FERRO CARRIL GUARARENSE
O município de Guarará foi criado peto decreta do n°. 278 de 5 de dezembro de 1890, sem foro, ficando portanto sujeito á sua antiga jurisdição da comarca de Mar de Espanha, de 1ª entrancia.
A sua sede é a Vila do Espirito Santo de Guarará.
Uma nota característica se salienta na criação da Vila sem foro, quando o decreto que criou o município, podia da mesma maneira criá-la com o foro.
Essa lacuna, não se preencheu, devido ao carrancismo que reinava nesse tempo, oriundo da restauração, (ainda hoje) alentado pelo chefe político comendador Noronha, falecido a 25 de setembro de 1897, que, acostumado a fazer doutrina e lei harmoniosa com o seu povo, encarou o foro como um atentado às liberdades do mesmos.
A Vila de Guarará dista 4 quilômetros do distrito de Bicas, e 12 quilômetros do distrito de Maripá.
O município compõem-se de três distritos de paz; Vila, Bicas e Maripá.
A sua superfície é de 15 léguas quadradas.
Ao norte. limita com o município de S. João Nepomuceno; a leste, com o município de Leopoldina; ao sul, com o município de Mar de Espanha; ao oeste, com Juiz de Fora.
O recenseamento de 30 de novembro de 1890, acusava a sua população em 19.918 habitantes, que eqüivale a 1.327 por légua quadrada.
Por este dado, verifica-se, que é o município que mais habitantes conta por légua quadrada, no Estado de Minas.
O clima é salubérrimo, próprio para um sanatório.
A Vila de Guarará, é ligada a Bicas por uma estrada de ferro, iniciada pelo agente executivo dr. Antero, em 1892, e acabada de construir pelo seu sucessor coronel José Ribeiro.
Infelizmente, a falta de prática administrativa e conhecimentos técnicos, motivou irregularidades na compra do material rodante, destacando-se entre elas, deuniformidade do tamanho gigantesco dos wagons, para com a locomotiva, que é excessivamente mignon, caracterizando-se no ridículo ao primeiro golpe de vista do observador; parecendo mais um brinquedo de crianças do que outra coisa. Porém, que brinquedo, brinquedo de se gastarem duzentos contos, aproximadamente; isto é, não contando com os gastos com a demanda que moveu o capitão Jeronymo Mendes, á titulo de indenizaçâo, ao agente executivo coronel José Ribeiro, e com a indenização que a atual câmara efetuou ao mesmo, de quatorze contos.
Além de todas as despesas ocasionadas por esta malfadada estrada, acrescente-se-lhe a grave circunstância, que mal pode funcionar dez meses, achando-se paralisada até esta data.
Estas irregularidades de administração, que tanto prejudicaram o município, tiveram origem no plano mal concebido e desorientado do dr. Antero, porque está no domínio público e arquivado nos anais da camara municipal que o primeiro administrador do novo município, na qualidade de intendente, o exmo. sr. Barão de Catas Altas com o tino administrativo que todos lhe reconhecem, de comum acordo com seus dignos companheiros de administração, autorizou a garantia de seis por cento ou capital de sessenta contos de réis à empresa ao particular construísse a estrada por tração animada.
Felizmente, o sr. Alvaro Fernandes Dias, agente executivo atual, consultando os altos interesses do município e a comodidade pública de acordo com os seus dignos companheiros de administração, a compra de bonds e wagonets de carga e contratou com o cidadão Paschoal Lamoglia o serviço publico, a contar do 1º de Janeiro de 1899, em diante.
O material rodante da estrada guararense, aí está servindo de espantalho no barracão, imprestável e inútil aos cofres do município.
É sob a inteligente administração do sr. Alvaro Dias, que Guarará conta diversos melhoramentos.
Entre os muitos melhoramentos com que beneficiou o município, e por tanto o publico; contam-se diversas estradas e pontes de solidez reconstruídas; uma linha telefônica de Guarará à Bicas, sendo a estação na redação da Gazeta de Guarará e, em vista de breve, ir à Maripá; uma biblioteca municipal, e solidificou as dividas da administração trausacta e constituiu a guarda municipal.
A vila de Guarará, teve a origem no ano de 1828, época esta em que o cap. Domingos Ferreira Marques e sua mulher D. Feliciana Francisca Dias, moradores em Barbacena, fizeram doação de terras suficientes para a construção de uma capela sob a invocação do Divino Espirito Santo, pertencendo o patrimônio à irmandade, a quem os moradores pagam aforamento ou arrendamento.
O leitor verá no correr do Almanach os mais esclarecimentos não mencionados, para não interromper o plano dos três capítulos do almanach.
TEIXEIRA, F. S. -
Almanach do Município do Guarará
do Capítulo Cronografia e história do Município de Guarará, pgs 15a19
Guarará, MG - 1899
Serão brevemente postos em hasta pública pelo Cap. José Vieira Camões, presidente da Câmara, os materiais fixos e rodantes da "Ferro Carril Guararense", constantes de 40 toneladas de tilhos e dois bondes reservados. Com o produto que se apurar na concorrência, será mecanizada a estrada que liga o distrito desta vila a Bicas, ficando adaptada ao transito de automóveis.
Correio da Manhã, ANNO XXIII, N. 8.998,
Rio de Janeiro, domingo 28 de outubro de 1923, pg.2.
0 comentários:
Postar um comentário