sábado, 22 de dezembro de 2012

MARCO ZERO

MARCO ZERO

          A foto abaixo representa o marco zero do município de Guarará, MG, incrustado na Pça. do Divino no centro da pacata, tímida e acolhedora cidadezinha.
          Mas... O que de fato representa um  marco zero???  Se "Marco" significa marca, demarcação, "assinalação"; o "Zero" representa, ao mesmo tempo que “o inexistente”, “o inexpressivo“, representa também "o principio", "o início" e pode ainda representar “aquilo que havia antes de tudo” ou “o princípio do todo haver”, ou “o que havia quando nada era ainda existente” (nossa isso chega quase a ser bíblico). Mas... filosofias baratas postas de lado, o marco zero representa (mesmo que simbolicamente) o ponto geográfico e histórico onde tudo começou, onde se originou... Assim, foi aqui onde a cidade começou a sua vida e que, pela escassez de dados, de informações secundárias, terciárias, posteriores, etc... e até pela dificuldade em obtê-las, não é possível saber precisamente.
          O que se sabe é que não foi de certo onde aportaram os navios, as embarcações, nem nada disso, os índios já se tinham ido; eram eles os puris ou coroados e os capitães não eram de galeras ou capitães do mato, eram na verdade os ricaços da época (sesmeiros, grandes fazendeiros) e assim chamados como sinal de sua opulência, poderio e pelas vastas propriedades que detinham e esse era propriamente o caso de Domingos Ferreira Marques, titular da sesmaria no sertão do Rio Novo (a qual recebera em doação, em outubro de 1818) e que por vontade própria e de sua esposa, dona Feliciana Francisca Dias, dez anos depois (em 20 de julho de 1828), através de uma escritura, lavrada em Barbacena, na fazenda Bonsucesso (também de sua propriedade), doara uma extensa faixa de terras (40 alqueires) e que se tornaria a Guarará de hoje e um pouco do que a circunda. 
          Á época nada existe aqui senão o vazio e a ausência de qualquer coisa, foi aí então que "alguns indivíduos, residentes no "Corrego do Meio", hoje Maripá, cujos nomes não podemos obter, pretenderam criar aqui um Curato, mas para isso era necessário que houvesse patrimônio" (1) foi aí então que Ferreira Marques e esposa, grandes proprietários que eram, sensibilizados e acolhendo os apelos populares, concederam as terras que serviriam à capela e Curato e nomeou José Antonio de Oliveira, para gerir, ou seja vender, as terras não usadas pela igreja e cujo dinheiro seria empregado no aumento e conservação da mencionada Capela e "passar o escrito de venda e cobrar e empregar todo o rendimento nas obras da dita capela
          Se aqui não havia um só habitante e o Maripá já os possuía, como atesta o "ANNUÁRIO E MINAS", em sua pg. 453, porque tudo foi criado a partir daqui e não de lá, onde já existiam moradores???...
           Mas... voltando ao  marco zero, ele deverá ter sido (eu acho) o ponto onde Ferreira Marques pisou pela primeira, bateu o pé e disse: Vai ser aqui...
          A partir disso formou-se um curato e teve início a construção da capela a poucos metros do marco zero. O curato foi chamado de "Curato do Espírito Santo" e, ao redor deste marco inicial, foram construídas as primeiras residencias e, com isso, formou-se um povoado, cujos primeiros moradores, além de Domingos Ferreira Marques, contribuíram com isso tudo Gervásio Antonio da Silva PintoJosé Antônio de OliveiraJoão de Araújo Moreira, Maria VitóriaMaria Joana Ribeiro, comendador José Joaquim Monteiro de CastroJoão José Monteiro BastosJosé PiresJosé Ferreira MacielManoel José da SilvaFortunato Ribeiro e Felisberto Henrique de Souza. E, com o crescente desenvolvimento o arraial ganhou o nome de Espírito Santo de Mar de Espanha.
          Mas Ferreira Marques permaneceu por estas bandas, ele foi juntamente com Manoel Pires, José Ferreira da Fonseca e João Antonio Tostes Junior, os Juizes de Paz da localidade, o subdelegado era Antonio Alves Barbosa, o delegado vacinador era Jose Rodrigues Costa. 
          Àquela época a Câmara do Município de Mar de Hespanha era composta tinha a seguinte composição: Dr Francisco Infante Vieira, Capitão Domingos Eugênio Pereira, José Soares Valentim Vieira, José Rodrigues da Costa, Dr M J de C Monteiro Barros, Francisco de Paula Galdino Leite , José Gonçalves da Costa  João Lucianno Pereira e o médico vacinador era o Dr Francisco Baptista de Alvarenga...
          Domingos era um dos eleitores daqui, no ano de 1864, além dele fazeim parte do corpo eleitoral da Província, como Eleitores gerais, Tenente coronel Manoel José Pires, José Machado de Sant'Anna, Ancelmo Jose Machado, Antonio Alves Barbosa, Francisco Ferreira da Fonseca e como Eleitores especiaisDr Francisco Barboza Lage, Augusto José Gomes, Alexandre Augusto Gomes Valim, Cezario Dias Tostes, João Pires de Mendonça, Leopoldino Dutra de Moraes.
          Então como se vê Domingos Ferreira Marques não doou simplesmente as terras e depois fechou as janelas de sua casa e desapareceu... não... ele teve participação ativa nos acontecimentos públicos e sociais.

*-*-* 
          
         Assim se vê que o marco zero representa o ponto inicial de tudo, o alento inicial da vida de uma localidade e que não tem uma conotação meramente histórica ou geográfica ao contrário ele representa a referência, a certidão de nascimento, o primeiro hálito, o primeiro sopro de vida de um lugarejo. Em uma grande metrópole ele se perde da vista e perde a importância, chega a ser inexpressivo. Em uma cidade pequena ele se torna preponderante, até porque seu perguntado a algum cidadão de uma pequena cidade. 
          
          - Amigo, onde é o marco zero desta cidade?
          Ele dirá deste modo, talvez:
          - É logo ali, é só dobrar a esquina em frente...

          O  marco zero é o primeiro rabisco da identidade de um povo, o primeiro prenúncio ideológico e cultural. Um povo quando perde sua identidade e cultura, perde sua cidadania. A história, por sua vez, é feita de pessoas, de gente, (quase que completamente) de biografias. Ela nunca, jamais é feita de registros e sim de fatos. Os registros são a consequência dos fatos, apenas e, mesmo que todos os arquivos escritos e fotografados fossem apagados das páginas universais da humanidade, ainda assim a história seria a história e simplesmente porque, registrada ou não, ELA ACONTECEU... ela teve seu princípio, teve sua marca, seu ponto original de partida, seu ponta-pé inicial, seu MARCO e tudo isso a partir do mais absoluto ZERO.



Fontes de consulta e referência:
1 - ANNUARIO DE MINAS, edição de 1.913, pag 453
2 - Revista do Archivo Público Mineiro, edição para o ano de 1900. A pg 446 menciona Antonio Ferreira Marque e a 447 menciona Domingos Ferreira Marques.
3 - Almanak de Minas Gerais, 1864, 3ª parte, pg 34
4 - Que, conforme o livro de arrecadação fiscal, enviado pelo distrito da Piedade, no ano de 1875, exercia a profissão de sapateiro.

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