O
VELHO GUARARÁ
Recantos
da Mata Mineira, Fued Farhat, pg 26, 27 e 28
Fued Farhat, em seu "Recantos da Mata Mineira", referindo-se a história antiga do Guarará, diz:
"A
Vila cresceu mas estacionou nos primeiros decênios deste século. A
freguesia do Curato do Divino do Espírito Santo, de 1828, criado com
a doação de 40 alqueires de terras, feita por Domingos Ferreira
Marques e sua mulher, Feliciana Francisca Dias, passou a chamar-se do
Espírito Santo de Mar de Espanha, encurtada mais tarde para Guarará,
distrito deste 1845. O Município foi emancipado em 05.12.1890, mas a
então Vila foi instalada a 1° de fevereiro de 1891, na residência,
em Guarará, do Barão de Catas Altas, compondo-se do distrito da
sede, do de Bicas, que estava nascendo, e do de Maripá, o antigo
"Córrego do Meio".
Conta
Sebastião Gomes Baião, filho do dito Barão, que o nome Guarará
foi sugerido por seu pai, em Ouro Preto, sede da Província, quando
então foram lembrados os de SÓLON e BIAS, este numa homenagem ao
então presidente Crispim Jacques Bias Fortes."
Depois emenda:
"Em
1916, segundo Roberto Capri, jornalista de origem italiana, a
população da área desmembrada era superior a 22 mil habitantes.
Exportava café em grão, cereais, leite e aves para o Rio. A Vila
teve iluminação a gás em 1890 e rede elétrica, vinda de Juiz de
Fora, em 1917. Com a perda, em 1923, do florescente distrito de
Bicas, servido de ferrovia e oficinas, que levou consigo o distrito
de Pequeri, então subordinado a Mar de Espanha, Guarará iniciou sua
decadência, acelerada em 1962, com a independência do de Maripá,
onde se situavam as maiores fazendas de café e cereais. Ficou
reduzido a 91 km2., com uma população de três mil habitantes,
figurando, desse modo, entre os menores do Estado. O prenúncio de
sua decadência, no entanto, teve início no século passado com o
advento das ferrovias, quando os proprietários rurais impediram que
as linhas férreas cortassem suas terras a caminho da região
conhecida por Extrema, fim da rua do Pito. Essa versão, todavia, é
controvertida. Guarará, que foi termo judiciário em 1917, passou à
jurisdição da Comarca de Bicas, após perder sua posição de
Primeira Estância.
Nos
anos vinte começou o grande êxodo, iniciado pelas famílias ligadas
a empresas do comércio de café e cereais, estabelecidas em Bicas,
seguido do desmantelamento da Ferro Carril Guararense, em 1898, dona
do serviço de bondes, puxados a burros, que ligavam a cidade ao
então distrito de Bicas, empresa deficitária em consequência da
redução do tráfego, já inseguro e inconstante. Outras famílias
partiram, em busca de mercado de trabalho. A cidade estacionou,
muitas casas foram demolidas, cujo material era transportado para
outras localidades. Tentativas várias foram feitas contra o êxodo.
Guarará seria o celeiro hortifrutigranjeiro das cidades vizinhas,
principalmente da de Juiz de Fora, dotado como era de pequenos sítios
rurais bem servidos de aguadas. Criou-se até uma sociedade para
explorar a fabricação da massa-de-tomate, com a cooperação
financeira da população, mas não se cuidou do plantio suficiente
do fruto, nem foi preparada uma equipe em condições de fazer a
fábrica funcionar. O imóvel foi vendido para depósito de material
a uma empresa particular."
E, neste mesmo ritmo, falando sobre o empreendedorismo, fala-nos:
"Outras
iniciativas se seguiram, culturalmente, na construção de um teatro
e de uma biblioteca. Ferroviários e famílias diversas mais modestas
de Bicas mudaram-se para o Guarará, em busca de um aluguel mais
barato, contudo, o transporte incerto e a ausência de atrativos,
como o cinema, não permitiu que a idéia prosperasse.
O
desânimo no entanto não aconteceu, pois a liderança política, nas
mãos do Coronel Afonso Leite, não entrou em pânico. Guarará seria
uma pequena comunidade limpa e silenciosa do meio rural, servida de
excelente água magnesiana. O silêncio das ruas desertas convidava
ao repouso e à leitura. Pouco importava se alguns moradores e
comerciantes a deixassem. O domínio seria mais fácil. Contudo, as
aparências teriam de ser salvas, razão das tentativas sem êxito,
que serviram para não fazer crescer a onda dos descontentes. E tudo
ficaria como dantes. Sem grandes retoques.
A
praça hoje está enriquecida com o novo Ginásio local, ajardinado,
obra das mãos carinhosas dos professores Irineu Guimarães e Antônio
Carlos da Rocha. A cidade tornou a crescer. Contudo, o asfalto, como
é natural, passa ao largo, a caminho de Maripá de Minas. Não se vê
mais as valetas fundas e chanfradas, da rua principal, para as
enxurradas. Tudo o mais, como foi visto antes, tranquilo e
silencioso, à espera de um toque que o ponha em movimento. Os netos
e os filhos de antigos moradores estão retornando, vindos da cidade
grande. Ali é o repouso. O jardim, inaugurado em 1917, com alguns
acertos, é o mesmo. Antes, a banda tocava no coreto central nos dias
de festa, mormente mês de Maria. A Matriz ficava iluminada. Pelo
número de foguetes que subia e estourava, a gente podia calcular a
posse da família da menina que coroava. O leilão de prendas era no
jardim. Os casais passeavam, as mães punham cadeiras nas calçadas.
Mulheres do povo, de branco, saias compridas, lenço na cabeça,
atrás dos cavaletes com tabuleiros, vendiam pastéis e cocadas. A
quitanda do mestre Modesto, na esquina, vendia queijadinhas. Os
herdeiros do mestre partiram no grande êxodo. No baú levaram a
receita. O gosto talvez não seja o mesmo. Não figurou obviamente no
inventário."
créditos à fonte de origem
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