sábado, 14 de setembro de 2013

O PARQUE DA SAUDADE

O PARQUE DA SAUDADE
A Flor de Liz

O Orvalho matutino caia das árvores... Dir-se-ia que o velho parque também chorava, embalado pela recordação mórbida de algum sonho de amor que se houvesse abrigado sob as suas rugosas árvores, de comas maxixantes, no gracioso bailado à vibração branda, na friorenta manhã de junho, E as gotinhas pingavam, lágrimas cristalinas, fragmentos de arco-íris, depois de saltitar de folha em folha, engalanando as árvores, como joia preciosa, a que não é dado ao homem dela se adornar, indo enfim de encontro à terra úmida, onde se esfacelavam, num doloroso gemido talvez, como certas almas puras se esfacelam de encontro ao lodo...
Elas desapareceram, sugadas pela terra, como desaparece e se empana a pureza da virtude imiscuída na canalhice do vício...
O orvalho pinga das árvores... O velho parque chora, assim, todas as manhãs... Disseram-me que era o pranto da saudade. Engano! É o canto das árvores cheias de seiva, luxuriantes?... Mas não, também não pode ser... Presume-se que seja o pranto eterno do seu eterno sofrimento!

B. Horizonte - 1924.
Plínio de Freitas.

Jornal "O Guarará", ANNO VI, N.° 261

Guarará, 21 de julho de 1924

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