terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

BICAS NA DÉCADA DE 50

Era uma linda tarde de Junho. Aos solavancos de um ônibus de longo percurso retornava eu à minha terra querida! Bicas. Havia deixado esse rincão quase há 10 anos e durante esse longo período de ausência não tive noticia do lugar onde pela vez primeira vi a luz solar.
Mas... quando o pesado veículo deixou para trás o sitio do "Cueio", galgando o cume da montanha, começou a descer para a cidade... meus olhos ficaram maravilhados. De relance pensei não ser Bicas. Era outra. Logo na entrada onde deixei pasto, sapezal e samambaia vi uma nova cidade coalhada de casas modernas e ruas novas.
Tinha mudado radicalmente a minha Terra. O ônibus não dava mais solavancos. Da rua Santa Tereza até a antiga rua do bonde, nas divisas com Guarará, havia um bom calçamento de paralelepípedos... A antiga rua 15 estava toda calçada. A praça S. José estava um mimo. Calçada cuidadosamente, com ótimos passeios, tinha perdido seu velho aspecto de cemitério porque os proprietários ali vendo a boa vontade e a operosidade da administração, haviam melhorado o aspecto e o tamanho de seus imóveis. A antiga reta, a mais bela avenida de Bicas, tinha sido retificada no seu leito, havia passeios de A antiga reta, a mais bela avenida de Bicas tinha sido retificada, de "ponta a ponta" e começava a ser calçada... As águas pluviais que desciam dos morros não atravessavam mais as ruas da cidade e nem se empossavam. Logo que começavam a escorrer apanhavam facilmente as valetas laterais aos meios-fios e desapareciam misteriosamente em grandes ralos...
Dez anos depois, Bicas estava radicalmente transformada, graças ao esforço de seu povo e de seus administradores que deixavam de se preocupar com seus interesses particulares e com a politicagem para só ver à frente seus deveres de administradores amantes do bem coletivo.
Apeei numa ótima estação ferroviária. Atravessei a linha por uma passagem aérea. Assisti sessões em dois ótimos cinemas. Assisti, também, um espetáculo no teatro municipal (um antigo prédio do ex-conselho distrital, depois adaptado pata teatro, câmara e fórum do povo de Bicas, que o Estado a pedido dos administradores locais devolveu aos habitantes desta cidade).
Um grande e lindo prédio de 3 andares embelezava a rua Coronel Souza, doação feita à cidade por um de seus filhos residente em Petrópolis. Nesse prédio havia de tudo: hotel, cinema, estação rodoviária, armarinhos, papelaria, etc. Tudo isso graças aos esforços do chefe local que "não dorme no ponto" quando há perspectiva de progresso para a cidade...
Eu estava maravilhado com o progresso de minha terra. Na praça S. José vi um novo grupo escolar. Na "Reta", no seu próprio terreno, vi também o Tiro 505 fazendo exercícios de tiro real... Vi também um ótimo posto de higiene instalado há 2 anos. Duas fábricas de tecidos. Capitalistas de fora haviam escolhido minha terra para empatarem os seus capitais em diversas indústrias. Diversas linhas de ônibus serviam- aos biquenses. No começo eram elas estimuladas com subvenções oficiais para não fracassarem logo de início.
Numa de suas praças havia uma grande fogueira. Soltavam bombas "«cabeça de negro"... Acordei violentamente com os estampidos... mas creio que vou dormir novamente e continuar esse maravilhoso sonho...
J. GARRUCHA

Jornal "O Biquense" ANO 2, N.66, Bicas, 04 de outubro de 1953
Jornal "O Biquense" ANO 2, N.67, Bicas, 11 de outubro de 1953


IMPRESSÃO DE FORASTEIRO

Quando, há mais de doze anos, vinha eu a esta cidade pela primeira vez, trazia comigo algum conhecimento sobre ela e o desejo de lhe devotar afeição.
Lembro-me que do Rio até aqui, mesmo em "limousine" levou-se quase 7 horas, pois que a chuva ininterrupta desde Petrópolis não oferecia visibilidade além de 2 metros. Fiquei no Bicas Hotel. A natural curiosidade me fez abrir a janela: mal se podia ler o nome do Bar Memphis...
Ainda em viagem ouvira falar no proprietário da Farmácia Popular. Tentando iludir a monotonia, inquiri se o farmacêutico era parente do Valentim Bouças. Respondeu-me o companheiro, futuro engenheiro, que; "Não. Este é Possas...". Morreu a conversa; mais tarde nascia um amigo.
Desse tempo para cá, tenho voltado a esta terra, onde está a minha segunda família, a espaços de tempo ditados pela minhas obrigações.
Quando aqui retorno, de visita em visita, de comentário em comentário, de pergunta em pergunta, auscultando sempre e sempre interessado, vou me certificando da vida de Bicas. Esta rua que fica aqui ao lado da nossa casa, por exemplo, não existia. Era apenas uma bela posse, nada mais. Hoje tem nome e enfeita-se de bonitas residências. E à esquina da praça um edifício se está erguendo.
Como a rua Emil Farhat, o bairro de Santana, o Fórum, o bairro operário, edifícios, as praças de esportes do Sport e do Leopoldina, mais ruas calçadas, etc., para citar alguns dos empreendimentos.
A praça São José, se melhorou em ser pavimentada, perdeu o jardinzinho que a coloria, e identificava. Mas sabe-se que é uma situação transitória e certamente em pouco a nova praça, bela e ajardinada, será a alegria das crianças, o motivo dos namorados e o orgulho de todos nós.
Nesta minha estada, entretanto, o que me levou ao entusiasmo, talvez insuflado pela profissão que abracei ou mais ainda pelo amor e respeito ao próximo, sobretudo se é doente e pobre, foi a visita ao Hospital.
Conheci-o há tempos e tristemente contemplei sua condição. Hoje mentalidades evoluídas, mãos honestas e bem formados corações metamorfosearam o casarão colonial em um ambiente de sadia administração, ordem e bom gosto. Disseram-me que as rendas aumentaram, as irmãs de caridade voltarão e que a boa vontade é crescente.
Quem assim agiu, fê-lo para o bem, guiado pelo bem. Não precisam de elogios, nem o seu Diretor, colega a quem admiro.
Fiquei tão satisfeito e comovido que ia dar-me os parabéns quando refleti que eles pertencem ao povo laborioso desta Cidade.

Raymundo de Mendonça Dias.

Jornal "Tribuna de Bicas", Ano 2, N. 24 - Bicas, 24 de julho de 1960

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