” de Juracy Camargo.
Com a participação de professoras e políticos locais, improvisados como atores apresentou-se também uma bela comédia intitulada “Não me conte esse Pedaço” de Jayme Costa, sobressaindo-se como atores principais o Coronel Afonso Leite e a minha professora do 4º. ano primário, a inesquecível D. Laurinha.
Mas o que mais agradou a plateia foi a apresentação da Mariinha, minha irmã, cantando a valsa “Última Inspiração” acompanhada ao violão pelo saudoso Tatão Pires. Tinha ela então seus 8 ou 9 anos de idade; aplaudida de pé a plateia só parou de se manifestar quando finalmente aceitaram os insistentes pedidos de bis. Mariinha tinha realmente uma voz de Soprano, impecavelmente afinada e de timbre mavioso. Infelizmente nunca estudou musica e seu talento foi apreciado apenas pelas pessoas mais íntimas.
Antes do Teatro pequenas peças teatrais eram encenadas no Grupo Escolar Ferreira Marques de Guarará. Ali eu representei o papel de Zequinha na engraçada comédia, “No Ano de 2000”, onde se previa - acertadamente por sinal - as mulheres substituindo os homens em todas as atividades; inclusive dentro de casa. Nesta eu apareci de sainha curta, estampada fazendo tricô, fato que me deu muitos problemas no relacionamento com os meninos na rua e na escola.
Resultou destas singelas experiências artisticas o desejo de esturar música seriamente. A pequena semente, que ali se plantou, germinou tão logo encontrou terreno fértil muitos anos depois nas minhas aventuras que vieram ocorrer na cidade do Rio de Janeiro.
Vejam agora a foto da minha bandinha.
Ali se vê o regente, Sr. Otavio (isolado a esquerda do grupo), e os dois remanescentes da família Ferreira da Fonseca, (dois primeiros a partir da esquerda na coluna da frente): eu com meu saxhorne, o único sem o bibico pois que o detestava assim como também o uniforme caqui e o Elizio com seu trombone . Por razões que não me lembro não aparece o Vicente que batia o bombo tocado naquele dia pelo Sr. Otávio.
"Inauguração do Teatro Municipal de Guarará"
A Inauguração do Teatro Municipal de Guarará constituiu com justiça um acontecimento relevante na vlzinha cidade, despertando no povo um vivo contentamento, cujo júbilo era fácil notar na fisionomia de todos.
Gentilmente convidado, "O Municipio", ali encontrou a cidade em festas, notando desusado movimento, musica e fogos.
Prédio recentemente construído. teve ele um acabamento completo que dispensa a todos os espectadores um ambiente confortável e elegante.
Às 19 horas em ponto o pano de boca do Muicipal de Guarará subiu pela primeira vez descortinando aos olhos ávidos do publico um cenario lindíssimo e 21 meninas, vestidas de branco e uma representando a Republica, que cantaram o Hino Nacional acompanhado pela corporação musical "10 de Novembro", regida pelo maestro Otavia de Carvalho.
A numerosa assistencia, ao terminar, aplaudiu com entusiasmo a mocidade guararense ali tão bem representada.
Houve após o discurso de inauguração pelo sr. cel. Bertholdo Garcia Machado, operoso prefeito daquele município, que em substanciosa oração fez o historico da constrção daquela casa, terminando possuído de justa comoção ao fazer entrega ao público daquele templo de arte.
Em seguida houve o hastemento do Pavilhão Nacional no palco, quando então orou coaa a eloquência que é possuidor, padre Oscar de Oliveira, piedoso vigário daquela cidade.
Após a formosa oração do padre Oscar, seguiu-se a representação teatrla que constou, em primeiro lugar, de um ato de variedades e em segundo lugar da interpretação da comedia: "Não me conte esse pedaço".
Não disporíamos de espaço suficiente se fôssemos fazer uma apreciação detalhada do espetáculo.
Podemos, no entretanto afirmar que todos os interpretes desempenharam seus papeis com muita felicidade, nada deixando a desejar.
Afonso Leite, um dos intérpretes da peça, continua a ser um grande amador da arte dramática.
Mentalidade admirável de adaptação, possui ele verdadeiro senso artístico, como aconteceu encarnando Trancoso com tal naturalidade que, despertando o aplauso entusiástico da platéia, o torna muito naturalmente o Ídolo das multidões e fino cavalheiro, "doubé", de "condotiére" e artista.
Ao finalizar esta noticia, sentimos possuídos de satisfação ao endereçar ao sr. cel Bertholdo Garcia Machado, o administrador Inteligente e operoso que Guarará tem a ventura de possuir e ao sr. Cel. Afonso Leite, o idealizador do criação do Teatro Municipal naquela pitoresca cidade, as nossas felicitaçôes calorosas, extensivas áquele povo culto e adiantado.
Guarará, pois, deu passo agigantado na senda do progresso material e intelectual. (De "O Município", de 30 de junho de 1940).
"Teatro Municipal de Guarará"
Conforme noticiámos, realizou-se no domingo último, dia 23 do andante, a festiva inauguração do Teatro Municipal de Guarará, obra da atual administração do vizinho município.
Discursaram no ato os srs. Cel Bertholdo Garcia. Machado, Prefeito MunicipaJ, e o Rvmo. Pe. Oscar de Oliveira, vigário da Paroquia, como orador oficial.
Cantados o Hino Nacional e o Hino á Bandeira por um coro de meninas, teve lugar uma sessão teatral, com um ato variado, cujos números agradaram inteiramente, e a comédia: "Não me contes esse pedação".
O desempenho desta foi perfeita, portando-se os amadores como os mais reputados profissionais. Não houve faltas, tudo denotando um grande cuidado e muita competência nos ensaios.
No que toca ao trabalho não é possível destacar-se nomes, entretato, não podemos deixar de mencionar o do sr. Cel Afonso Leite, que arcou com o principal papel e a maior responsabilidade da peça, portando-se admiravelmente.
O edifício inaugurado inaugurado é linhas sóbrias porém harmônicas, sendo o melhor possível, dada a artística decoração, o aspecto interno da casa.
Para esta sessão inaugural foram feitos convites especiais, notando-se, além de pessoas gradas do vizinho município, grande número de visitantes desta cidade de Bicas e de outras localidades vizinhas.
Abrilhantou a festividade a garbosa Corporação Musical "10 de Novembro", da vizinha cidade.
Fazendo estes registro, renovamos nossas felicitações ao governo e ao povo do município de Guarará.
(De "O Momento de Bicas", de 29 de Junho de 1940).
Minha pequena Banda de Música
Célio Ferreira da Fonseca
Aos 12 anos de idade estava eu presente na inauguração do Teatro; sito o fato na seguinte história: A Banda de Música...
Saudade dos tempos em que o progresso ainda nos permitia sair para brincar ou passear nas ruas a procura do lazer hoje monopolisado pelos aparelhos eletrônicos que transportaram todas as atividades ao ar livre para dentro de casa!
Saudade daqueles tempos em que cada pequena cidade do interior tinha, no meio do jardim da praça principal, um coreto onde, aos domingos, uma Banda de música se reunia para fazer uma retreta. Aquelas mesmas bandas das quais um compositor brasileiro se lembrou descrevendo a sensação da moça na janela ao ver a banda passar.
Saudade das alvoradas para despertar a população nos dias festivos;
Saudade daquela bandinha de crianças na qual, aos 11 anos de idade, iniciei minhas atividades musicais, tocando entusiasticamente o meu saxhorne.
Era a Banda dos meninos que passou a existir por iniciativa do Padre Oscar de Oliveira e de membros da Prefeitura Municipal de Guarará. O Sr. Otavio de Carvalho foi indicado para ensinar Teoria Musical e Solfejos e, em seguida, distribuir instrumentos musicais com os meninos de acordo com a capacidade de cada um. Todas as noites a turma se reunia no casarão ao fim da Rua Direita, junto da escadaria que na época levava ao Cemitério no alto do morro ao lado da Igreja de São Sebastião. Estimulados por minha mãe éramos tres irmãos tocando na bandinha: Elizio, Vicente e eu.
Além das Alvoradas e Retretas a Banda era frequentemente convidada para tocar em solenidades públicas, religiosas e particulares (Batisados, casamentos e outras celebrações).
Era grande o prestígio dos componentes da Banda, especialmente com as garotas; assim é que quando havia retreta o pessoal do “footing” ia fazê-lo no jardim onde as meninas paqueravam os músicos que nos intervalos eram liberados para dar uma voltinha no jardim. Os moradores da vizinhança traziam cadeiras para fora da casa; dali ouviam a banda tocar e saudavam as pessoas que perambulavam pela praça.
O “footing” era o local reservado nas pequenas cidades para o passeio noturno das garotas que caminhavam de braços dados (duas, tres ou mais) enquanto os rapazes em pé ao longo da rua, exerciam uma divertida paquera da qual muitas vezes resultavam namoros firmes e até casamentos.
Os meninos mais acanhados, como eu, sem coragem para abordar uma possivel namorada, aproveitavam a oportunidade do “footing” para entregar a garota preferida um cartão impresso com os dizeres: “RIFA DO MEU CORAÇÃO QUE NUNCA AMOU MAS QUE TE AMA PELA PRIMEIRA VEZ APAIXONADAMENTE. A EXTRAÇÃO FAR-SE-Á PELA LOTERIA DO TEU CORAÇÃO NO DIA EM QUE DERES O SIM”. Nos vértices superiores do cartão estavam de um lado o SIM e do outro o NÂO.
Não foram poucos os cartões que me devolveram com o cantinho do NÃO cuidadosamente dobrado, decepções às quais se junta o ocorrido em São Pedro do Pequeri onde fui com uma turma jogar futebol; aventurava-me num “footing” enquanto esperava o trem que levaria a turma de volta para Bicas. Depois de muita insistencia dos colegas para que eu me declarasse a uma bela garota que sempre me olhava ostensivamente todas as vezes que passava com sua amigas, tomei a decisão de acompanhar o pequeno grupo e perguntei acanhadamente para a menina: “posso falar com você”, ao que ela prontamente respondeu: “fala com meu pai; ele vem ai atrás”.
Os meninos da Banda eram os melhores da cidade no jogo de futebol; o time da Banda era praticamente imbatível; treinavamos e jogávamos constantemente, mas o que mais gostávamos era das tocatas nas festas celebradas nas fazendas porque um almoço ou jantar especial era servido para os músicos acompanhado de deliciosas uvas ou jaboticabas.
Belas lembranças ficaram daquele tempo mas entre elas uma triste recordação. Aconteceu por ocasião da inauguração do Teatro Municipal de Guarará; a Banda tocava em frente ao prédio como sempre dirigida pelo maestro Otávio de Carvalho. Foi quando sua mãe, escura como o filho e já velhinha, teve vetada sua entrada no teatro em razão de sua cor. O Sr. Otávio, triste e transtornado de pesar, perdeu o auto controle; atirou-se ao chão e se autoflagelava socando-se desesperadamente ao tempo que gritava em altas vozes “eu quero morrer”.
Não foi fácil contê-lo no seu desespero e reconduzir sua humilde genitora para dentro do teatro.
Para nós foi uma lição: apesar da tenra idade vimos um exemplo vivo do que pode resultar dos preconceitos de cor.
A construção do Teatro foi muito importante para a comunidade. Logo se transformou numa das poucas opções de lazer em Guarará. Ali se apresentaram artistas nacionais levando à população a possibilidade de assistir peças teatrais famosas na época como “Deus lhe Pague” de Juracy Camargo.
Com a participação de professoras e políticos locais, improvisados como atores apresentou-se também uma bela comédia intitulada “Não me conte esse Pedaço” de Jayme Costa, sobressaindo-se como atores principais o Coronel Afonso Leite e a minha professora do 4º. ano primário, a inesquecível D. Laurinha.
Mas o que mais agradou a plateia foi a apresentação da Mariinha, minha irmã, cantando a valsa “Última Inspiração” acompanhada ao violão pelo saudoso Tatão Pires. Tinha ela então seus 8 ou 9 anos de idade; aplaudida de pé a plateia só parou de se manifestar quando finalmente aceitaram os insistentes pedidos de bis. Mariinha tinha realmente uma voz de Soprano, impecavelmente afinada e de timbre mavioso. Infelizmente nunca estudou musica e seu talento foi apreciado apenas pelas pessoas mais íntimas.
Antes do Teatro pequenas peças teatrais eram encenadas no Grupo Escolar Ferreira Marques de Guarará. Ali eu representei o papel de Zequinha na engraçada comédia, “No Ano de 2000”, onde se previa - acertadamente por sinal - as mulheres substituindo os homens em todas as atividades; inclusive dentro de casa. Nesta eu apareci de sainha curta, estampada fazendo tricô, fato que me deu muitos problemas no relacionamento com os meninos na rua e na escola.
Resultou destas singelas experiências artisticas o desejo de esturar música seriamente. A pequena semente, que ali se plantou, germinou tão logo encontrou terreno fértil muitos anos depois nas minhas aventuras que vieram ocorrer na cidade do Rio de Janeiro.
Vejam agora a foto da minha bandinha.
Coorporação Musical "10 de Novembro" |
Ali se vê o regente, Sr. Otavio (isolado a esquerda do grupo), e os dois remanescentes da família Ferreira da Fonseca, (dois primeiros a partir da esquerda na coluna da frente): eu com meu saxhorne, o único sem o bibico pois que o detestava assim como também o uniforme caqui e o Elizio com seu trombone . Por razões que não me lembro não aparece o Vicente que batia o bombo tocado naquele dia pelo Sr. Otávio.
ALGUMAS FOTOS DO TEATRO
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