REGISTRO LITERÁRIO XIV
CAVACOS
— Castanheira Filho
- Tip. Comercial,
São João Del-Rei - 1923.
Gentilmente oferecido pelo autor, temos sobre a mesa um
exemplar da pequenina obra — "CAVACOS", da lavra do sr.
Castanheira Filho.
Trata-se de um livrinho de contos, inspirados em fatos
da sociedade hodierna.
Em cada uma das 144 páginas do "Cavacos",
palpita um sentimento forte de verdade, que Castanheira Filho expõe
e descreve com ironia e habilidade.
Os ligeiros contos, que são verdadeiras joias
literárias, bem espiritualizam, traduzem e perfilam o nível de
degenerescência moral, de depravação de costumes que atinge a
sociedade de nossos dias.
Castanheira Filho, poeta. de nascimento, diz as coisas
com a franqueza irônica, a naturalidade, a beleza de estilo e
expressão, a simplicidade e a persuasão necessárias a todos
quantos se animam a abordar tais assuntos. A linguagem do "CAVACOS",
sobre ser elegante e escorreita, linguagem de poeta de escol, como o
é seu autor, tem o poder de fascinar o espírito do leitor, tais a
boa coordenação dos fatos, a clara exposição dos pensamentos, a
singeleza do estilo, a verve fina e o fundo de psicologia que há em
toda a interessante obra.
"Cavacos" é. pois, um livro, que resume um
estudo perfeito das mais cômicas e das mais sérias transmutações
da sociedade hodierna.
Para bem desenvolver seu ponto de observação e
critica, Castanheira Filho tomou por alvo a mulher, porquanto neste
ser misterioso se resume, de fato, as vitórias e os triunfos da vida
humana.
A mulher, ninguém o contestará, é a razão de ser das
graves meditações da alma; è a voz que impele para a luta e para o
trabalho, para a esperança e para a vaidade, para a honra e para a
glória; é o consolo e a desgraça, a grandeza e a queda da própria
humanidade.
Ela, quem serve de termômetro para as temperaturas dos
corações e dos espíritos, para as conquistas de toda natureza. Não
fora a mulher o homem nada seria, nada desejaria ser. Não haveria o
esplendor da moral, hoje tão achincalhado e vendido, nem tão pouco
o vírus das corrupções, que ora avassala, enxovalha a sociedade.
Assim, tudo vendo através deste prisma, Castanheira Filho nos dá
páginas interessantes e reais sobre a mulher e a queda da beleza
moral, que, em breve reformará, más reformará para o mal, a
própria face da terra.
Continue Castanheira Filho a espalhar seu escárnio
contra essa licenciosidade maligna; continue a escrever suas sátiras,
em prosa castiça e singela, contra essa perversão de costumes, e
oxalá que a metade de seus leitores o leia com a atenção e os
aplausos a que faz jus...
1924. Luíz
de Freitas
Jornal
"O Guarará", ANNO VI, N.º 256
Guarará,
22 de Junho de 1924







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