segunda-feira, 2 de julho de 2012

O VELHO GUARARÁ

O VELHO GUARARÁ
Recantos da Mata Mineira, Fued Farhat, pg 26, 27 e 28

Fued Farhat, em seu "Recantos da Mata Mineira", referindo-se a história antiga do Guarará, diz:

"A Vila cresceu mas estacionou nos primeiros decênios deste século. A freguesia do Curato do Divino do Espírito Santo, de 1828, criado com a doação de 40 alqueires de terras, feita por Domingos Ferreira Marques e sua mulher, Feliciana Francisca Dias, passou a chamar-se do Espírito Santo de Mar de Espanha, encurtada mais tarde para Guarará, distrito deste 1845. O Município foi emancipado em 05.12.1890, mas a então Vila foi instalada a 1° de fevereiro de 1891, na residência, em Guarará, do Barão de Catas Altas, compondo-se do distrito da sede, do de Bicas, que estava nascendo, e do de Maripá, o antigo "Córrego do Meio".
Conta Sebastião Gomes Baião, filho do dito Barão, que o nome Guarará foi sugerido por seu pai, em Ouro Preto, sede da Província, quando então foram lembrados os de SÓLON e BIAS, este numa homenagem ao então presidente Crispim Jacques Bias Fortes."

Depois emenda:

"Em 1916, segundo Roberto Capri, jornalista de origem italiana, a população da área desmembrada era superior a 22 mil habitantes. Exportava café em grão, cereais, leite e aves para o Rio. A Vila teve iluminação a gás em 1890 e rede elétrica, vinda de Juiz de Fora, em 1917. Com a perda, em 1923, do florescente distrito de Bicas, servido de ferrovia e oficinas, que levou consigo o distrito de Pequeri, então subordinado a Mar de Espanha, Guarará iniciou sua decadência, acelerada em 1962, com a independência do de Maripá, onde se situavam as maiores fazendas de café e cereais. Ficou reduzido a 91 km2., com uma população de três mil habitantes, figurando, desse modo, entre os menores do Estado. O prenúncio de sua decadência, no entanto, teve início no século passado com o advento das ferrovias, quando os proprietários rurais impediram que as linhas férreas cortassem suas terras a caminho da região conhecida por Extrema, fim da rua do Pito. Essa versão, todavia, é controvertida. Guarará, que foi termo judiciário em 1917, passou à jurisdição da Comarca de Bicas, após perder sua posição de Primeira Estância.
Nos anos vinte começou o grande êxodo, iniciado pelas famílias ligadas a empresas do comércio de café e cereais, estabelecidas em Bicas, seguido do desmantelamento da Ferro Carril Guararense, em 1898, dona do serviço de bondes, puxados a burros, que ligavam a cidade ao então distrito de Bicas, empresa deficitária em consequência da redução do tráfego, já inseguro e inconstante. Outras famílias partiram, em busca de mercado de trabalho. A cidade estacionou, muitas casas foram demolidas, cujo material era transportado para outras localidades. Tentativas várias foram feitas contra o êxodo. Guarará seria o celeiro hortifrutigranjeiro das cidades vizinhas, principalmente da de Juiz de Fora, dotado como era de pequenos sítios rurais bem servidos de aguadas. Criou-se até uma sociedade para explorar a fabricação da massa-de-tomate, com a cooperação financeira da população, mas não se cuidou do plantio suficiente do fruto, nem foi preparada uma equipe em condições de fazer a fábrica funcionar. O imóvel foi vendido para depósito de material a uma empresa particular."

E, neste mesmo ritmo, falando sobre o empreendedorismo, fala-nos:

"Outras iniciativas se seguiram, culturalmente, na construção de um teatro e de uma biblioteca. Ferroviários e famílias diversas mais modestas de Bicas mudaram-se para o Guarará, em busca de um aluguel mais barato, contudo, o transporte incerto e a ausência de atrativos, como o cinema, não permitiu que a idéia prosperasse.
O desânimo no entanto não aconteceu, pois a liderança política, nas mãos do Coronel Afonso Leite, não entrou em pânico. Guarará seria uma pequena comunidade limpa e silenciosa do meio rural, servida de excelente água magnesiana. O silêncio das ruas desertas convidava ao repouso e à leitura. Pouco importava se alguns moradores e comerciantes a deixassem. O domínio seria mais fácil. Contudo, as aparências teriam de ser salvas, razão das tentativas sem êxito, que serviram para não fazer crescer a onda dos descontentes. E tudo ficaria como dantes. Sem grandes retoques.
A praça hoje está enriquecida com o novo Ginásio local, ajardinado, obra das mãos carinhosas dos professores Irineu Guimarães e Antônio Carlos da Rocha. A cidade tornou a crescer. Contudo, o asfalto, como é natural, passa ao largo, a caminho de Maripá de Minas. Não se vê mais as valetas fundas e chanfradas, da rua principal, para as enxurradas. Tudo o mais, como foi visto antes, tranquilo e silencioso, à espera de um toque que o ponha em movimento. Os netos e os filhos de antigos moradores estão retornando, vindos da cidade grande. Ali é o repouso. O jardim, inaugurado em 1917, com alguns acertos, é o mesmo. Antes, a banda tocava no coreto central nos dias de festa, mormente mês de Maria. A Matriz ficava iluminada. Pelo número de foguetes que subia e estourava, a gente podia calcular a posse da família da menina que coroava. O leilão de prendas era no jardim. Os casais passeavam, as mães punham cadeiras nas calçadas. Mulheres do povo, de branco, saias compridas, lenço na cabeça, atrás dos cavaletes com tabuleiros, vendiam pastéis e cocadas. A quitanda do mestre Modesto, na esquina, vendia queijadinhas. Os herdeiros do mestre partiram no grande êxodo. No baú levaram a receita. O gosto talvez não seja o mesmo. Não figurou obviamente no inventário."

créditos à fonte de origem

0 comentários:

Postar um comentário