OS TROLES NA REGIÃO
Até onde as pesquisas nos permitiram chafurdar em meio aos séculos "secolorum amém" da história, um pouco antes da vírada do século e um pouco depois da queda do império que antecedeu a dita virada e antes que a ferrovia se estabelecesse por completo por aqui, havia algumas linhas de "Troles" (ou Troly do inglês) que tratavam de encurtar o percurso entre cidades e distritos. Esse era o caso de Mar de Espanha e era o caso de Guarará.
Entre Mar de Espanha e São Pedro do Pequeri (Pequeri), eram feitas duas viagens diárias e o serviço era dado em forma de concessão a cada quatro anos, numa espécie de licitação pública para os concorrentes interessados.
No livro Sinopse Estatística do Município de Mar de Espanha, às pgs. 31 e 32, consta o seguinte: "...O pitoresco serviço de troles vinha preencher uma lacuna. Representando um melhoramento considerável em relação aos primitivos e desconfortáveis sistemas de condução daqueles duros tempos, floresceu rapidamente.
Os troles levavam de oito a doze pessoas. Eram puxados por cavalos. Além das viagens comuns, sempre havia "especiais". A partida, em Mar de Espanha, se dava no Largo de Santo Antônio. Nesse local ficavam também as cocheiras da empresa, No sítio do "Pau-Grande", a meio caminho para São Pedro, havia uma tradicional parada para descanso dos passageiros e "muda" dos cavalos.
Chegando a São Pedro, o viajante tomava o rumo norte ou sul. Para alcançar Juiz de Fora, viajava-se comumente até Serraria onde havia a baldeação do trem da Leopoldina para o da Central.
Durante cerca de trinta anos serviram os troles de meio de transporte para os mardespanhenses.
Por fim, a construção do ramal São Pedro-Mar de Espanha veio por termo aos românticos "troles de carreira", trazendo o "trem de ferro" àquela terra para a qual tantos projetos se fizeram, inutilmente, durante o Império.
A construção do ramal levou mais ou menos um ano: de 1909 a 1910. O material utilizado procedia daquele antigo trecho construído entre Serraria e Silveira Lobo, o qual, por ser acidentadíssimo, foi desprezado pela "Leopoldina".
O material foi arrancado e empregado no ramal de Mar de Espanha..."
Para constar, o grande jornalista José Francisco Lopes Neves, em seu editorial de "A Bússola", diz o seguinte: "...Ao deixarem a cidade de Mar do Espanha, tomam a direção do troly, dizendo "que precisavam chegar com pressa a São Pedro [do Pequeri], onde tinham ainda de fazer um serviço", do qual há prova testemunhal. Chegados a São Pedro, procuram saber quem é o Dr. Antero Dutra de Moraes e onde mora; encaminham-se para a morada do humanitário médico, seguindo uma das ruas principais..." (2)
Os troles levavam de oito a doze pessoas. Eram puxados por cavalos. Além das viagens comuns, sempre havia "especiais". A partida, em Mar de Espanha, se dava no Largo de Santo Antônio. Nesse local ficavam também as cocheiras da empresa, No sítio do "Pau-Grande", a meio caminho para São Pedro, havia uma tradicional parada para descanso dos passageiros e "muda" dos cavalos.
Chegando a São Pedro, o viajante tomava o rumo norte ou sul. Para alcançar Juiz de Fora, viajava-se comumente até Serraria onde havia a baldeação do trem da Leopoldina para o da Central.
Durante cerca de trinta anos serviram os troles de meio de transporte para os mardespanhenses.
Por fim, a construção do ramal São Pedro-Mar de Espanha veio por termo aos românticos "troles de carreira", trazendo o "trem de ferro" àquela terra para a qual tantos projetos se fizeram, inutilmente, durante o Império.
A construção do ramal levou mais ou menos um ano: de 1909 a 1910. O material utilizado procedia daquele antigo trecho construído entre Serraria e Silveira Lobo, o qual, por ser acidentadíssimo, foi desprezado pela "Leopoldina".
O material foi arrancado e empregado no ramal de Mar de Espanha..."
Para constar, o grande jornalista José Francisco Lopes Neves, em seu editorial de "A Bússola", diz o seguinte: "...Ao deixarem a cidade de Mar do Espanha, tomam a direção do troly, dizendo "que precisavam chegar com pressa a São Pedro [do Pequeri], onde tinham ainda de fazer um serviço", do qual há prova testemunhal. Chegados a São Pedro, procuram saber quem é o Dr. Antero Dutra de Moraes e onde mora; encaminham-se para a morada do humanitário médico, seguindo uma das ruas principais..." (2)
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Em Guarará, pela mesma época, funcionava o serviço de Troles entre a Vila de Guarará, ou distrito sede e Santa Helena e entre o distrito de Bicas e Maripá (passando provavelmente pelo distrito sede).
Em Guarará, pela mesma época, funcionava o serviço de Troles entre a Vila de Guarará, ou distrito sede e Santa Helena e entre o distrito de Bicas e Maripá (passando provavelmente pelo distrito sede).
A linha entre os distritos de Bicas e Maripá, anteriormente desativada, fora retomada pelo Sr. Joaquim Coelho de Faria. Assim diz o jornal "O Povo", de 3 de setembro de 1901, editado na vila de Bicas, pelo jornalista Ladislau Rabelo de Vasconcelos: "O abaixo assinado participa ao público que desde o dia 1º do corrente [agosto de 1901] ficou de novo estabelecida a antiga linha de trolys que Existia entre Bicas e Maripá, sendo as viagens feitas de 2 em 2 dias. Bicas, 4 de agosto de 1901. Joaquim Coelho de Faria."
Quanto à linha entre a Vila de Guarará e Santa Helena, num texto do jornalista Theodolindo Ferreira de Assis (*) para o jornal "Gazeta de Notícias", em data de 20 de junho de 1891, consta o seguinte: "...Realizou-se no dia 19 do corrente nesta vila o casamento do importante negociante e capitalista Francisco Barcelos Barboza com a Exma Sra. D. Ignez Santos. Foram paraninfos da noiva o o Sr. José Pinto Soares, e Dona Isabel Alvarenga de Assis, e do noivo o Sr. major Francisco Batista de Alvarenga. Em seguida ao ato, dirigiram-se os noivos em troly à estação de Santa Helena, e aí tomaram o trem que seguia para o Rio de Janeiro, onde vão passar a lua de mel..." (3)
Por outro lado, no ano de 1898, o jornalista do "Gazeta de Guarará", Francisco de Sequeiros Teixeira, classifica em seu Almanach do Municpio de Guarará, para o ano de 1899, às pags 44 e 101, dos comerciantes/profissionais com trolys de aluguel na então Espírito Santo do Guarará, eram eles, Paschoal Lamoglia e a Viúva Roque & Filhos (no distrito sede de Guarará) e Joaquim Coelho de Faria (no distrito de Bicas). (**)
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Alguns anos da existência da Estrada de Ferro Guararense que passou a funcionar a partir de 1896 e teve seu projeto iniciado em 1893/1894, o Dr Pestana de Aguiar e Castro pretendia fundar por aqui uma companhia de Bonds. Eis o texto do jornal "Minas Gerais de 1892: "O Dr Pestana de Aguiar e Castro trata de construir uma linha de bonds, que saindo da estação de Bicas vá à Vila de Guarará e mais tarde à povoação de Maripá. Para isso está pretendendo fundar uma companhia.". (4) Não se pode entretanto precisar os frutos deste projeto, todavia existiu.
Eles, os trolys ou carruagens (4a) eram já, entretanto, comuns e utilizados, desde tempos, dos modos mais diversos e para as mais diferentes funcionalidades, como pelas famílias da sociedade que, à exemplo daquelas carruagens inglesas dos filmes de Sherlock Holmes, serviam de transporte para as mais diversas ocasiões. Também eram comuns em grandes fazendas e nos hotéis que, neste segundo caso, usavam-nos no transporte de seus hóspedes, mormente quando os buscavam ou levavam às estações de trem. (5) (6) ou em empresas diversas como a Fábrica de tecidos Aliança, (7) na cidade do Rio de Janeiro. E faziam lá eles serviços de encomendas, transporte de pessoas, passageiros regulares e, particulares ou não serviam para o deleite daqueles que pretendiam "espairecer", como no caso de Prudente de Moraes, quando de seu restabelecimento, pretendia "... por estes dias dar um passeio de troly até ao povoado de Várzea, que fica distante da Ermitage três quilômetros..." (8) (8a) Eram também utilizados para fins eleitoreiros, e para buscar personalidades importantes, profissionais e artistas, como no caso do músico e professor cearense, o maestro Ciro Ciarlini, (***) o famoso compositor da [única] Missa de São Sebastião, a quem o Sr. L. Brandão, mandou por um troly à sua disposição, para transportá-lo, aos sábados, de sua residência, na cidade de Granja até o município de Camocim onde ministraria "aulas de violino e piano às gentis filhas do diretor." (9)
Mas em muitos casos e ocasiões diversas, eram os trolys um sinal da nobreza e do requinte presentes no império e no pós império quando este, não era tão somente um carro para transporte comum e diário mas um pomposo viés que deixava transparecer a opulência de algumas família e autoridades e que eram comuns. Por eles trafegavam ministros chanceleres, autoridades em visitas formais e informais como os passeios e estadias às opulentas fazendas de então, (10) como por exemplo, na caso da visita do governador da Bahia ao Rio em 1899, quando "foi posto pelo Sr. barão Peres da Silva, um magnífico troly, tirado por excelente parelha. Nesse troly seguiu S.Ex. acompanhado dos Drs. Seabra e Vaz de Carvalho, para Bela Aliança. Na fazenda Bela Aliança, de propriedade do do comendador Maurício Haritoff, foi o conselheiro Luiz Vianna muito festejado..." (11)
Serviam também como veículos de socorro, quando transportavam algum adoentado, carro fúnebre, etc. E igualmente frequentes eram os acidentes, fatais às vezes, e que ocorriam dos modos mais diversos, fosse pelo confronto entre trem e troly, quando este passava pela estrada suspensa da ferrovia, fosse quando rompia-se alguma das peças de sustentação de madeira que o compunha (12) e que o fazia tombar em movimento e, por razões diversas, incluindo o estado das estradas ou quando os animais se rebelavam, como narrado no jornal "Gazeta da Tarde" de 1882: "No caminho, que da fazenda do Sr. Francisco de Paula Leite Penteado conduzia a esta cidade, aconteceu sábado passado um desastre em virtude de haverem disparado os animais do troly em que vinham aquele cavaleiro e sua senhora a qual fraturou uma perna quando o troly virou." (13)
Mas troly era também o nome genérico empregado para aqueles transportes por tração animal, como no caso do veículo usado para o transporte de gêneros diversos, alimentícios, cereais, animais, industriais, produtos de lavoura e materiais outros como pedra e areia. (14) Era portanto de entalhe e acabamento rudimentar, algo como uma "carroça", enfim.
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O que é (ou foi) um Trole? Do inglês Troley era um meio de transporte por tração animal (uma espécie de Ferro-carril) e que dele havia duas classes distintas. A que trafegava sob o chão batido: Charrete troly e sobre trilhos, o chamado Troly ferroviário.
Muito provavelmente, até que outro indício o indique ou evidencie, o que existiu por estas bandas foi o chamado Charrete troly. Digamos uma charrete de aspectos apropriados para um número maior de pessoas e com outros aparatos mais específicos. Mas... Existiu! Se existiu é história... E a história não se vai com os ventos...
NOTAS
(*) O jornalista Theodolindo Ferreira de Assis, um dos primeiros jornalista da região, era casado com Dona Isabel Alvarenga de Assis, e assim genro do Sr. major Francisco Batista de Alvarenga, pai da anterior e mencionados no artigo enviado ao jornal "Gazeta de Notícias".
(**)
Joaquim Coelho de Faria além de proprietário de uma linha de "Troly", era também proprietário de um dos seis hotéis existentes no distrito de Bicas. O proprietários dos demais outros hotéis eram: Luiz Felippe & Irmão, Antônio Claudiaco & Irmão, Antônio Cardlaco & Comp, Francisco Ferreira Nunes de Assis e João China & Comp. Assinala-se ainda a existência de mais dois hotéis, nos distrito sede, a Vila de Guarará, sendo proprietários Norberto José de Carvalho e Antônio Francisco Leandro (15)
(***) O maestro italiano Ciro Ciarlini, residente na cidade de Granja, Ceará, foi o fundador de uma renomada Filarmônica naquela cidade. (16) Ele fora casado com Adélia Piccinini Ciarlini e foram pais de 10 filhos: Maria Alice, Cláudio, Doralice, Clauder, Adalgisa, Raimundo, Cláucio, Vladimir, Juarez e Geni.
FONTES E REFERÊNCIAS:
1- Sinopse Estatística do Município de Mar de Espanha - Oficinas Gráficas da Estatística - Belo Horizonte, 1951;
2- Jornal "A Bússola" ANNO I, N.º 8, Bicas, 28 de abril de 1901;
3- Jornal "Gazeta de Notícias", terça-feira, 30 de junho de 1891;
4- Jornal "Minas Gerais", ANNO I, N.º 102 - Ouro Preto, quinta-feira, 4 de agosto de 1892;
4a- Jornal Gazeta da Tarde", 24 de novembro de 1882
5- Jornal "O Leopoldinense", ANNO III, N.º 6, 19 de janeiro de 1882;
6- Jornal "A Família", ANNO V, N.º160, 17 de maio de 1893;
7-Jornal "Cidade de Rio", 19 de março de 1893;
8-Jornal "Cidade de Rio", 13 de dezembro de 1896;
8a- Jornal "Cidade de Rio", 2 de abril de 1902;
9-Jornal "Cidade de Rio", 28 de setembro de 1897;
10-Jornal "Cidade de Rio", 30 de julho de 1900;
11-Jornal "Cidade de Rio", 12 de setembro de 1899;
12- Jornal "Diário do Comércio", ANNO II, N.º 613, 10 de agosto de 1890;
13- Jornal Gazeta da Tarde, 6 de julho de 1882.
14- Jornal "Diário do Comércio", ANNO IV, N.º 842, 28 de março de 1891;
15- Almanach do Município de Guarará - F. S. Teixeira, pgs. 43, 100 e 101
16- Lira Ganjense ANO 2 n 6 novembro de 2004 (liragranjense@yahoo.com.br) - http://pt.calameo.com/read/0020176194a30bb87b0e7
17- www.museudapessoa.net / _index.php / historia / 280-historia-de-vida / texto
16- Lira Ganjense ANO 2 n 6 novembro de 2004 (liragranjense@yahoo.com.br) - http://pt.calameo.com/read/0020176194a30bb87b0e7
17- www.museudapessoa.net / _index.php / historia / 280-historia-de-vida / texto
2 comentários:
O maestro Ciro Ciarlini é meu tataravô e ele não foi casado com Adélia Piccinini Ciarlini (minha bisavó), quem foi casado com ela foi seu neto Ciro Ciarlini (meu bisavô), filho do primeiro filho do maestro, Pierluigi Ciarlini.
Valeu pelos comentários... Vou corrigir...
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