UM
ARTISTA
Na
velha e gloriosa Roma dos Césares, a pátria de todas as artes, onde
brilharam em lampejos de gênio, os espíritos privilegiados de
Michelangelo, Leonardo da Vinci e Rafael as vocações artísticas
mereceram sempre não só das classes médias da sociedade como dos
poderosos do tempo, carinhoso interesse e generosa proteção.
Entre
os grandes estimuladores das ciências das letras e das artes
destacava-se Mecenas, o favorito de Augusto. Esse notável
filantropo, não raro abria o tesouro da sua munificência aos
eleitos da arte, estendendo-lhes a mão generosa e amiga para
conduzi-los, muitas vezes, aos píncaros da perfeição e da glória.
Filhos
ao povo, homens de origem humilde, que trouxeram do berço a marca do
gênio e o estigma da miséria, se tornaram célebres, sob o benéfico
patrocínio de Mecenas.
Esse
altruístico movimento em prol das ciências, das letras e das artes,
contribuiu, sobremaneira, para que a Cidade Eterna atingisse ao
fastigio do poder, á extraordinária grandeza, fulgindo no galarim
da fama e sobrepujando as demais metrópoles do tempo.
Imitemos,
pois, o magnânimo Patrono dos artistas romanos, amparando, na medida
de nossas forças, a mocidade patrícia, que deseja cultivar o
intelecto, especializando-se no culto das artes.
Auxiliar
as inteligências privilegiadas não é apenas praticar uma obra de
caridade para com os nossos semelhantes necessitados; não é somente
um gesto de bondade ou de filantropia, mas, sobretudo, um ato de
verdadeiro patriotismo, por isso que o protegido de hoje pode ser
amanhã um compatriota ilustre, um brasileiro, célebre, cujas
conquistas e cujas glórias então já lhe não pertencerão apenas,
mas constituirão um patrimônio da grande pátria comum.
Existe
no nosso município um jovem pintor, para o qual devem voltar a sua
benévola atenção todos quantos reconhecem e admiram as verdadeiras
vocações artísticas.
Chama-se
Ovídio de Azevedo o inspirado conterrâneo.
Alma
afeita às concepções do belo, a sua palheta realiza primores.
Simples diletantes, pois nunca recebeu lições, nem teve mestres,
nem conheceu escolas, cultiva, por habilidade inata, variados gêneros
de pintura.
O
seu gênio artístico deve, pois, ser educado num ambiente propício,
onde a sua vigorosa inspiração possa voar livremente, expandindo-se
em criações maravilhosas. Mas Ovídio de Azevedo não dispõe de
recursos materiais para estudar pinturas, num curso regular e
perfeito.
Por
isso, apelamos para o generoso povo guararense, para os nossos
colegas de imprensa da vizinha cidade de Bicas, e para todos quantos
reconhecem o seu real valor, no sentido de auxiliá-lo
pecuniariamente facilitando-lhe os meios de se matricular na Escola
de Belas Artes da Cidade do Rio de Janeiro.
Para
a realização do formoso ideal desse esperançoso conterrâneo,
abrimos hoje uma subscrição popular, achando-se o respectivo livro
nesta redação ao dispor de quem quiser aderir à tão nobre quão
justa iniciativa.
SUBSCRIPÇÃO
A FAVOR DO PINTOR OVIDIO DE AZEVEDO
Redação
do "O Guarará" ........ 100$000
Jornal
"O Guarará", ANNO XI, N.º 520
Guarará,
Estado de Minas, 12 de Janeiro de 1930
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