sexta-feira, 14 de setembro de 2012

DO MEU CANTO

DO MEU CANTO

No fundo de cada um de nós há um filósofo, sempre perscrutador, sempre ávido de saber o porquê dos fenômenos que nos cercam, em busca da Verdade.
Qualquer fato que observamos, nos acode sempre a pergunta: — por quê?
Sem ares de filósofo, entretanto, gastamos este prólogo serôdio, para meditar sobre o interessante e curioso fenômeno inexplicável que se observa na vida escolar desta Vila.
Na vigência da direção da ex-diretora (*) o grupo escolar local funcionou sem frequência legal, afirmando ela que Guarará não comportava um grupo, por deficiência de população escolar e que a matrícula e frequência das direções anteriores eram fraudulentas.
E com essa alegação, a ex-diretora chegou ao cúmulo de pedir ou sugerir ao Sr. Dr Secretário do Interior a supressão do ensino.
Essa notícia fatídica alarmou o espírito público, ameaçado pela maldade satânica.
Mas o coronel Afonso Leite, cujo devotamento cívico e patriótico pela causa da instrução é público e notório, deu golpe mortal na perversidade arquitetada, e em vez da supressão do grupo, o governo mandou executar as obras de construção do novo prédio escolar que, pela sua estética e solidez, será um dos mais suntuosos do Estado.
Enquanto a ex-diretora informava oficialmente ao Dr. Secretário do Interior que Guarará não dava para grupo, S. Excia. mandava contratar mais um professor - o talentoso acadêmico Hermann Gribel.
Agora, a primeira pergunta: Se a ex-diretora alega que não há população escolar para grupo e propõe a suspensão do ensino, porque esse gasto supérfluo com a edificação custosa do novo prédio?
Segunda pergunta: Se não há frequência legal, para que a nomeação do professor Gribel?
Entretanto o grupo perdia a sua frequência e a ex-diretora, até depois da remoção, gritava aos quatro ventos que Guarará não comportava grupo escolar.
Estamos na vigência da direção do professor Rabelo e Campos que fez a matrícula na mesmíssima população escolar.
Em visita inspecionária, o sr. regional coronel Ricardo Martins constatava de visu (vê e conta, sra. ex-diretora) uma frequência maior que a exigida pelo Regulamento escolar, além de uma excedente matrícula.
Agradavelmente bem impressionado, propala em público que devido ao excesso de alunos, vai propor em relatório a criação de mais uma cadeira e acrescenta que com mais um pouco de esforço o grupo poderá "conseguir oito cadeiras".
Estamos diante deste fato curioso e que deve ter despertado a atenção do governo e das altas autoridades escolares:
Há duas informações oficiais, partidas ambas de duas autoridades escolares que têm responsabilidades regulamentares: de um lado, a ex-diretora alegando que a infrequência do grupo é por falta de população escolar e propondo a supressão do ensino; de outro, o inspetor regional encontrando na mesma população escolar enorme frequência e propondo a criação de mais uma cadeira.
Essas informações são completamente antagônicas, entrechocam-se, não podendo coexistir.
Qual a verdadeira? Qual a falsa? Guarará tem ou não população escolar para um grupo de seis cadeiras?
Que nos responda a ex-diretora. Ontem com sua direção o grupo não tinha frequência e ela pressão dele, hoje com a direção do Sr. Rabelo e Campos a frequência exubera, e o regional propõe a criação de mais uma cadeira.
Por quê?!
Que nos responda a ex-diretora.
JOB

Jornal "O Guarará", ANNO V NUM. 242
Guarará, 15 de março de 1924




NOTAS E REFERÊNCIAS
(*) A Ex-diretora de que se trata o artigo era a Profª Gabriela Alves do Prado  (Vide Jornal "O Guarará", ANNO VI NUM. 175 - Guarará, 26 de novembro de 1922)

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