segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

CARLOS DE OURO PRETO PEREIRA

            O Grupo Escolar Ferreira Marques, desde sua inauguração em 30 de março de 1909, tornara-se a referência no ensino na região. Depois do curto período de atuação do Prof.º Fausto Gonzaga (1909-1910), esteve à frente da Escola a diretora Maria José de Carvalho (1911-1915) e partir de 1916, a escola esteve a cargo da direção do Prof.º Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira.
            Carlos, natural de Ouro Preto, lá nasceu em 17 de abril de (???) (01) E lá ele teve lições com dona Ubaldina de Carvalho, professora normalista, diretora do Grupo Escolar Pedro II em Ouro Preto e encarregada das cadeiras do sexo masculino e, foi dela, que herdou o método de ensino empregado pela distinta mestra que era [ela] um dos marcos intelectuais ouropretanos. (02) E fato é que assim como uma homenagem à sua "velha preceptora e conterrânea", em 1918, ele instituiu, às suas próprias expensas, o prêmio Ubaldina de Carvalho (03) Este prêmio, entre outros foi conferido aos alunos do Grupo Escolar Ferreira Marques do dia 21 de fevereiro de 1918, nas comemorações patrióticas e literárias. (04)

            Mas,  antes de vir para Guarará, Carlos exercera a profissão de farmacêutico, no distrito de Volta Grande (hoje Careaçu), (05) àquela época pertencente a São Gonçalo de Sapucaí. Consta o seu nome entre os farmacêuticos daquela localidade nos anos 1909 a 1911, depois ele assume a secretaria do gabinete da Prefeitura de Caxambu, entre 1914 e 1915 e de lá, em 1916, ele vem para Guarará, para assumir a direção do Grupo Escolar Ferreira Marques, em substituição ao Dr. Raymundo Tavares ., que teve uma passagem rápida à frente da Escola, em substituição ao Prof.º Fausto Gonzaga, que se transferira para Além Paraíba.
         Quanto à sua origem tem como certo que ele era natural de Ouro Preto, vez ia passar às férias naquela cidade com mãe e irmãos. (07) Em 1918, no segundo ano desde sua vinda para a cidade, mais precisamente no dia 2 de setembro (de 1918), ele se casa com Maria José de Andrade, (que passará a assinar Maria José Pereira) filha do Tte. Godofredo de Souza Andrade. São seus padrinhos, no ato civil, foram o Sr. Cel. Joaquim José de Souza, representando o presidente do estado Dr. Delfim Moreira e Dona Amelia Leite Guimarães, esposa do farmacêutico Cap. Aristides Leite Guimarães. São padrinhos da noiva, o Cel. Otaviano de Rezende e sua esposa Rosa Moreira de Rezende e no ato religioso foram; do novo, o Cap. Aristides Leite Guimarães e Dona Maria da Conceição Pereira e da noiva, o Cap. Josino Ribeiro da Silva e Dona Amélia Leite Guimarães, o ato foi oficiado pelo cônego Ângelo Rezende. (08)
            Em novembro de 1917 ele é eleito secretário do recém criado Tiro Brasileiro de Guarará (09)
           No dia 06 de novembro de 1918 ele assume, como redator chefe, a redação do semanário independente jornal "O Povo". O pequeno jornal, editado no distrito de Bicas, por Ladislau Rabelo de Vasconcelos, tinha como sua meta principal pugnar pela causa da educação popular, assim nada mais apropriado que um redator à altura. que juntava em sua pessoa, eloquência, discernimento, palato linguístico apropriado, tato e conhecimento de causa, enfim um educador nato, brilhante e capaz de desenvolver um belo trabalho jornalístico. O editorial de "O Povo", assim se refere a Carlos: "um dos mais apreciados jornalistas da nossa terra." (10)
            Como redator de "O Guarará", Carlos mantinha sempre um padrão idealístico nacionalista, suas colunas tinham, além de um texto lúcido, um título sugestivo: "Pelo Brasil Unido", "Pelo Ensino", "Pelo Brasil Forte" sobre a "Caixa Escolar", etc. Assim se refere a ele o editorial de "O Guarará": "...provecto e incansável diretor do grupo escolar Ferreira Marques. Moço dotado de alta independência de caráter, dedicado e operoso, sendo portador de um nome respeitado e querido nas lutas do magistério e da imprensa". ao qual " impões-se a estima da sociedade guararense por todos esses seus brilhantes dote morais e intelectuais..." (11) Mas também escreve seus artigos para outros jornais, a exemplo de o "Pharol", do qual fora correspondente e o "Jornal da Tarde" (de Barbacena) (12)
            À época de Carlos de Ouro Preto, eram professores do Grupo Escolar: Ana Silveira, Luiz de Freitas Santos, Augusto Julio de Moraes Carneiro, Flávia da Costa Milagres e Maria do Carmo Monteiro da Cunha e Souza. Em escolas retiradas, eram professoras; Maria Filomena Viana e Aída de Assis e em Bicas, sob a direção de Joaquim Campos, eram professores J. Paixão, Julieta Medina, Luíza de Mendonça Baeta, Maria de Mendonça Baeta e Maria Ester de Aquino e Castro.
            Por esta mesma época eram inspetores de ensino ou inspetores escolares, Vicente Bianco, o capitão Aristides Leite Guimarães, inspetores municipal e o Dr. Raymundo Tavares, estadual. Este último não economiza os elogios à direção de Carlos de Ouro Preto e seu corpo de docentes principalmente a Luiz de Freitas Santos, professor do terceiro ano. Luiz de Freitas era igualmente o orador oficial do Grupo Escolar nas festividades e eventos. Parece que a afinidade entre ambos era ímpar: eram professores, eram colunistas redatores de "O Guarará", eram poetas, eram oradores.
            Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira, permanece no cargo até  31 de maio de 1921, quando por ato do Secretário do Interior do Estado de Minas Gerais, é removido para Campo Belo, onde assume a direção do Grupo Escolar Cônego Ulysses, (06) e, para seu lugar é designado como diretor, um professor daquela localidade, Sinfrônio Cardoso. (13)
            No ano seguinte (1922) ele é transferido de Campo Belo para Entre Rios (14) e Sinfrônio Cardoso é substituído pela diretora Gabriela Alves do Prado. A nova diretora passa por uma série de inconvenientes, um tanto deles ocasionados pelo desabamento de parte do prédio da Escola. (15) O Grupo Escolar passa então por reparos, como atesta o Jornal "Pacotilha" no final de 1921, numa nota onde esclarece que "Foram autorizados reparos no Grupo Escolar de Guarará, entre outros", (16 seguido de uma reconstrução, como diz o Jornal "O Imparcial" de 1923 que emenda  fato que que o Grupo Escolar encontra-se em reconstrução. (17) Ao mesmo tempo a diretora Gabriela Alves do Prado, que não apresenta, na direção do Grupo Escolar, um trabalho satisfatório aos olhos da municipalidade, é substituída pelo Prof.º Antônio de Pádua Rabelo e Campos.
          Essa era uma situação que se repetia, a exemplo do ocorrido em 1914, quando o Grupo Escolar viu-se ameaçado de ser fechado, por conta da infrequência, conforme atesta "O Guarará": “As causas que motivam a infrequência são diversas, e aqui geral e publicamente comentadas. Poderiam ser sanadas, ou pelo menos minoradas, se as providências se fizessem sentir a tempo, o que infelizmente não se verificou. 
          Os diretores do município fizeram como Pilatos: lavaram as mãos e, ao que nos consta, declararam ao governo não assumirem a responsabilidade, se por acaso o estabelecimento sossobrasse, no que, aliás, fizeram muito bem.
          Assim, só nos resta um caminho: solicitarmos do Exmo. Sr. Dr. secretario dos negócios do interior, antes de decretar a suspensão ou supressão do grupo, mandar sindicar dos motivos da infrequência, afim de que, fazendo justiça, não prive uma grande população escolar de instrução, população que garantimos ser em número superior ao exigido pelo regulamento, uma vez que da sindicância fique evidente que essa mesma população não é indiferente à instrução, como maldosamente se procura fazer acreditar”. (18)
          Carlos de Ouro Preto entretanto, havia fincado suas raízes neste solo e, não tarda muito, retorna à Guarará onde, em janeiro de 1926, torna-se um dos responsáveis pela reorganização do Partido Republicano Mineiro em Guarará, sendo eleito secretário (19) (VER MATÉRIA NA ÍNTEGRA) do diretório municipal e três anos depois, em 12 de março de 1929, ele vem a falecer na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, onde se encontrava internado. (20)

NOTAS E REFERÊNCIAS:
01 - Jornal "O Imparcial"    ANNO IX, N. 1.220, Rio de Janeiro, Domingo, 17 de abril de 1921.
02 -  Jornal "Minas Gerais", ANNO VII, N. 282, pg 3 - Ouro Preto, quarta-feira, 30 de novembro de 1898)
03 - Correio da Manhã Domingo, 23 de dezembro de 1917)
04 - Jornal "A Noite", domingo, 17 de março de 1918).
05 - O distrito de Volta Grande, anteriormente pertencente a São Gonçalo de Sapucaí, foi depois incorporado à região de Santa Rita do Sapucaí e Silvianópolis e é hoje o município de Careaçu (Caré-Assú);
06 - Jornal "A Noite", ANNO XI, N. 3601, Rio de Janeiro, quinta-feira, 15 de dezembro de 1921
07 - Jornal "O Guarará, de 11 de janeiro de 1920;
08 - Jornal "O Povo", de 15 de setembro de 1918, pg3;
09 - Jornal "Gazeta de Notícias", Rio de Janeiro, Sábado, 3 de novembro de 1917) .
10 - Jornal "O Povo", de 09 de novembro de 1919;
11 - Jornal "O Guarará, de 11 de abril de 1920;
12 - Jornal do Brasil, quarta 21 de março de 1917)
13 - Jornal "Gazeta Municipal", Ano V, N. 209, Bicas, 5 de junho de 1921.
14 - Jornal "O Guarará", ANNO V, N.º 151 - Guarará, 11 de junho de 1922
15 - Jornal "O Guarará", ANNO V, N.º 152 - Guarará, 18 de junho de 1922
16 - Jornal Pacotilha 19 de outubro de 1921)
17 - Jornal O Imparcial, sábado 1 de dezembro de 1923)
18 - Jornal "O País", segunda-feira 16 de novembro de 1914
19 - Jornal "A Manhã", ANNO II, N. 27, Rio de Janeiro, quinta-feira, 28 de janeiro de 1926
20 - Jornal "Correio da Manhã", Ano XXVIII, N. 10.488, Rio de Janeiro, 13 de março de 1929.

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MATÉRIAS PUBLICADAS E/OU TEXTOS CORRELATOS OU ALUSIVOS:

             "O eleitorado deste município, composto das classes conservadoras, diante do descaso criminoso que a atual situação político-administrativa trata os interesses da coletividade, principalmente da lavoura, revoltou-se contra o atual partido politico do qual se desligou em eloquente manifesto o prestigioso e querido chefe do município coronel João Garcia Machado que se colocou à frente da reação cívico-popular contra a politica opressora, retrograda e escravizadora que tem abusado da paciência do povo, quer votando leis inconstitucionais, quer descuidando da instrução publica municipal, quer agravando barbaramente os impostos, deixando a lavoura entregue ao mais criminoso e injustificável abandono, sem estradas de rodagem e asfixiada debaixo de impostos inconstitucionais como o vexatório sobre a exportação de lenha.
             Em vista dessa situação aflitiva, os eleitores reunidos em assembléia solene e grande massa popular elegeram, sob aplausos estrepitosos os seguintes diretórios, constituídos dos vultos mais respeitáveis das classes conservadoras: Diretório Central: Cel. José Alfredo Garcia, presidente; coronel João Garcia Machado, vice-presidente; capitão Josino Ribeiro da Silva, tesoureiro; farmacêutico Carlos de Ouro Preto Pereira, secretario; capitão João Alves dos Santos, capitão Teófilo da Silva Ramalho, capitão João Otto Breyer. Diretório distrital da Vila: capitão Alfredo José Machado, presidente; capitão Nilo Fernandes Dias, vice-presidente; Sebastião Pereira dos Santos, secretario; Lindolfo de Souza Leite, Antonio Leite Guimarães, capitão José Luiz de Moura, Antonio Cotinhola [ou Cutingnola]. Diretório distrital do Maripá: capitão Giacomo Trezza, presidente; capitão Emiliano Antonio da Silva, vice-presidente; capitão Abel Garcia Passos, secretario; capitão Eduardo Antonio dos Santos, Leopoldo da Costa Ribeiro, Camilo Ferreira da Rocha, Antonio Ferreira da Costa.
             Foram votadas unanimemente moções de apoio, solidariedade e aplausos ao benemérito governo de Estado, aos próceres eminentes da Comissão Executiva do Partido Republicano Mineiro do Estado.Reina grande entusiasmo no município pela reorganização do P. R. Mineiro de Guarará, que vai adotar o mesmo programa do dr. Antonio Carlos a cuja candidatura o Partido prestará absoluto apoio."

Do correspondente
Jornal "A Manhã", quinta-feira, 28 de janeiro de 1926


            "Foi excelente a impressão que o sr. dr. Raymundo Tavares, ilustrado e operoso Inspetor Regional do Ensino, recebeu da visita de inspeção que fez no grupo escolar desta vila, sob a direção do sr professor Carlos de Ouro Preto Pereira.
Do termo lançado no livro competente, destacamos o seguinte tópico que muito honra o reputado instituto de ensino primário.
“Em visita de inspeção ao grupo escolar da vila de Guarará, tive a grande satisfação de encontrar, funcionando na mais completa ordem e seriedade.
Acha-se na sua direção o professor Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira que. já identificado com a vida do Instituto, consagra lhe o melhor dos seus esforços, no sentido de o manter em condições de atender os justos reclamos da respectiva população, e do mesmo passo corresponde á patriótica expectativa do governo do Estado.
O sr. Carlos de Ouro Preto, pelo magnífico desempenho dado á sua árdua missão de diretor daquela casa de educação, está prestando serviços de alta valia á causa pública, e bem merece as considerações da alta administração mineira.
Efetivamente: ao lado de irrepreensível disciplina escolar, mantida sem estardalhaços, disciplina verdadeiramente modelar, por ser espontânea, ativa e livre deparam-se ali esmerado asseio e higiene em toda casa e suas dependências, o que igualmente recomenda os zelos da exma. sra. d Maria Retto, dedicada auxiliar da administração do grupo. As classes do primeiro ano, a cargo das professoras d. d Flávia Milagres e Maria do Carmo da Cunha e Souza, estão muito bem orientadas, e o ensino bem feito. Os alunos, conquanto no começo do ano letivo, acusam já progressos dignos de menção, o que prova muita dedicação e esforço daquelas docentes.
Muito agradavelmente me impressionou o terceiro ano regido pelo professor Luiz de Freitas Santos. Moço inteligente, estudioso, dedicado ao magistério, para o qual tem decidido pendor natural, assimilou ele, mui de golpe, o espirito da nossa legislação escolar, e está a seguir uma sensata orientação pedagógica, no sentido do ensino pratico, intuitivo. Naquela localidade, testemunhei as mais expansivas demonstrações de contentamento de vários pais de família, a propósito do ensino feito na referida classe do terceiro ano.
Um fato, pouco comum ocorre atualmente na vila de Guarará, e que eu tenho o maior prazer em deixar aqui registrado. O contentamento da população local é pleno, é completo, relativamente ao grupo cuja ótima frequência escolar serve de atestar vivamente quanto deixo aqui asseverado. Todos os habitantes, nemine discrepante, enaltecem o estabelecimento, pelo cunho imprimido á sua direção pelo sr. Carlos de Ouro Preto, estimadíssimo ali.
Juiz de Fora, 1 de maio de 1916.
Raymundo Tavares, inspetor regional do ensino.”
Jornal "O farol", ANNO LI, N.º 113
Juiz de Fora, 13 de maio de 1916

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