A
GRANDIOSA DATA DO 1.° SÉCULO DE
NOSSA
EMANCIPAÇÃO POLÍTICA
O
povo, atendendo ao boletim-convite da Câmara
Municipal,
compareceu às festividades, irmanado
em
um único sentimento de
-
entusiasmo cívico -
Dificilmente
poderemos descrever,| talqualmente decorreram, as festividades
promovidas pela Câmara Municipal e pelo povo, em honra da passagem
do primeiro centenário da Independência do Brasil.
Iniciaram
se, aqui, no dia 7, os festejos com uma salva de 21 tiros, á 1 hora,
no alto de uma das colunas que circundam a nossa pitoresca Vila,
anunciando a alvorada da tradicional e gloriosa data.
Às
5 horas, alvorada pela banda musical “Espiritosantense”, que
percorreu a nossa “urbst”, ao estrugir de fogos, etc.
Às
11 horas,na Matriz,foi celebrada missa solene pelo Revdmo. Conego
Ângelo Rezende, em homenagem ao grande acontecimento.
À
13 horas, a Câmara Municipal deu inicio a
sessão
comemorativa com o hasteamento da Bandeira, ouvindo se o Hino
Nacional, falando eloquentemente
o sr. cap. Aristides Leite, na qualidade de paraninfo do ato de
Juramento á Bandeira, que fizeram os alunos do grupo escolar
“Ferreira Marques”, formados em frente ao edifício municipal. O
juramento proferiu-o, com garbo, a inteligente quartanista Serafina
Rabelo. Os alunos entoaram, após, o Hino á Bandeira, no que foram
auxiliados por diversas senhoritas da nossa sociedade.
Seguiu-se
a sessão especial da nossa edilidade, no salão
nobre das reuniões, que foi hábil e distintamente ornamentado, em
cores nacionais. pelo inteligente jovem Newton Gribel.
Repleto
o recinto do que de mais seleto tem a sociedade guararense, assumiu a
presidência
da sessão no caráter
de presidente da Câmara, em exercício, o coronel Francisco de Paula
Retto Júnior, a quem devemos a iniciativa das festividades a que se
procediam, proferindo s. s. substancioso discurso sobre as
solenidades e convidando para tomarem assento á mesa os senhores
vereadores capitães Emídio Braz dos Santos, Luis Fabris, Cônego
Ângelo Resende, cel. Vitor Belfort de Arantes e cap. José Vieira
Camões.
Reunida
assim a Câmara, o sr. Presidente declarou aberta a sessão especial,
em com me mor ação à nossa Independência e transformou-a após em
sessão cívica. Convidou para tomarem parte na mesa os seguintes
senhores: o nosso redator-chefe, cap. Afonso Leite, na qualidade de
chefe político deste município, de real e incontestável prestigio;
cap. Antonio José da Costa Júnior, como juiz municipal, em
exercício, do Termo; Dr. Carlos de Ouro Preto Pereira e professor
Luis de Freitas Santos, como oradores oficiais das festividades: tte.
Pedro Leite, como diretor desta folha; cap. Antero Soares e Afonso
Bressane de Araújo, como tabeliães deste Termo: cap. Laudelino
Rabelo de Vasconcelos, como tesoureiro da Câmara: Hermann Gribel,
como secretario da Câmara; dr. Vicente Bianco, como inspetor Escolar
Municipal; cap. Gustavo André Marcelino de Paula, como representante
das industrias: cap. Apolinario Camões, como representante do
comercio; cap. José Alfredo Garcia, Juiz de Paz, em exercício;
major José Alvares de Oliveira Júnior, na qualidade de escrivão de
Paz, da Vila; tte. Luis Maroco, como representante da agricultura;
José | Domingos Ferreira, como representante do operariado, cap.
Josino Ribeiro da Silva, adjunto do Promotor; cel. Arlindo Ribeiro,
coletor federal, cap. Aristides Leite, como delegado de Policia:
Felix Neira, como representante da “Gazeta Municipal”, e as exmas
sras. d.d. Maria de Matos Camões, como representante da mulher
brasileira, e Gabriela Alves Prado, como diretora do grupo escolar
“Ferreira Marques”.
Organizada
a mesa, o sr. cel. Retto Júnior convidou para dirigir os trabalhos
ao prestigiosíssimo
e querido chefe do P. R. M. de Guarará, cap. Afonso Leite, que, ao
assumir a presidência, foi saudado por demoradas, vibrantes e
acaloradas palmas da grande assistência, a cuja fidalguia o
homenageado agradeceu sensibilizado, concedendo a palavra ao orador
oficial,
dr. Carlos de Ouro Preto. O discurso deste brilhante intelectual, que
é incontestavelmente um dos mais belos talentos da atual geração
de professores mineiros, foi uma página eloquente, onde, através de
um estilo elevado, ao alcance de bem poucos, se (...) um histórico
completo de todos os acontecimentos políticos do Brasil desde o seu
descobrimento até aos nossos dias. Carlos de Ouro Preto, com uma
fecundidade inexcedível de imaginação e vocabulário, de ideias e
civismo, soube manter-se numa altura, digna da admiração e do
apreço de que goza no meio intelectual de Minas o seu nome de
escritor emérito e orador vibrante.
Depois
de 50 minutos, entrou o orador na peroração, erguendo um hino de fé
e amor á grandeza do Brasil. Uma demorada salva de palmas o aplaudiu
entusiasticamente.
Em
seguida, pediu a palavra o sr. presidente da Câmara em exercício
cel. Retto Júnior, que pediu fosse consignado em ata um voto de
louvor e agradecimento à comissão dos festejos, composta dos srs.
caps. Afonso Leite, José Vieira Camões e Pedro Leite, pelo modo
galhardo com que deu desempenho á sua missão. Falou, depois, o
nosso talentoso diretor, cap. Pedro Leite, que solicitou fosse também
consignado um voto de agradecimentos ao jovem Newton Gribel, que
muito auxiliou à comissão.
Fala,
novamente, o sr. cel. Retto Júnior, que pediu escusas pela omissão
involuntária que cometera corrigindo esse lapso com grande
satisfação. E continuando com a palavra propôs se estendesse
também um voto de aplausos a um grupo de cavalheiros de Bicas que
promoviam naquele distrito, tocantes festividades em comemoração à
data. O sr. presidente da sessão, cap. Afonso Leite, submeteu á
apreciação da assembleia esse pedido, que foi aprovado com uma
salva de palmas.
Falou,
após, o sr. dr. Vicente Bianco que, alegando-se membro da comissão
promotora dos festejos cívicos de Bicas, convidava os membros da
mesa e as pessoas presentes para assistirem às solenidades, e pedia
à Câmara, ali reunida, desse, na ocasião oportuna, á praça, onde
ia ser erguido o obelisco, o nome de praça do “Centenário, ou 7
de Setembro”, ou da “Independência”.
O
sr. presidenta, da mesa agradeceu a gentileza do convite do dr.
Bianco.
Falaram,
a seguir, o Revmo. Cônego Resende e a menina Eunice de Oliveira, que
pronunciaram mimosas palavras em saudação à nossa independência,
sendo muito aplaudidos.
Ninguém
mais usando da palavra, Afonso Leite encerrou aquela sessão solene
com formoso discurso alusivo ao grande acontecimento do dia. A sua
palavra, que é ouvida sempre com emoção e aplausos, arrebatou a
assistência, empolgando-a mesmo por sua eloquência, entusiasmo,
gesticulação sóbria e perfeita, dicção clara e correta. Não
constituiu nenhuma surpresa o seu discurso incisivo, mas brilhante,
porque Afonso já é conhecido em nossa roda intelectual como orador
vibrante e jornalista emérito, possuidor de um estilo corrente e
breve, duma linguagem fluente, emotiva e ao alcance de todas as
inteligências, Terminou o orador a sua alocução, fazendo o elogio
da educação popular, nesta hora em que o século de nação
livre, e que se torna necessária a campanha pela cultura do povo.
Terminou
propondo um voto de louvor ao exmo. sr. cel Retto Júnior, a quem se
devia a iniciativa das festividades, e convidando a todos para
assistirem, no jardim publico, á inauguração oficial do “Obelisco
do Centenário”, que iria ali se levantar, graças ao ilustrado
presidente da Câmara em exercício. As suas palavras foram delirante
e longamente festejadas com palmas estrepitosas.
Tocou
no salão a banda musical “Espiritosantense, que deu um cunho de
extraordinário esplendor ás solenidades.
Terminada
esta parte do programa oficial, seguiu-se á inauguração do
OBELISCO
Reunido
o povo no jardim, o sr. presidente da Câmara, ladeado dos srs.
vereadores e autoridades do município, procedeu á solenidade da
inauguração, entre palmas da assistência. A seguir foram
depositadas, pelas pessoas presentes, objetos e preciosidades na urna
do obelisco. Para falar sobre o ato, o cap. Afonso Leite, presidente
da sessão, concedeu a palavra ao orador oficial, nosso companheiro
professor Luiz de Freitas Santos, que discorreu cerca de 45 minutos
sobre aquela homenagem histórica e secular. O orador foi muito
felicitado, cantando, após, um grupo : de senhoritas da nossa
sociedade o “Hino da Independência”.
Pelos
alunos do grupo escolar foram plantadas duas “Arvores da
Independência”: no jardim e no pátio do grupo escolar sendo, por
essa ocasião, entoado “Hino da Árvore”.
E
á tarde tiveram inicio as festas desportivas realizadas pelo
“Ypiranga Foot-ball Club”, desta Vila, em homenagem ao dia.
Às
4 horas, galantes senhoritas da nossa sociedade, formadas em alas, e
cantando o “Hino do Ipiranga;” puseram-se em caminho do “ground”
desta sociedade desportiva. Chegadas á praça da peleja, onde se
achavam os nossos “sportmen”
preparados para o encontro com o “Pequiryense Foot-ball Club”, de
São Pedro do Pequiry, resolveram fazer entrega solene da bandeira
que, gentilmente mandaram confeccionar para ser oferecida ao
“Ypiranga”. Em nome das homenageantes falou, bastante emocionada,
em, ligeiras palavras, a gentil senhorita Ottilia Leite, agradecendo
pelo “Ypiranga”, na qualidade de seu orador oficial, o nosso
companheiro, prof. Luiz de Freitas, que discorreu sobre o gesto
fidalgo das senhoritas guararenses e sobre a importância daquela
oferta. Falou ainda a talentosa senhorita Filhinha Leite que, em
rápidas, mas em eloquentes e gentis palavras, ofereceu ao
“Pequiryense” um ramalhete de mimosas flores, sendo aí trocados
muitos vivas.
Pouco
depois, deu-se inicio á pugna, que, entre o entusiasmo da formidável
assistência e a maestria dos combatentes de ambos os “clubs” que
se defrontavam, terminou com o “score” de 0X0. Serviram de
juízes, respetivamente no 1.º e 2.º tempos, os srs. Francisco
Orlando e cap. Afonso Leite, que desempenharam, com imparcialidade e
a contento geral, a sua espinhosa missão.
Tocou,
durante a luta, a banda musical “Espiritosantense”.
À
noite, na “Pensão Guararense”, foi oferecido ao “club”
visitante opíparo jantar, durante o qual reinou, como nos demais
atos, a mais franca cordialidade, a maior alegria e satisfação. Au
dessert,
levantou-se o nosso companheiro de redação prof. Luiz de Freitas
Santos, que saudou ao “Pequiryense” e terminou oferecendo-lhe, em
nome do “Ypiranga”
aquele, jantar. Agradeceu a esse discurso o sr. orador do
“Pequiryense”, Farm. Alcides Carneiro, que, depois de demorar em
referencias aos dotes intelectuais do prof. Luiz de Freitas, terminou
oferecendo ao digno presidente do “Ypiranga”, sr. Mario de
Andrade, um “bouquet”
de flores naturais, e ao “Club” uma lembrança de sua visita.
O
sr. Mario de Andrade, em breves palavras, agradeceu a homenagem.
Tomou,
depois, a palavra a interessante Aurora, querida filha adotiva do
nosso prezado amigo Silvino Rodrigues, que recitou lindos versos,
oferecendo ao cap. Afonso Leite, como “referee”
do “Ypiranga,”
um lindo “bouquet”
de flores.
O
nosso ilustrado redator e preclaro chefe politico deste município,
cap. Afonso Leite, agradeceu, em belo discurso, aquela manifestação
de simpatia e bondade, que vinha do coração meigo de uma criança,
tão pura e mimosa como aquelas flores. Uma salva de palmas e vivas
ouviram-se por todo o salão, onde acabavam de se encerrar, com
brilhantismo, aqueles encantadores festejos esportivos.
Às
21 horas, teve inicio o pomposo BAILE.
Para
essa reunião, promovida pelo escol social, cedeu, gentilmente o
exmo. sr. dr. Arnaud Gribel, ilustrado juiz municipal deste Termo, o
salão do Fórum, que ficou artisticamente ornamentado e feericamente
iluminado.
As
danças defluíram com entusiasmo e vivacidade, para o que muito
concorreram a graça, o encanto e a gentileza das senhoritas da nossa
melhor sociedade, bem como a maestria da harmoniosa orquestra, que se
organizou.
Foram
servidas finas bebidas Às pessoas presentes, saindo todos
satisfeitos pela fraternidade que reinara no coração de todos. O
baile terminou ás 2 horas.
E,
assim foi condignamente comemorado nesta Vila o primeiro centenário
da Independência do Brasil.
—
Também
em Bicas e Maripá houve imponentes festejos, que oportunamente
noticiaremos.
Jornal
“O Guarará”, ANNO VI, N.° 164
Vila
de Guarará, 10 de setembro de 1922
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