Era uma linda tarde de Junho. Aos solavancos de um ônibus de longo
percurso retornava eu à minha terra querida! Bicas. Havia deixado
esse rincão quase há 10 anos e durante esse longo período de
ausência não tive noticia do lugar onde pela vez primeira vi a luz
solar.
Mas... quando o pesado veículo deixou para trás o sitio do "Cueio",
galgando o cume da montanha, começou a descer para a cidade... meus
olhos ficaram maravilhados. De relance pensei não ser Bicas. Era
outra. Logo na entrada onde deixei pasto, sapezal e samambaia vi uma
nova cidade coalhada de casas modernas e ruas novas.
Tinha mudado radicalmente a minha Terra. O ônibus não dava mais
solavancos. Da rua Santa Tereza até a antiga rua do bonde, nas
divisas com Guarará, havia um bom calçamento de paralelepípedos...
A antiga rua 15 estava toda calçada. A praça S. José estava um
mimo. Calçada cuidadosamente, com ótimos passeios, tinha perdido
seu velho aspecto de cemitério porque os proprietários ali vendo a
boa vontade e a operosidade da administração, haviam melhorado o
aspecto e o tamanho de seus imóveis. A antiga reta, a mais bela
avenida de Bicas, tinha sido retificada no seu leito, havia passeios
de A antiga reta, a mais bela avenida de Bicas tinha sido retificada,
de "ponta a ponta" e começava a ser calçada... As águas
pluviais que desciam dos morros não atravessavam mais as ruas da
cidade e nem se empossavam. Logo que começavam a escorrer apanhavam
facilmente as valetas laterais aos meios-fios e desapareciam
misteriosamente em grandes ralos...
Dez anos depois, Bicas estava radicalmente transformada, graças ao
esforço de seu povo e de seus administradores que deixavam de se
preocupar com seus interesses particulares e com a politicagem para
só ver à frente seus deveres de administradores amantes do bem
coletivo.
Apeei numa ótima estação ferroviária. Atravessei a linha por uma
passagem aérea. Assisti sessões em dois ótimos cinemas. Assisti,
também, um espetáculo no teatro municipal (um antigo prédio do
ex-conselho distrital, depois adaptado pata teatro, câmara e fórum
do povo de Bicas, que o Estado a pedido dos administradores locais
devolveu aos habitantes desta cidade).
Um grande e lindo prédio de 3 andares embelezava a rua Coronel
Souza, doação feita à cidade por um de seus filhos residente em
Petrópolis. Nesse prédio havia de tudo: hotel, cinema, estação
rodoviária, armarinhos, papelaria, etc. Tudo isso graças aos
esforços do chefe local que "não dorme no ponto" quando
há perspectiva de progresso para a cidade...
Eu estava maravilhado com o progresso de minha terra. Na praça S.
José vi um novo grupo escolar. Na "Reta", no seu próprio
terreno, vi também o Tiro 505 fazendo exercícios de tiro real... Vi
também um ótimo posto de higiene instalado há 2 anos. Duas
fábricas de tecidos. Capitalistas de fora haviam escolhido minha
terra para empatarem os seus capitais em diversas indústrias.
Diversas linhas de ônibus serviam- aos biquenses. No começo eram
elas estimuladas com subvenções oficiais para não fracassarem logo
de início.
Numa de suas praças havia uma grande fogueira. Soltavam bombas
"«cabeça de negro"... Acordei violentamente com os
estampidos... mas creio que vou dormir novamente e continuar esse
maravilhoso sonho...
J. GARRUCHA
Jornal "O Biquense" ANO 2, N.66, Bicas, 04
de outubro de 1953
Jornal "O Biquense" ANO 2, N.67, Bicas, 11
de outubro de 1953
IMPRESSÃO DE FORASTEIRO
Quando, há mais de doze anos, vinha eu a esta cidade pela primeira
vez, trazia comigo algum conhecimento sobre ela e o desejo de lhe
devotar afeição.
Lembro-me que do Rio até aqui, mesmo em "limousine"
levou-se quase 7 horas, pois que a chuva ininterrupta desde
Petrópolis não oferecia visibilidade além de 2 metros. Fiquei no
Bicas Hotel. A natural curiosidade me fez abrir a janela: mal se
podia ler o nome do Bar Memphis...
Ainda em viagem ouvira falar no proprietário da Farmácia Popular.
Tentando iludir a monotonia, inquiri se o farmacêutico era parente
do Valentim Bouças. Respondeu-me o companheiro, futuro engenheiro,
que; "Não. Este é Possas...". Morreu a conversa; mais
tarde nascia um amigo.
Desse tempo para cá, tenho voltado a esta terra, onde está a minha
segunda família, a espaços de tempo ditados pela minhas obrigações.
Quando aqui retorno, de visita em visita, de comentário em
comentário, de pergunta em pergunta, auscultando sempre e sempre
interessado, vou me certificando da vida de Bicas. Esta rua que fica
aqui ao lado da nossa casa, por exemplo, não existia. Era apenas uma
bela posse, nada mais. Hoje tem nome e enfeita-se de bonitas
residências. E à esquina da praça um edifício se está erguendo.
Como a rua Emil Farhat, o bairro de Santana, o Fórum, o
bairro operário, edifícios, as praças de esportes do Sport
e do Leopoldina, mais ruas calçadas, etc., para citar alguns dos
empreendimentos.
A praça São José, se melhorou em ser pavimentada, perdeu o
jardinzinho que a coloria, e identificava. Mas sabe-se que é uma
situação transitória e certamente em pouco a nova praça, bela e
ajardinada, será a alegria das crianças, o motivo dos namorados e o
orgulho de todos nós.
Nesta minha estada, entretanto, o que me levou ao entusiasmo, talvez
insuflado pela profissão que abracei ou mais ainda pelo amor e
respeito ao próximo, sobretudo se é doente e pobre, foi a visita ao
Hospital.
Conheci-o há tempos e tristemente contemplei sua condição. Hoje
mentalidades evoluídas, mãos honestas e bem formados corações
metamorfosearam o casarão colonial em um ambiente de sadia
administração, ordem e bom gosto. Disseram-me que as rendas
aumentaram, as irmãs de caridade voltarão e que a boa vontade é
crescente.
Quem assim agiu, fê-lo para o bem, guiado pelo bem. Não precisam de
elogios, nem o seu Diretor, colega a quem admiro.
Fiquei tão satisfeito e comovido que ia dar-me os parabéns quando
refleti que eles pertencem ao povo laborioso desta Cidade.
Raymundo de Mendonça Dias.
Jornal "Tribuna de Bicas", Ano 2, N. 24 -
Bicas, 24 de julho de 1960
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