terça-feira, 11 de setembro de 2012

Iº CENTENÁRIO DA REPÚBLICA EM GUARARÁ

A GRANDIOSA DATA DO 1.° SÉCULO DE
NOSSA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA

O povo, atendendo ao boletim-convite da Câmara
Municipal, compareceu às festividades, irmanado
em um único sentimento de
- entusiasmo cívico -

Dificilmente poderemos descrever,| talqualmente decorreram, as festividades promovidas pela Câmara Municipal e pelo povo, em honra da passagem do primeiro centenário da Independência do Brasil.
Iniciaram se, aqui, no dia 7, os festejos com uma salva de 21 tiros, á 1 hora, no alto de uma das colunas que circundam a nossa pitoresca Vila, anunciando a alvorada da tradicional e gloriosa data.
Às 5 horas, alvorada pela banda musical “Espiritosantense”, que percorreu a nossa “urbst”, ao estrugir de fogos, etc.
Às 11 horas,na Matriz,foi celebrada missa solene pelo Revdmo. Conego Ângelo Rezende, em homenagem ao grande acontecimento.
À 13 horas, a Câmara Municipal deu inicio a sessão comemorativa com o hasteamento da Bandeira, ouvindo se o Hino Nacional, falando eloquentemente o sr. cap. Aristides Leite, na qualidade de paraninfo do ato de Juramento á Bandeira, que fizeram os alunos do grupo escolar “Ferreira Marques”, formados em frente ao edifício municipal. O juramento proferiu-o, com garbo, a inteligente quartanista Serafina Rabelo. Os alunos entoaram, após, o Hino á Bandeira, no que foram auxiliados por diversas senhoritas da nossa sociedade.
Seguiu-se a sessão especial da nossa edilidade, no salão nobre das reuniões, que foi hábil e distintamente ornamentado, em cores nacionais. pelo inteligente jovem Newton Gribel.
Repleto o recinto do que de mais seleto tem a sociedade guararense, assumiu a presidência da sessão no caráter de presidente da Câmara, em exercício, o coronel Francisco de Paula Retto Júnior, a quem devemos a iniciativa das festividades a que se procediam, proferindo s. s. substancioso discurso sobre as solenidades e convidando para tomarem assento á mesa os senhores vereadores capitães Emídio Braz dos Santos, Luis Fabris, Cônego Ângelo Resende, cel. Vitor Belfort de Arantes e cap. José Vieira Camões.
Reunida assim a Câmara, o sr. Presidente declarou aberta a sessão especial, em com me mor ação à nossa Independência e transformou-a após em sessão cívica. Convidou para tomarem parte na mesa os seguintes senhores: o nosso redator-chefe, cap. Afonso Leite, na qualidade de chefe político deste município, de real e incontestável prestigio; cap. Antonio José da Costa Júnior, como juiz municipal, em exercício, do Termo; Dr. Carlos de Ouro Preto Pereira e professor Luis de Freitas Santos, como oradores oficiais das festividades: tte. Pedro Leite, como diretor desta folha; cap. Antero Soares e Afonso Bressane de Araújo, como tabeliães deste Termo: cap. Laudelino Rabelo de Vasconcelos, como tesoureiro da Câmara: Hermann Gribel, como secretario da Câmara; dr. Vicente Bianco, como inspetor Escolar Municipal; cap. Gustavo André Marcelino de Paula, como representante das industrias: cap. Apolinario Camões, como representante do comercio; cap. José Alfredo Garcia, Juiz de Paz, em exercício; major José Alvares de Oliveira Júnior, na qualidade de escrivão de Paz, da Vila; tte. Luis Maroco, como representante da agricultura; José | Domingos Ferreira, como representante do operariado, cap. Josino Ribeiro da Silva, adjunto do Promotor; cel. Arlindo Ribeiro, coletor federal, cap. Aristides Leite, como delegado de Policia: Felix Neira, como representante da “Gazeta Municipal”, e as exmas sras. d.d. Maria de Matos Camões, como representante da mulher brasileira, e Gabriela Alves Prado, como diretora do grupo escolar “Ferreira Marques”.
Organizada a mesa, o sr. cel. Retto Júnior convidou para dirigir os trabalhos ao prestigiosíssimo e querido chefe do P. R. M. de Guarará, cap. Afonso Leite, que, ao assumir a presidência, foi saudado por demoradas, vibrantes e acaloradas palmas da grande assistência, a cuja fidalguia o homenageado agradeceu sensibilizado, concedendo a palavra ao orador oficial, dr. Carlos de Ouro Preto. O discurso deste brilhante intelectual, que é incontestavelmente um dos mais belos talentos da atual geração de professores mineiros, foi uma página eloquente, onde, através de um estilo elevado, ao alcance de bem poucos, se (...) um histórico completo de todos os acontecimentos políticos do Brasil desde o seu descobrimento até aos nossos dias. Carlos de Ouro Preto, com uma fecundidade inexcedível de imaginação e vocabulário, de ideias e civismo, soube manter-se numa altura, digna da admiração e do apreço de que goza no meio intelectual de Minas o seu nome de escritor emérito e orador vibrante.
Depois de 50 minutos, entrou o orador na peroração, erguendo um hino de fé e amor á grandeza do Brasil. Uma demorada salva de palmas o aplaudiu entusiasticamente.
Em seguida, pediu a palavra o sr. presidente da Câmara em exercício cel. Retto Júnior, que pediu fosse consignado em ata um voto de louvor e agradecimento à comissão dos festejos, composta dos srs. caps. Afonso Leite, José Vieira Camões e Pedro Leite, pelo modo galhardo com que deu desempenho á sua missão. Falou, depois, o nosso talentoso diretor, cap. Pedro Leite, que solicitou fosse também consignado um voto de agradecimentos ao jovem Newton Gribel, que muito auxiliou à comissão.
Fala, novamente, o sr. cel. Retto Júnior, que pediu escusas pela omissão involuntária que cometera corrigindo esse lapso com grande satisfação. E continuando com a palavra propôs se estendesse também um voto de aplausos a um grupo de cavalheiros de Bicas que promoviam naquele distrito, tocantes festividades em comemoração à data. O sr. presidente da sessão, cap. Afonso Leite, submeteu á apreciação da assembleia esse pedido, que foi aprovado com uma salva de palmas.
Falou, após, o sr. dr. Vicente Bianco que, alegando-se membro da comissão promotora dos festejos cívicos de Bicas, convidava os membros da mesa e as pessoas presentes para assistirem às solenidades, e pedia à Câmara, ali reunida, desse, na ocasião oportuna, á praça, onde ia ser erguido o obelisco, o nome de praça do “Centenário, ou 7 de Setembro”, ou da “Independência”.
O sr. presidenta, da mesa agradeceu a gentileza do convite do dr. Bianco.
Falaram, a seguir, o Revmo. Cônego Resende e a menina Eunice de Oliveira, que pronunciaram mimosas palavras em saudação à nossa independência, sendo muito aplaudidos.
Ninguém mais usando da palavra, Afonso Leite encerrou aquela sessão solene com formoso discurso alusivo ao grande acontecimento do dia. A sua palavra, que é ouvida sempre com emoção e aplausos, arrebatou a assistência, empolgando-a mesmo por sua eloquência, entusiasmo, gesticulação sóbria e perfeita, dicção clara e correta. Não constituiu nenhuma surpresa o seu discurso incisivo, mas brilhante, porque Afonso já é conhecido em nossa roda intelectual como orador vibrante e jornalista emérito, possuidor de um estilo corrente e breve, duma linguagem fluente, emotiva e ao alcance de todas as inteligências, Terminou o orador a sua alocução, fazendo o elogio da educação popular, nesta hora em que o século de nação livre, e que se torna necessária a campanha pela cultura do povo.
Terminou propondo um voto de louvor ao exmo. sr. cel Retto Júnior, a quem se devia a iniciativa das festividades, e convidando a todos para assistirem, no jardim publico, á inauguração oficial do “Obelisco do Centenário”, que iria ali se levantar, graças ao ilustrado presidente da Câmara em exercício. As suas palavras foram delirante e longamente festejadas com palmas estrepitosas.
Tocou no salão a banda musical “Espiritosantense, que deu um cunho de extraordinário esplendor ás solenidades.
Terminada esta parte do programa oficial, seguiu-se á inauguração do OBELISCO
Reunido o povo no jardim, o sr. presidente da Câmara, ladeado dos srs. vereadores e autoridades do município, procedeu á solenidade da inauguração, entre palmas da assistência. A seguir foram depositadas, pelas pessoas presentes, objetos e preciosidades na urna do obelisco. Para falar sobre o ato, o cap. Afonso Leite, presidente da sessão, concedeu a palavra ao orador oficial, nosso companheiro professor Luiz de Freitas Santos, que discorreu cerca de 45 minutos sobre aquela homenagem histórica e secular. O orador foi muito felicitado, cantando, após, um grupo : de senhoritas da nossa sociedade o “Hino da Independência”.
Pelos alunos do grupo escolar foram plantadas duas “Arvores da Independência”: no jardim e no pátio do grupo escolar sendo, por essa ocasião, entoado “Hino da Árvore”.
E á tarde tiveram inicio as festas desportivas realizadas pelo “Ypiranga Foot-ball Club”, desta Vila, em homenagem ao dia.
Às 4 horas, galantes senhoritas da nossa sociedade, formadas em alas, e cantando o “Hino do Ipiranga;” puseram-se em caminho do “ground” desta sociedade desportiva. Chegadas á praça da peleja, onde se achavam os nossos “sportmen” preparados para o encontro com o “Pequiryense Foot-ball Club”, de São Pedro do Pequiry, resolveram fazer entrega solene da bandeira que, gentilmente mandaram confeccionar para ser oferecida ao “Ypiranga”. Em nome das homenageantes falou, bastante emocionada, em, ligeiras palavras, a gentil senhorita Ottilia Leite, agradecendo pelo “Ypiranga”, na qualidade de seu orador oficial, o nosso companheiro, prof. Luiz de Freitas, que discorreu sobre o gesto fidalgo das senhoritas guararenses e sobre a importância daquela oferta. Falou ainda a talentosa senhorita Filhinha Leite que, em rápidas, mas em eloquentes e gentis palavras, ofereceu ao “Pequiryense” um ramalhete de mimosas flores, sendo aí trocados muitos vivas.
Pouco depois, deu-se inicio á pugna, que, entre o entusiasmo da formidável assistência e a maestria dos combatentes de ambos os “clubs” que se defrontavam, terminou com o “score” de 0X0. Serviram de juízes, respetivamente no 1.º e 2.º tempos, os srs. Francisco Orlando e cap. Afonso Leite, que desempenharam, com imparcialidade e a contento geral, a sua espinhosa missão.
Tocou, durante a luta, a banda musical “Espiritosantense”.
À noite, na “Pensão Guararense”, foi oferecido ao “club” visitante opíparo jantar, durante o qual reinou, como nos demais atos, a mais franca cordialidade, a maior alegria e satisfação. Au dessert, levantou-se o nosso companheiro de redação prof. Luiz de Freitas Santos, que saudou ao “Pequiryense” e terminou oferecendo-lhe, em nome do “Ypiranga” aquele, jantar. Agradeceu a esse discurso o sr. orador do “Pequiryense”, Farm. Alcides Carneiro, que, depois de demorar em referencias aos dotes intelectuais do prof. Luiz de Freitas, terminou oferecendo ao digno presidente do “Ypiranga”, sr. Mario de Andrade, um “bouquet” de flores naturais, e ao “Club” uma lembrança de sua visita.
O sr. Mario de Andrade, em breves palavras, agradeceu a homenagem.
Tomou, depois, a palavra a interessante Aurora, querida filha adotiva do nosso prezado amigo Silvino Rodrigues, que recitou lindos versos, oferecendo ao cap. Afonso Leite, como “referee” do “Ypiranga,” um lindo “bouquet” de flores.
O nosso ilustrado redator e preclaro chefe politico deste município, cap. Afonso Leite, agradeceu, em belo discurso, aquela manifestação de simpatia e bondade, que vinha do coração meigo de uma criança, tão pura e mimosa como aquelas flores. Uma salva de palmas e vivas ouviram-se por todo o salão, onde acabavam de se encerrar, com brilhantismo, aqueles encantadores festejos esportivos.
Às 21 horas, teve inicio o pomposo BAILE.
Para essa reunião, promovida pelo escol social, cedeu, gentilmente o exmo. sr. dr. Arnaud Gribel, ilustrado juiz municipal deste Termo, o salão do Fórum, que ficou artisticamente ornamentado e feericamente iluminado.
As danças defluíram com entusiasmo e vivacidade, para o que muito concorreram a graça, o encanto e a gentileza das senhoritas da nossa melhor sociedade, bem como a maestria da harmoniosa orquestra, que se organizou.
Foram servidas finas bebidas Às pessoas presentes, saindo todos satisfeitos pela fraternidade que reinara no coração de todos. O baile terminou ás 2 horas.
E, assim foi condignamente comemorado nesta Vila o primeiro centenário da Independência do Brasil.
Também em Bicas e Maripá houve imponentes festejos, que oportunamente noticiaremos.

Jornal “O Guarará”, ANNO VI, N.° 164
Vila de Guarará, 10 de setembro de 1922


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