quinta-feira, 12 de setembro de 2013

UM ARTISTA

UM ARTISTA

Na velha e gloriosa Roma dos Césares, a pátria de todas as artes, onde brilharam em lampejos de gênio, os espíritos privilegiados de Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael as vocações artísticas mereceram sempre não só das classes médias da sociedade como dos poderosos do tempo, carinhoso interesse e generosa proteção.
Entre os grandes estimuladores das ciências das letras e das artes destacava-se Mecenas, o favorito de Augusto. Esse notável filantropo, não raro abria o tesouro da sua munificência aos eleitos da arte, estendendo-lhes a mão generosa e amiga para conduzi-los, muitas vezes, aos píncaros da perfeição e da glória.
Filhos ao povo, homens de origem humilde, que trouxeram do berço a marca do gênio e o estigma da miséria, se tornaram célebres, sob o benéfico patrocínio de Mecenas.
Esse altruístico movimento em prol das ciências, das letras e das artes, contribuiu, sobremaneira, para que a Cidade Eterna atingisse ao fastigio do poder, á extraordinária grandeza, fulgindo no galarim da fama e sobrepujando as demais metrópoles do tempo.
Imitemos, pois, o magnânimo Patrono dos artistas romanos, amparando, na medida de nossas forças, a mocidade patrícia, que deseja cultivar o intelecto, especializando-se no culto das artes.
Auxiliar as inteligências privilegiadas não é apenas praticar uma obra de caridade para com os nossos semelhantes necessitados; não é somente um gesto de bondade ou de filantropia, mas, sobretudo, um ato de verdadeiro patriotismo, por isso que o protegido de hoje pode ser amanhã um compatriota ilustre, um brasileiro, célebre, cujas conquistas e cujas glórias então já lhe não pertencerão apenas, mas constituirão um patrimônio da grande pátria comum.
Existe no nosso município um jovem pintor, para o qual devem voltar a sua benévola atenção todos quantos reconhecem e admiram as verdadeiras vocações artísticas.
Chama-se Ovídio de Azevedo o inspirado conterrâneo.
Alma afeita às concepções do belo, a sua palheta realiza primores. Simples diletantes, pois nunca recebeu lições, nem teve mestres, nem conheceu escolas, cultiva, por habilidade inata, variados gêneros de pintura.
O seu gênio artístico deve, pois, ser educado num ambiente propício, onde a sua vigorosa inspiração possa voar livremente, expandindo-se em criações maravilhosas. Mas Ovídio de Azevedo não dispõe de recursos materiais para estudar pinturas, num curso regular e perfeito.
Por isso, apelamos para o generoso povo guararense, para os nossos colegas de imprensa da vizinha cidade de Bicas, e para todos quantos reconhecem o seu real valor, no sentido de auxiliá-lo pecuniariamente facilitando-lhe os meios de se matricular na Escola de Belas Artes da Cidade do Rio de Janeiro.
Para a realização do formoso ideal desse esperançoso conterrâneo, abrimos hoje uma subscrição popular, achando-se o respectivo livro nesta redação ao dispor de quem quiser aderir à tão nobre quão justa iniciativa.

SUBSCRIPÇÃO A FAVOR DO PINTOR OVIDIO DE AZEVEDO
Redação do "O Guarará" ........ 100$000

Jornal "O Guarará", ANNO XI, N.º 520

Guarará, Estado de Minas, 12 de Janeiro de 1930

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