FANTASIA
Dificilmente encontrará refrigério a dor intensa que
me abriste na alma... Viverei de tua saudade, porque carregarei
eternamente no espírito o cadáver das minhas ilusões. Mentiste à
tua consciência e incineraste a minha crença. O teu nome, que tanto
tempo me cantou nos lábios, aflora hoje em outro coração. Do teu
abandono resta-me, na solidão e no delírio, o desespero do teu
perjúrio.
Tens a cabeça louca das crianças; e, como as
borboletas, em pleno frescor de setembro, vais de flor em flor, asas
batendo, à procura da vida, do gozo, dos esplendores que não
encontraste em mim, onde só existe um coração para amar-te, uma
alma para querer-te, um espírito para defender-te...
Vai, e quando o inverno chegar, ai de ti... borboleta
louca! arrebatada pela desgraça do tempo e do destino, não ficando
a tua alma despedaçada mais que arrependimento da tua loucura, o
remorso da tua deslealdade, o frangalho das tuas esperanças, a
convicção de que só o Amor é sublime na Vida, só o Amor é
verdade, é luz, é redenção...
Vai... cumpre teu destino!
Ivaí
de Carvalho
Jornal "O
Guarará", ANNO VI, N.º 267
Guarará, 7
de agosto de 1924
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