sábado, 14 de setembro de 2013

FANTASIA

FANTASIA

Dificilmente encontrará refrigério a dor intensa que me abriste na alma... Viverei de tua saudade, porque carregarei eternamente no espírito o cadáver das minhas ilusões. Mentiste à tua consciência e incineraste a minha crença. O teu nome, que tanto tempo me cantou nos lábios, aflora hoje em outro coração. Do teu abandono resta-me, na solidão e no delírio, o desespero do teu perjúrio.
Tens a cabeça louca das crianças; e, como as borboletas, em pleno frescor de setembro, vais de flor em flor, asas batendo, à procura da vida, do gozo, dos esplendores que não encontraste em mim, onde só existe um coração para amar-te, uma alma para querer-te, um espírito para defender-te...
Vai, e quando o inverno chegar, ai de ti... borboleta louca! arrebatada pela desgraça do tempo e do destino, não ficando a tua alma despedaçada mais que arrependimento da tua loucura, o remorso da tua deslealdade, o frangalho das tuas esperanças, a convicção de que só o Amor é sublime na Vida, só o Amor é verdade, é luz, é redenção...
Vai... cumpre teu destino!
Ivaí de Carvalho

Jornal "O Guarará", ANNO VI, N.º 267

Guarará, 7 de agosto de 1924

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