QUE TREM É ESSE...
Nas caminhadas históricas que fazemos pra dentro e pra fora, surgem coisas inusitadas, uma destas brindou-me com as mais latentes dúvidas, dúvidas e mais dúvidas, quando alguém, não me recordo quem, em uma conversa deixou escapar que Guarará foi, em certa época, servida por estrada férrea e trem...
Dúvidas e mais duvidas questionamentos interrogações, etc...
A pergunta insistente passou a ser então a seguinte: Houvera trem de ferro em Guarará???... Que houvera a Ferro Carril Guararense com seus mansos burros adestrados e compassivos, tracionando molemente uma caroça ou bond, e transportando sofregamente passageiros e cargas diversas que tinham como destino a estação da Estrada de Ferro Leopoldinense em Bicas, durante longos 20 minutos de trajeto entre uma cidade a outra, sim, de certo houvera... mas e o trem de ferro??? Existira ou não...
Não bastasse isso outra indagação de ordem técnica consistia no seguinte: Quanto à construção da Ferro Carril, não teria sido mais fácil, simples e menos oneroso enfiar aquela dita carroça com seus burros em uma estrada de chão batido, por isto mesmo chamada de leito carroçável, que construir algo perto de seis quilômetros de trilhos e dormentes pra servirem de trânsito à mesma carroça???
Ah! foram noites de sono perdidas, indagações e resposatas evasivas até que finalmente surgiu, despontou, floresceu a resposta, e veio ela da fonte mais fidedigna possível; refiro-me ao Almanach de F. S. Teixeira, o jornalista guararense, redator de a "Gazeta de Guarará", que não tinha papas na língua e (talvez???) por conta disso havia sido assassinado em 5 de setembro de 1901 (conforme publicado no "OPharol"), deixando uma viúva, Dona Zulmira Teixeira e filhos. No seu Almanach Teixeira diz o seguinte:
"...A Vila de Guarará, é ligada a Bicas por uma estrada de ferro, iniciada pelo agente executivo dr. Antero [Dutra de Moraes], em 1892, e acabada de construir pelo seu sucessor coronel José Ribeiro [de Oliveira e Silva].
Infelizmente, a falta de prática administrativa e conhecimentos técnicos, motivou irregularidades na compra do material rodante, destacando-se entre elas, deuniformidade do tamanho gigantesco dos wagons, para com a locomotiva, que é excessivamente mignon, caracterizando-se no ridículo ao primeiro golpe de vista do observador; parecendo mais um brinquedo de crianças do que outra coisa. Porém, que brinquedo, brinquedo de se gastarem duzentos contos, aproximadamente; isto é, não contando com os gastos com a demanda que moveu o capitão Jeronymo Mendes, á titulo de indenizaçâo, ao agente executivo coronel José Ribeiro, e com a indenização que a atual câmara efetuou ao mesmo, de quatorze contos.
Além de todas as despesas ocasionadas por esta malfadada estrada, acrescente-se-lhe a grave circunstância, que mal pode funcionar dez meses, achando-se paralisada até esta data.
Estas irregularidades de administração, que tanto prejudicaram o município, tiveram origem no plano mal concebido e desorientado do dr. Antero, porque está no domínio público e arquivado nos anais da camara municipal que o primeiro administrador do novo município, na qualidade de intendente, o exmo. sr. Barão de Catas Altas com o tino administrativo que todos lhe reconhecem, de comum acordo com seus dignos companheiros de administração, autorizou a garantia de seis por cento ou capital de sessenta contos de réis à empresa ao particular construísse a estrada por tração animada.
Felizmente, o sr. Alvaro Fernandes Dias, agente executivo atual, consultando os altos interesses do município e a comodidade pública de acordo com os seus dignos companheiros de administração, a compra de bonds e wagonets de carga e contratou com o cidadão Paschoal Lamoglia o serviço publico, a contar do 1º de Janeiro de 1899, em diante.
O material rodante da estrada guararense, aí está servindo de espantalho no barracão, imprestável e inútil aos cofres do município.
É sob a inteligente administração do sr. Alvaro Dias, que Guarará conta diversos melhoramentos...."
Tanto é que consta do Edital de Concorrência para a venda da Estrada de Ferro Guararense, o seguinte:
"De ordem do cidadão agente executivo, em exercício, por esta repartição se faz publico, para conhecimento dos interessados, que, de acordo com a Resolução n. 2 de 18 do corrente mês de maio, fica desde a presente data até o dia 19 de Junho próximo futuro, aberta concorrência pública para a venda da Estrada de Ferro Guararense (que se acha trafegando regularmente 4 Quilômetros - entre Bicas e Guarará -), todo seu material fixo e rodante e suas dependências.
As propostas serão recebidas mediante recibo, em qualquer dia até 19 de Junho do corrente ano, e serão entregues nesta secretaria em cartas fechadas e lacradas. A abertura das propostas terá lugar no referido dia 19 de Junho, ao meio dia. A Câmara Municipal concede privilégio de zona para a linha atual e para o seu prolongamento a Maripá, e bem assim o direito de desapropriação para o dito prolongamento.
Os concorrentes serão obrigados a depositar na tesouraria da Câmara Municipal a quantia de um conto de réis para garantia da assinatura da escritura, juntando à proposta certificado do tesoureiro de haverem cumprido esta cláusula. O concorrente preferido, se deixar de assinar a escritura no prazo de 8 dias, contados da data da aceitação de sua proposta."
Secretaria da agência executiva da Câmara Municipal do Espirito Santo do Guarará,
19 de maio de 1897
João Alves de Lima Vianna, Secretário.
Jornal "Correio de Minas", ANNO IV, N. 141, pg 2
Juiz de Fora, sábado, 19 de junho de 1897.
Com isso ficou respondida minha dúvida cruel; o bond da Ferro Carril fora comprado (ou construído) para uma malha de trilhos já pré-existentes e não ao contrário.
A Ferro Carril pretendia ampliar as suas atividades, de um percurso muito curto e, (talvez?) pouco rentável, tinha planos futuros de ampliar seus serviços, chegando com seus burros à Maripá...
"O Dr Pestana de Aguiar e Castro traará da construção de uma
linha de bond, que da estação de Bicas vá até à Vila de Guarará e mais tarde à povoação de Maripá. Para isso pretende fundar uma companhia."
"...Pela Lei 2.224 de 1876 foi autorizada a construção de uma estrada de ferro de bitola estreita que, partindo da estação da Serraria, na estrada de ferro D. Pedro II, e seguindo o Formoso, fosse ter à povoação do Espirito Santo do Mar de Hespanha (Guarará) e de um ramal, que do ponto mais conveniente desta estrada fosse levado ao Mar de Hespanha. Em virtude desta lei foi celebrado o contrato de 13 de Julho de I876; desde logo a companhia União Mineira começou a sofismar a disposição da lei e a faltar à fé do contrato, não o cumprindo.
A FERRO CARRIL TINHA + PLANOS
A Ferro Carril pretendia ampliar as suas atividades, de um percurso muito curto e, (talvez?) pouco rentável, tinha planos futuros de ampliar seus serviços, chegando com seus burros à Maripá...
"O Dr Pestana de Aguiar e Castro traará da construção de uma
linha de bond, que da estação de Bicas vá até à Vila de Guarará e mais tarde à povoação de Maripá. Para isso pretende fundar uma companhia."
Jornal "Minas Gerais" ANNO I, N. 102
Ouro Preto, quinta-feira, 04 de agosto de 1892
OS PROBLEMAS JÁ VINHAM DE LONGE
E ERAM MAIORES
E ERAM MAIORES
Os planos que tinha o governo para trazer o trem de ferro à Guarará, na época chamada Espírito Santo do Mar de Espanha, eram maiores que ligá-la à Bicas, pretendiam integrar a região ao ramal que partia da estação de Serraria. Mas....
"...Pela Lei 2.224 de 1876 foi autorizada a construção de uma estrada de ferro de bitola estreita que, partindo da estação da Serraria, na estrada de ferro D. Pedro II, e seguindo o Formoso, fosse ter à povoação do Espirito Santo do Mar de Hespanha (Guarará) e de um ramal, que do ponto mais conveniente desta estrada fosse levado ao Mar de Hespanha. Em virtude desta lei foi celebrado o contrato de 13 de Julho de I876; desde logo a companhia União Mineira começou a sofismar a disposição da lei e a faltar à fé do contrato, não o cumprindo.
Ou porque fosse o ramal financeiramente ruinoso para a província, ou porque fosse prejudicial à companhia, o que é certo é que ela não cumpriu o contrato..."
Jornal "A Próvincio de Minas", ANNO VIII, N. 452
Ouro Preto, 13 de agosto de 1887.
ESTRADA DE FERRO GUARARENSE
Baseado nos vários pedidos de compra e importação de equipamentos e materiais ferroviários, e mais ainda, nos dois pedidos feitos à Leopoldina para que esta concedesse uma interseção à sua estrada de ferro, fica claro que todo um leito de estrada de ferro ligando o Município de Guarará à Estrada de ferro Leopoldina no então distrito de Bicas fora construído. Porém, baseado nos pedidos de suspensão da entrega da locomotiva e de outros equipamentos, emitidos logo após a conclusão das obras, podemos deduzir que o projeto da estrada não foi bem sucedido. Podemos deduzir ainda, o que é curioso, que o bonde puxado a burro e que transitava entre Guarará e Bicas tenha sido a alternativa encontrada na época para se aproveitar do leito da Estrada de Ferro Guararense. Visando estender esta análise, o leitor pode recorrer ao texto e também tirar as suas próprias conclusões. Basta procurar no índice por “Estrada de Ferro Guararense”, nome da empresa, e por “Lidgerwood MF & Co. Limited”, empresa fornecedora de materiais ferroviários. Constatamos, através de pesquisa feita na Internet, que esta empresa, americana, foi fundada em 1805 e atua até os dias de hoje. Pesquisando outros documentos pudemos constatar que a Ferrovia funcionou no ano de 1897, por um período de apenas 10 meses.
Observações finais do
"Portarias e Ofícios da Câmara Municipal de Guarará - 1891-1895"
transcrição de Jânio J. Ferreira
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