O
PARQUE DA SAUDADE
A
Flor de Liz
O Orvalho matutino caia das árvores... Dir-se-ia que o
velho parque também chorava, embalado pela recordação mórbida de
algum sonho de amor que se houvesse abrigado sob as suas rugosas
árvores, de comas maxixantes, no gracioso bailado à vibração
branda, na friorenta manhã de junho, E as gotinhas pingavam,
lágrimas cristalinas, fragmentos de arco-íris, depois de saltitar
de folha em folha, engalanando as árvores, como joia preciosa, a que
não é dado ao homem dela se adornar, indo enfim de encontro à
terra úmida, onde se esfacelavam, num doloroso gemido talvez, como
certas almas puras se esfacelam de encontro ao lodo...
Elas desapareceram, sugadas pela terra, como desaparece
e se empana a pureza da virtude imiscuída na canalhice do vício...
O orvalho pinga das árvores... O velho parque chora,
assim, todas as manhãs... Disseram-me que era o pranto da saudade.
Engano! É o canto das árvores cheias de seiva, luxuriantes?... Mas
não, também não pode ser... Presume-se que seja o pranto eterno do
seu eterno sofrimento!
B. Horizonte - 1924.
Plínio de Freitas.
Jornal "O Guarará", ANNO VI, N.° 261
Guarará, 21 de julho de 1924
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