sábado, 14 de setembro de 2013

REGISTRO LITERÁRIO XIV

REGISTRO LITERÁRIO XIV

CAVACOS
— Castanheira Filho
- Tip. Comercial,
São João Del-Rei - 1923.

Gentilmente oferecido pelo autor, temos sobre a mesa um exemplar da pequenina obra — "CAVACOS", da lavra do sr. Castanheira Filho.
Trata-se de um livrinho de contos, inspirados em fatos da sociedade hodierna.
Em cada uma das 144 páginas do "Cavacos", palpita um sentimento forte de verdade, que Castanheira Filho expõe e descreve com ironia e habilidade.
Os ligeiros contos, que são verdadeiras joias literárias, bem espiritualizam, traduzem e perfilam o nível de degenerescência moral, de depravação de costumes que atinge a sociedade de nossos dias.
Castanheira Filho, poeta. de nascimento, diz as coisas com a franqueza irônica, a naturalidade, a beleza de estilo e expressão, a simplicidade e a persuasão necessárias a todos quantos se animam a abordar tais assuntos. A linguagem do "CAVACOS", sobre ser elegante e escorreita, linguagem de poeta de escol, como o é seu autor, tem o poder de fascinar o espírito do leitor, tais a boa coordenação dos fatos, a clara exposição dos pensamentos, a singeleza do estilo, a verve fina e o fundo de psicologia que há em toda a interessante obra.
"Cavacos" é. pois, um livro, que resume um estudo perfeito das mais cômicas e das mais sérias transmutações da sociedade hodierna.
Para bem desenvolver seu ponto de observação e critica, Castanheira Filho tomou por alvo a mulher, porquanto neste ser misterioso se resume, de fato, as vitórias e os triunfos da vida humana.
A mulher, ninguém o contestará, é a razão de ser das graves meditações da alma; è a voz que impele para a luta e para o trabalho, para a esperança e para a vaidade, para a honra e para a glória; é o consolo e a desgraça, a grandeza e a queda da própria humanidade.
Ela, quem serve de termômetro para as temperaturas dos corações e dos espíritos, para as conquistas de toda natureza. Não fora a mulher o homem nada seria, nada desejaria ser. Não haveria o esplendor da moral, hoje tão achincalhado e vendido, nem tão pouco o vírus das corrupções, que ora avassala, enxovalha a sociedade. Assim, tudo vendo através deste prisma, Castanheira Filho nos dá páginas interessantes e reais sobre a mulher e a queda da beleza moral, que, em breve reformará, más reformará para o mal, a própria face da terra.
Continue Castanheira Filho a espalhar seu escárnio contra essa licenciosidade maligna; continue a escrever suas sátiras, em prosa castiça e singela, contra essa perversão de costumes, e oxalá que a metade de seus leitores o leia com a atenção e os aplausos a que faz jus...

1924. Luíz de Freitas

Jornal "O Guarará", ANNO VI, N.º 256

Guarará, 22 de Junho de 1924

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