segunda-feira, 1 de outubro de 2012

SOCIEDADE AGRÍCOLA DE GUARARÁ, ESTADO DE MINAS

          Os lavradores do município de Guarará, da zona da Mata do Estado de Minas Gerais, reunidos em concorrida assembléia realizada a 19 deste mês, por convocação do adiantado fazendeiro, coronel Francisco A. de Arruda Câmara, fundaram a Sociedade Agrícola de Guarará, que se propõe realizar:
          1 - Para o estudo, a defesa e o desenvolvimento dos interesses gerais da lavoura a sociedade se constituirá ou se filiará à Federação das Associações Rurais da zona da Mata Mineira e promoverá, em seu seio, reuniões periódicas para:
          a) estudo das necessidades regionais das explorações rurais, realizando acordos tendentes satisfazê-as ou sugerindo aos poderes públicos, quando de sua alçada, as medidas julgadas acertadas para os fins desejados.
          b) conferências, exposições e demonstrações técnicas de interesse local, devendo promovê-las, sempre que possível, sob os auspícios da Federação e Câmaras Municipais e com a assistência ou conselho técnico do Ministério da Agricultura.
          2 - Para defesa dos interesses de ordem econômica, social e moral dos seus associados excluídos os de caráter político e religioso a sociedade promoverá:
          a) o desenvolvimento do cooperativismo agrícola, fundando cooperativas de crédito que, mediante uma taxa módica de juros e de lucros em suas operações, aproxime em colaboração direta os que dispõem de economias e os que delas precisam para o desenvolvimento do seu trabalho;
          b) as facilidades ao seu alcance, como órgão informativo, aos institutos de previdência que se organizarem ou operarem na região, em seguros contra fogo, mortandade de gado e outros acidentes comuns á vida rural;
          c) envidará esforços para que as contendas ou pendências suscitadas entre seus sócios ou entre estes e terceiros sejam resolvidas por arbitragem só o fazendo, entretanto, mediante prévio compromisso de acatamento à sentença arbitral.
          Presidiu os trabalhos o coronel Afonso Leite, presidente da Câmara e influência real na vida daquela região.
          Convidado e por designação do Serviço de Inspeção e Fomento Agrícola, compareceu á reunião o nosso companheiro Arruda Câmara, que realizou uma instrutiva palestra sobre a finalidade das associações regionais da lavoura, estudando, como perfeito conhecedor do meio, as necessidades locais, e mostrando o quanto podem de útil realizar essas instituições porque tanto nos temos batido desde os nossos primeiros dias.
          A diretoria para o primeiro período social ficou assim constituída:
          Presidente, coronel Francisco Antonio de Arruda Câmara, fazendeiro: Vice-presidente, coronel Afonso Leite, presidente da Câmara; 1º Secretário, coronel Bertholdo Garcia Machado, fazendeiro e negociante; 2° Secretario, Luiz de Freitas Santos, professor; Tesoureiro, capitão José Vieira Camões, comerciante e agente executivo do município.
          O Conselho Deliberativo ficou constituído pelos lavradores: Coronel Aníbal Antônio da Costa, José Jorge Ribeiro do Vale, capitão Idalino José Machado, tenente Geraldo Gomes. Vicente Alves Pereira, Alberto Maurício Barroso, Sebastião Francisco de Souza e José Ricardo Sobrinho.
          Por proposta do coronel Afonso Leite foi aclamado sócio-honorário, o Dr. Antônio de Arruda Câmara, Engº agrônomo, diretor-secretário do "Brasil Agrícola", revista de agricultura que se publica nesta capital.
          Ao que sabemos, a sociedade fundará muito breve uma cooperativa de crédito e, no próximo ano, comemorará com excepcional brilhantismo, o bicentenário da plantação do café no Brasil, que é uma das riquezas do município de Guarará e de toda a zona da mata de Minas.

Jornal "Correio da Manhã",
Rio de Janeiro, quarta-feira, 03 de novembro de 1926



O Cel. Francisco Antônio de Arruda Câmara (Coronel Arruda Câmara), nasceu por volta de 1875, no município de Ingá, estado da Paraíba. Foi um grande fazendeiro nos municípios de Leopoldina e Guarará, Minas Gerais. Inscrito no Registro de Lavradores, criadores e profissionais, desde 1909, conforme despacho do ministro da agricultura: "...O ministro da agricultura [dr. Cândido Rodriguespermitiu que o coronel Francisco Antonio de Arruda Câmara, proprietário das fazendas de Santa Rita e Sant'Ana em Rio Pardo de Leopoldina, Estado de Minas Gerais, seja inscrito no Registro de Lavradores, criadores e profissionais da classe anexa." - (Jornal "A Imprensa, Ano VII, N.781 e 782 - quarta-feira, 10 de fevereiro de 1910 - Jornal "Correio da Manhã", quinta-feira, 10 de fevereiro de 1910). -
O Cel. Arruda Câmara era cafeicultor e criador. Casou-se por duas vezes. Seu primeiro casamento foi com a então viúva, Rita de Moraes Câmara, filha do Comendador Francisco Gonçalves de Moraes e Cecília Breves de Moraes. O seu segundo casamento foi com Manoela Temponi, filha de Vicente Temponi e Maria Temponi.
A fazenda Sant'Ana localizava-se em Guarará (hoje Maripá) e a fazenda Santa Rita, em Rio Pardo da Leopoldina (hoje Argirita), a considerar-se o publicado (ou Piacatuba ?). Nesta fazenda de Santa Rita ele fez construir a igreja de Santa Rita. 
Assim descrevia o próprio Coronel a sua fazenda de Sant'Ana em 1911, quando pretendeu dispor-se da mesma: "...Tem a fazenda excelentes engenhos de café, de serra e para moagem de cana e todos os demais acessórios para a lavoura, e contém 600 mil pés de café, dos quais 150 mil velhos em bom estado e 450 mil pés de um a sete anos de idade, a maior parte em plena produção. Tem área ainda suficiente para plantar-se um milhão de pés de café. O clima que se goza é magnifico, fresco e salubre, pois que a fazenda está situada no alto da serra do Prata..." (Jornal "Correio da Manhã, quinta-feira, 30 de novembro de 1911)
Sua única filha veio do segundo casamento, Anna Elizabeth de Arruda Câmara Ferreira da Costa, herdeira da fazenda Sant'Ana, casou-se com Mário Ferreira da Costa, dela veio seus dois netos Francisco José e Vicente de Paula.
O Cel. Arruda Câmara também possuía propriedades na região e em Juiz de Fora (em 1924 venderia a Ambrósio de Melo Franco o prédio da Rua Santo Antônio, 559 pelo valor de 20:000$000), onde também teve participações sociais como, por exemplo, em 1918, ele, juntamente com o Cel. Antônio Carlos Pereira e o Major Delfino da Costa Carvalho, formaram uma comissão para solicitar benfeitorias no bairro de Botanagua no município de Juiz de Fora. (Jornal "A Lanterna", N. 447, de quarta-feira, 5 de junho de 1918.).
Além, então, de suas atividades rurais; na agricultura e napecuária, era ele um ativista político de um esclarecimento raro. Qualidades essas que o transformaram em um representante natural para representar a cidade de Leopoldina, nos dias 25 de 26 de março de 1917, no "Congresso Agrícola", realizado no cine-teatro Polytheama, em Juiz de Fora, onde estavam presentes os grandes lavradores, produtores e fazendeiros na Zona da Mata Mineira e onde se deu a fundação da "Confederação Agrária Mineira". Os outros representantes de Leopoldina foram Francisco José Breno, Francisco Leite de Oliveira e Dr. Ribeiro Junqueira. Por Guarará estava presente o Barão de Catas Altas e Bicas foi representada pelo Cel. Álvaro Fernandes Dias, Agilberto Henriques Bastos, Ataíde José Bastos, Sebastião Gomes Baião (filho do Barão de Cattas Altas), Alberto José Monteiro Bastos (sobrinho do Barão de Cattas Altas).
O Cel. Arruda Câmara, como homem esclarecido, impunha-se nas questões ruralistas de sua época, como se vê no seu artigo abaixo:


PELA PECUÁRIA

"Sr. redator do “O Pharol”,
Li no vosso conceituado jornal, do dia 5 deste, um artigo "A pecuária", do dr. Pereira Barreto, e não podendo me conformar com tamanho ataque a uma classe inteira, venho solicitar a publicação da presente Carta abala. Não obstante saber que toda carne é nociva d saúde, quando de uma rês doente ou perreada, convido ao dr. Pereira Barreto a provar com toda sua teoria e ciência que a carne do zebu em perfeito estado é nociva, e bem assim que esta nocividade é privilegio do zebu.
Não venho defender o zebu, nem outra qualquer raça; o meu intuito é tão somente fazer sentir ao dr. Barreto, nesta carta, que os seus processos de propaganda são por demais rancorosos. Sou criador de zebu ha 25 anos, e posso afirmar que é o melhor boi para o trabalho, o mais sadio, mais vendável e de maior preço entre nós, a par de sua beleza e rusticidade. O dr. Barreto assombra-se de um caracu ter pesado 85 arrobas (peso vivo), e sem consciência do que diz assevera que são precisos três ou quatro zebus para atingir o peso do fenomenal caracu; no entanto, tenho visto zebus pesar 60 e 70 arrobas. Não é bastante um fato para assegurar uma existência. A origem do caracu não está ainda provada, porém para mim é oriundo do zebu, pois, quando eu era contra o zebu, adquiri uma fazenda com um meio sangue zebu e 20 vacas crioulas ruins; não ligando importância a esse gado, não mudando de reprodutores (machos e fêmeas), no fim de 20 anos a descendência desse gado era caracu de superior qualidade. O referido touro matei-o depois de velho e pesou a talho 46 arrobas.
Se o zebu invade os nossos campos, ameaçando aniquilar outras raças, é tão somente pela sua superioridade sobre os que entre nós não progridem e porque o partido melhor é o vencedor. Não é uma prova exata contra o zebu a exposição de São Carlos, pois bem pode ter sido organizada por três ou quatro criadores de outras raças, que, notando o progresso do zebu, e temendo falta de colocação para seus animais, procuram desmoraliza-lo. Nas rodas oficiais o zebu está presentemente caído, porém o governo há de se convencer que andou errado e que ele é superior aos produtos de tantos reprodutores das mais variadas raças que pouco a pouco vão tornando o nosso gado uma melange.
A criação das severas leis pedidas pelo dr. Barreto será um grande mal para o país e o governo deve proteger a agricultura e a pecuária, conservando a liberdade absoluta das culturas.
O dr. Barreto chama a atenção da policia para os criadores e negociantes de zebu, apontando-os como passadores de notas falsas, e eu chamo sua atenção para não ofender a quem não lhe ofende e prestar maior atenção aos princípios de um cidadão como os de sua classe.
Se é de fato tão indecorosa a criação e negociação de zebu como o caftismo, também o é igualmente a criação de outras raças e também o é outro qualquer gênero de negócios.
O ilustre escritor precisa agir com menos paixão e mais prudência.

Guarará, Fazenda de Sant'Ana, 19 de maio de 1916.

Francisco Antonio de Arruda Câmara.

OBS: À época (1917) residiam em Maripá tanto o Cel. Francisco Antônio de Arruda Câmara e o irmão o agrônomo Dr. Antônio de Arruda Câmara. E fora o primeiro, o Cel. Francisco Antônio de Arruda Câmara, quem solicitara em 1912 o ingresso do irmão na Escola de Agricultura de Pinheiro. (Jornal "A Imprensa", ANO IX, N. 1714, fl 5 - Rio de Janeiro, quarta-feira, 11 de setembro 1912 - Jornal" O Paiz, quarta-feira, 11 de setembro de 1912)
O histórico da Escola de Agricultura de Pinheiro, datava de 1897, quando então a fazenda de São José do Pinheiro, em Pinheiral, no estado do Rio de Janeiro, antiga propriedade do Comendador José Joaquim de Souza Brevesfoi cedida ao Ministério da Guerra, para a instalação de um Hospital Militar. Depois disso, dois anos depois ela foi cedida ao Ministério da Agricultura, que nela instalou, em 1909, o Posto Zootécnico Federal de Pinheiro. No ano seguinte (1910) teve início a Escola Média de Agricultura, Agronomia e Veterinária de Pinheiro, com a primeira turma formada 4 anos depois (1914). E, nos anos seguintes (de 1916 à 1918), nela funcionou a Escola Superior de Agricultura e Veterinária. 

História do Café do Brasil Imperial
http://brevescafe.net/cont_historia_arruda.htm 
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http://www.turismovaledocafe.com/2011/05/fazenda-sao-jose-do-pinheiro-pinheiral.html
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Jornal "O Pharol", Ano LI, N. 122
Juiz de Fora, quarta-feira, 24 de maio de 1916
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Jornal "O Pharol", Ano LIX, N. 569
Juiz de Fora, sábado. 5 de abril de 1924.

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