CORONEL FERNANDO EQUI (1869-1900)
Chega-nos, neste momento, a triste noticia do falecimento de um cidadão estimavel, vitimado pela cruel opidemia que de tempos a esta parte escolheu vários pontos do nosso Estado para arrebatar preciosas vidas, como o era a do coronel Fernando Equi.
Todos quantos conheceram o ilustrefinado, cujos dotes cxcepcionais eram devidamente apreciados, receberam o seu passamento como um desses golpes que custam a cicatrizar-se, considerando-se, na sociedade onde ele vivia, um claro dificilmente preenchivel.
Registrando com sincero pesar o óbito de tão distinto cavalheiro, apresentamos à sua desolada viúva, filho e demais parentes as nossas condolencias pelo lutuoso acontecimento.
Recebemos do sr. Lopes Neves a seguinte carta, que demonstra quão sentida foi a morte do ilustre cidadão, mui justamente acatado e estimado: "S. Pedro do Pequiri, 28 de abril de 1900.
Ilustre redator - Acaba essa população de passar por um desses dolorosos transes, para o qual não ha lenitivo possível: já não é do numero dos vivos Fernando Equi. Vitimou-o a terrível epidemia que ora grassa neste povoado, onde já tem feito um grande numero de vítimas. Apesar de todos os socorros médicos, foi impossível arrancar à morte essa preciosa existência que nos era tão cara, finando-se com ele as alentadoras esperanças que nutríamos de ver ainda São Pedro do Pequiri readquirir o seu brilho antigo.
Mentalidade superior, dotado de elevado tino administrativo, conseguiu Fernando Equi impor-se entre os seus pares, ocupando lugar saliente pelos raros dotes que soube consubstanciar a sua pessoa. As letras que tinham nele um distinto cultor; o comércio local que o encarava como um dos seus mais eméritos, senão o mais proeminente representante; o povo e a colônia italiana que o adoravam como a Providencia nas suas vicissitudes, muito perdem com essa indizível desgraça que nos vai posar para sempre, com esse claro impreenchivel inesperadamente aberto no seio da nossa sociedade.
Tanto quanto quem, o espirito conturbado pela dor, traceja essas apoucadas linhas, conhecieis o ilustre morto, cujo passamento tanto lamentamos; por isso, passo a fornecer-vos esclarecimentos sobre sua vida.
Fernando Equi era natural de Fornaci di Barga, província de Succa (Italia), e filho de Antonio Equi e Annunziata Botastini. Veio para o Brasil aos 9 anos e presentemente contara 31 anos de idade. Ligado ao seu irmão Júlio Equi, fez parte da importante firma comercial Júlio Equi & Irmãos, da qual era atualmente o sócio gerente. Desenvolveu grande atividade no comércio, colocando a sua casa em o pé em que se acha, de modo a ser considerada um dos primeiros estabelecimentos comerciais desta zona. Espirito empreendedor, concorreu para a fundação da importante fabrica de bebidas aqui existente, promoveu ao lado de seu irmão grande parte do progresso desta localidade, onde, a par de grande prestigio, gozava de geral estima e do respeito a que faziam jus as suas elevadas qualidades. ocupou diversos cargos de confiança popular e exercia ultimamente o de agente executivo deste distrito, onde desenvolveu subido critério e não comum tino administrativo, promovendo diversos melhoramentos locais e acudindo à população nas atuais emergências em que nos achamos com todos os socorros e com um zelo só capaz das almas verdadeiramente superiores.
Foi sócio fundador e presidente de várias associações de beneficência, entre as quais a "S. I. de B. Dante Alighieri", neste lugar, e a "Societá Operaja di Mutuo Socorro", de Fornaci.
Faleceu ontem e sepultou-se hoje, às 11 horas da manhã. Deixa viúva e um filho.
Queira, ilustre redator, aceitar os protestos de subida considerarão do vosso atento admirador - Lopes Neves."
Jornal "O Pharol", terça-feira, 1 de maio de 1900
Bicas, 28 de abril de 1901.
27 DE ABRIL
Faz hoje um ano que. assolada por terrível epidemia, atravessando uma quadra de indizíveis agonias a população de São Pedro despertou ao som dolente dos sinos que dobravam a finados.
Era mais um que partia, balbuciavam, temendo a incerteza do amanhã que nos reserva as mais surpreendentes desgraças; mas não atinavam, tantas eram as vítimas que aguardavam no leito da dor o supremo momento, denunciar aquele dobre de sinos o tombar de um cedro rijo e vetusto, de um dos mais fortes esteios da sociedade pequeriense.
Era um lacuna impreenchivel? Sim. Era mais ainda. era um vácuo para a localidade que perdia um dos seus melhores elementos de progresso, uma noite eterna para os amigos que viam estinguirem-se os clarões de um cedro pujante, as cintilações de um carater impoluto e os eflúvios de um coração de ouro.
Era a morte de Fernando Equi. Tu, Fernando Equi... Quanta grata recordação me evoca o teu nome, meu saudoso amigo! Mas, também, quanta lascinante tristeza, quanto amargurado momento, quando, ao manusear o diário da minha convivência terrena, ao confrontar a página tarjada em que sobressais como se o negro da tinta adquirisse refulgências de luz, poucos, bem poucos são os que não mancham a puríssima alvura desse carnet intimo!
A tua morte foi uma verdadeira desgraça, o maior flagelo que podia infelicitar a população de São Pedro, porque, com ela foi-se essa tranquilidade, essa unificação de sentimentos, esse estreitar de corações, que, em tua vida, gozavam todos que ali convivem e conviveram.
E sejam essas sinceras palavras a lágrima mais pura com que hoje orvalha a tua santa memória.
Redação de "A Bússola"
Bicas, 27—4—901.
Lopes Neves."
Jornal "A Bússola" ANNO I, N.º VIII, pg. 3;Era mais um que partia, balbuciavam, temendo a incerteza do amanhã que nos reserva as mais surpreendentes desgraças; mas não atinavam, tantas eram as vítimas que aguardavam no leito da dor o supremo momento, denunciar aquele dobre de sinos o tombar de um cedro rijo e vetusto, de um dos mais fortes esteios da sociedade pequeriense.
Era um lacuna impreenchivel? Sim. Era mais ainda. era um vácuo para a localidade que perdia um dos seus melhores elementos de progresso, uma noite eterna para os amigos que viam estinguirem-se os clarões de um cedro pujante, as cintilações de um carater impoluto e os eflúvios de um coração de ouro.
Era a morte de Fernando Equi. Tu, Fernando Equi... Quanta grata recordação me evoca o teu nome, meu saudoso amigo! Mas, também, quanta lascinante tristeza, quanto amargurado momento, quando, ao manusear o diário da minha convivência terrena, ao confrontar a página tarjada em que sobressais como se o negro da tinta adquirisse refulgências de luz, poucos, bem poucos são os que não mancham a puríssima alvura desse carnet intimo!
A tua morte foi uma verdadeira desgraça, o maior flagelo que podia infelicitar a população de São Pedro, porque, com ela foi-se essa tranquilidade, essa unificação de sentimentos, esse estreitar de corações, que, em tua vida, gozavam todos que ali convivem e conviveram.
E sejam essas sinceras palavras a lágrima mais pura com que hoje orvalha a tua santa memória.
Redação de "A Bússola"
Bicas, 27—4—901.
Lopes Neves."
Bicas, 28 de abril de 1901.
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