À LA DIABLE...
Do poeta sírio Elias
Farhat (Ilyãs Farhãt)
Tradução de
Paulo Tacla
PEDACINHOS DE
OURO
- I -
A Síria é qual um náufrago que tivesse a
má sorte de cair entre os tubarões do rio Sena e do Tâmisa.
- II -
Pode conhecer-se os limites geográficos
das Pátrias imperialistas da Velha Europa, porém nunca se conhecerá os limites
das suas ambições.
- III -
A Europa envia para a Síria as suas
missões religiosas, com semblante de Cristo e entranhas de judas, para pregar
aos sírios o Evangelho por eles escrito.
Se tais missões entrassem no céu
semeariam, sem dúvida, a discórdia entre os eleitos.
- IV -
É o cúmulo da misericórdia impor a
Caridade a ferro e a fogo.
- V -
Oh! Síria! a única culpa que tens é a de
seres bela e quantas vezes a beleza numa virgem tem sido o motivo de desgraça.
Acautela-te dos teus pretendentes; esses pretendentes que não cobrem com seda o
corpo da sua amante sem a despirem da honra.
- VI -
A aliança dos Árabes com Llold
George e Clemenceau, durante a Grande Guerra teve a mesma sorte da
aliança da ovelha com o lobo.
- VII -
O general Gourand com a fronte
erguida entre as cabeças baixas das autoridades libanesas por ele nomeadas,
semelha-se a um cipreste erguido entres os túmulos.
- VIII -
Oh! Cristo! protege a tua Pátria contra
os seus protetores.
- IX -
Na Batalha
de Maiçalum a única arma que os sírios possuíam era o Direito e esta era a
única que faltava aos franceses.
- X -
Aqueles que venderam a sua pátria a
troco de medalhas da "Legião de
Honra" devem vender estas medalhas para comprar com o seu produto um
pouco de vergonha.
- XI -
Dizem certos renegados sírios que não
temos armas para combater os invasores. Mentira! Só as medalhas distribuídas
pela França, na Síria, dariam, fundidas, centenas de canhões e milhares de
espadas.
- XII -
Aquele que ignora o que o dia de amanhã
reserva-lhe deve inquirir o dia de ontem.
- XIII -
Se os carneiros tivessem a bravura dos
leões não haveria quem apreciasse a sua carne.
- XIV -
O ouro que constrói os "arranha-céus"
não pode construir um caráter arruinado: muitos dos campeões de natação nos
mares da riqueza são náufragos em mares da baixeza.
NOTA: — Ante o trucidamento inominável e
inarrável dos bravos defensores da Liberdade da Síria, crime esse exercido
pelos janízaros a soldo dos imperialistas insaciáveis de uma nação europeia —
ontem o símbolo do Direito — hoje sentinela da Dominação — lembrei-me de
transladar para a língua luso brasileira alguns pensamentos extraídos do admirável
livro "Al-Rabih" de autoria do perfeitíssimo poeta Elias
Farhat, o Junqueiro sírio, pela profundeza das suas ideias, pela
impecabilidade e pela emoção transbordante de seus poemas e "rubaiat".
FONTE: Bicas Jornal, ANO II, N.º 102 - Terça-feira, 26 de julho de 1927
Se cortássemos todos os cedros do Líbano
e os cedros são fonte de inspiração
E com ele erigíssemos aqui um templo
Cujas torres atravessassem as nuvens,
Se arrebatássemos de baalbeck e de palmira
Vestígios do nosso passado glorioso.
Se arrancássemos de Damasco,
O túmulo de Saladino
E de Jerusalém, o sepulcro
Do Redentor dos homens.
Se doássemos todos esses tesouros
À grande nação independente
E a seus generosos filhos
Sentiríamos que ainda assim,
Não pagamos tudo o que devemos
Ao Brasil e aos Brasileiros.
e os cedros são fonte de inspiração
E com ele erigíssemos aqui um templo
Cujas torres atravessassem as nuvens,
Se arrebatássemos de baalbeck e de palmira
Vestígios do nosso passado glorioso.
Se arrancássemos de Damasco,
O túmulo de Saladino
E de Jerusalém, o sepulcro
Do Redentor dos homens.
Se doássemos todos esses tesouros
À grande nação independente
E a seus generosos filhos
Sentiríamos que ainda assim,
Não pagamos tudo o que devemos
Ao Brasil e aos Brasileiros.
Poesia selecionada em concurso realizado pela colônia libanesa para a comemoração do centenário da Independência do Brasil, em 1922 e vencedor também do concurso que foi realizado quando da inauguração do monumento “Amizade Síria-libanesa” no Parque D. Pedro II
em 1928. Monumento este que, em 1988, foi transferido para uma praça, nas
proximidades da rua 25 de março. (1922). (KHATLAB 2002, p.64 - KHATLAB, Roberto. Brasil-Líbano: Amizade que Desafia a Distância. Bauru: EDUSC, 1999)
*-*-*
Segundo Roberto Khatlab, (*) cujo belo texto transcrevemos abaixo, "...a literatura árabe no Brasil teve seu apogeu no final do século 19 e
inicio do século 20, momento da grande imigração árabe para o Brasil.
Entre vários emigrantes estavam também os intelectuais, escritores,
poetas, fugindo do Oriente por causa de perseguições, problemas sociais
e financeiros. Os intelectuais preocupados com a preservação da língua
árabe, que estava sendo coberta pela língua turca, do império otomano,
iniciaram a formação de grupos de pessoas que escreviam livros e
fundavam jornais e revistas em idioma árabe e assim surge, em 1933, a
“Liga Nova Andaluzia”, com o objetivo de conservar a lingua e a
literatura árabe no Brasil. A Liga criou uma revista com o mesmo nome
“Al-Usbuat” (Liga Andaluzia de Letras Árabes – 1933 a 1953), para
publicar todo tipo de literatura árabe e que teve uma grande
importância, visto os artigos e poesias publicadas, un rico acervo para a
literatura arabe publicada no Brasil. Entre os escritos, surgem as
poesias românticas, mas também com cunho social. Várias obras-primas
floresceram no Brasil e contribuíram com a Renascença (“Nahda”) árabe
no Oriente. Prestigiosos nomes podem ser citados, entre outros, cito
aqui Elias Habib Farhat, mais conhecido como Elias Farhat..."
"...Trabalhando no comércio em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, Elias não deixou de desenvolver também sua paixão pela literatura e no Brasil começou a escrever com espontaneidade e de forma realista, que contribuiu com a “Nahda” árabe no Brasil, podendo ser considerado um dos representantes da literatura árabe no país..."
(http://www.icarabe.org/artigos/elias-farhat-o-poeta-libano-brasileiro-do-arabismo)
"...Trabalhando no comércio em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba, Elias não deixou de desenvolver também sua paixão pela literatura e no Brasil começou a escrever com espontaneidade e de forma realista, que contribuiu com a “Nahda” árabe no Brasil, podendo ser considerado um dos representantes da literatura árabe no país..."
(http://www.icarabe.org/artigos/elias-farhat-o-poeta-libano-brasileiro-do-arabismo)
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Elias
Farhat nasceu em Kfarchima, Monte Libano, em 1893, e faleceu no Brasil,
em 1976, país para o qual emigrou em meados de 1910. Morou inicialmente em Minas Gerais e depois em São Paulo, onde se tornou caixeiro viajante de uma fábrica de tecidos. Depois foi para o Paraná na década de 30, morando na Lapa por cerca de 18 anos, onde se casou, em 1921, com Júlia Bishara Gibran, prima do escritor Gibran Khalil Gibran, formando uma família
da qual nasceram quatro filhos: Khaled, Laila, Muna e Issam. Morou também um ano em Curitiba, cujos
descendentes - uma parte deles – lá vivem.
Em 1922, venceu concurso da colônia sírio-libanesa de São Paulo pelo
centenário da independência, com um poema que está gravado em um
monumento no parque Ibirapuera. Nos anos 1940, venceu outro concurso,
dessa vez no Egito, o que lhe valeu o epíteto de “príncipe dos poetas
árabes”.
Em 1959, com o
Líbano já independente, Elias faz uma grande viagem pelo Oriente Médio,
onde é recebido por homens de letras e autoridades. Na Síria, recebeu a
comenda do governo.
Publicou diversos livros, como "Rubaiat", "Sonhos de um Pastor" e o mais
famoso, "Frutos Temporões", todos em árabe. Morreu em Belo Horizonte aos
86 anos.
*-*-*
Ele representou através de seu poema, a base da nação Árabe, uma etnia única. Seu poema transformou o conceito de Oriente Médio, relacionando-o não com um lugar mas com um povo único.
Elias Farhat participou ativamente de um movimento Árabe cultural, que congregava imigrante e descendentes daquela etnia e cuja preocupação era "promover a literatura árabe
em mahyar por vários meios, criar e consolidar o conhecimento ligado
cordialmente entre o Círculo e as associações literárias árabes,
combater o fanatismo e purificar as crenças e as tradições que negam o
espírito do tempo e levam a um pensamento preconceituoso". (Akram Zuaytar, "al-Usba al-Andalusiyya - O Círculo Andaluz) Segundo Jamil Safady (1974:165), e outros autores o grupo foi formalmente criado em 5 de janeiro de 1933 na casa, em São Paulo, de Mishal (Michel) Maaluf (1889-1942), presidente, e Dawud Shakur
(1893-1963) como vice-presidente. Outros autores relevantes da mesma,
devem Habib Masud (1899), Shafiq Maaluf (1905-1976), Riad Maaluf, Elias Farhat (1893-1976), Rachid Khuri,
Rashid Salim Juri, também chamado al-Shair al-Qarawi (o "Poeta
Camponês", 1887-1984), Aql e Shukr Allah Yurr, Nars Simán, etc. Era um movimento cultural, promovido por nomes da intelectualidade árabe residentes no Brasil. O criador desta agremiação foi Chucralla Al-Jorr, residente no Rio de Janeiro que contactou alguns poetas e escritores em São Paulo. O grupo constava om mais de trinta congregados, sendo entre Árabes e
descendentes, entre poetas e intelectuais e que tinham como objetivo as
discussões sobre as questões históricas, a memória, a identidade
cultural, etc daqueles "exilados". (Marcela Maria Freire Sanches - Nova Andaluzia: a Memória da Intelectualidade árabe no Brasil.) Ele foi considerado como um puro representante da literatura árabe no Brasil.
(*) Roberto Khatlab, diretor do Centro de Estudos e Culturas da América
Latina da Universidade Saint-Esprit de Kaslik e pesquisador no Centro de
Estudos da Emigração Libanesa da Universidade Notre Dame, no Líbano.
Autor de vários livros sobre as relações Brasil-Líbano, entre eles
Mahjar, Saga libanesa no Brasil (bilíngue português-árabe), Editora
Mukhtarat, Beirute, Líbano.
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