LOPES NEVES
José Francisco Lopes Neves nasceu no estado do Rio de Janeiro em 28 de março de 1870. Cursou no Externato do Imperial Colégio de Pedro II (Diário do Brasil, ANNO II, N. 62, Rio de Janeiro Sábado 18 de março de 1882) e alguns anos depois vamos encontrá-lo em Lavras.(OPharol, quinta-feira, 21 de maio de 1891) redigindo o jornal "O Rio Grande". (OPharol, sexta-feira, 22 de maio de 1891) Em 1891 ele deixa a redação de O Rio Grande e passa a residir em Juiz de Fora onde é é agente da Educadora companhia de seguros de vida e educação, (OPharol, sexta-feira, de de junho de 1891). Em 1900 ele é secretário da Junta Apuradora de Mar de Espanha, sendo presidente o Dr. Francisco Infante Vieira. (OPharol, domingo, 9 de dezembro de 1900)
Em Bicas, distrito da cidade de Guarará, ele foi redator de "A Bússola". Jornalista intrépido e corajoso, sem papas na língua, ele foi alvo de ameaças, quando principiou uma verdadeira campanha pela punição dos culpados pelo assassinato do jornlista de a "Gazeta de Guarará" Francisco de Sequeiros Teixeira.
O Caso Teixeira
Lopes Neves, terá sido talvez, o jornalista que mais enfática e contundentemente, ocupou-se de clamar por justiça pelo assassinato do jornalista de "A Gazeta de Guarará", Francisco de Sequeiros Teixeira. Eram ambos da mesma imprensa regionalista, Teixeira em Guarará e Lopes Neves em Bicas, distrito de Guarará.
Lopes Neves acusava principalmente as autoridades de evitarem uma investigação clara e direta e de, através de subterfúgios fugirem à punição dos criminosos.
Outros jornais como o Pharol, de Juiz de Fora, no qual Lopes Neves era bem quisto, como homem de letras de raro talento, saia à defesa do defensor, nestas palavras: "Enquanto o incondicionalismo do sr Edgardo tateia,propositalmente, na descoberta do assassino do desventurado jornalista Teixeira, nós, em nome, quando de algo mais não fosse, da solidariedade de classe, pedimos venia ao colega da Bússola, para a transcrição do seguinte tópico do seu editoria1 a respeito do monstruoso fato, que só não comove àqueles que estão compreendidos na turba dos que o sr. Murtinho despreza: "Sem se fazer esperar e quando menos se contava com sua presença, veio o exmo. sr. Dr. chefe de policia, em pessoa, proceder a rigoroso inquérito sobre o bárbaro atentado que enlutou uma família e consternou a sociedade Guararense e a maioria da população deste município.
Quiséramos possuir os dados necessários sobre o inquérito feito e, com a coragem que não nos falta, apresentaríamos à execração pública os autores desse drama pungente, desenrolado no seio de uma sociedade que até hoje não desmereceu do elevado conceito em que é tida; em carência, porém, desses dados, aguardamos nós para fazer uma análise sucinta e desapaixonada das circunstâncias que rodearam o nefando crime do assassinato do nosso colega F. S. Teixeira, depois que, apresentado o relatório do exmo. sr. dr. chefe de policia, pudermos cotejá-lo com as provas esmagadoras que levam os menos esclarecidos á presunção inabalável de que não é estranho a esse bárbaro homicídio o ex delegado militar que, esquecendo os limites das suas atribuições, deixou de ser um agente de imediata confiança do dr. chefe de policia, um fiel executor de suas ordens, para se tornar um mero instrumento político, tanto mais perigoso, quanto é sabido que, pela melindrosíssima missão destes agentes do poder, sempre sobre eles paira uma certa soma de confiança da parte dos seus jurisdicionados."
O colega, a que nos reportamos, é editado em Bicas, distante de Guarará cerca de dois quilômetros.
Não o cega a paixão partidária, como dizem os que, ferozmente governistas, acham que só eles é que enxergam e veem claro...
O povo que julgue a posição em que fica o dr. Edgardo, embrulhando o inquérito, apesar de ouvir 30 testemunhas, e para chegar à conclusão de que era "pouco provável" a descoberta do criminoso. . que a Bússola terminantemente acaba de mostrar! (Jornal "O Pharol" ANNO XXXVI, N. 67 - Juiz de Fora, quarta feira, 18 de setembro de 1901)
Na semana seguinte o mesmo periódico de Juiz de Fora, saiu com mais essa coluna: "Com um heroísmo,digno de melhor sorte, vejo Lopes Neves, o corajoso redator da Bússola, de Bicas, lutar contra o mandonismo, que, ainda não satisfeito de se repastar no sangue do desventurado Teixeira, premedita a eliminação daquele que, tão nobremente está vingando a memória do infeliz, cujo assassino — em que peso ao que escrevem os meninos do coro da igrejinha incondicional - jamais há de ser preso e punido... [...] Lopes Neves, com o entusiasmo dos moços, com um desprendimento de vida pouco comum, empenha-se no combate pela verdade, embora saiba, porque já lhe foi dito, que a sua vida depende tão somente da "certeza da pontaria de uma garrucha".
Chegamos a esta perfeição, nós os jornalistas, que defendemos as causas da justiça e da verdade: sobre a mesa, em que estivermos escrevendo, temos que colocar o revólver... para o que der e vier, bem que essas eliminações sejam sempre praticadas á traição...
Quem lê "A Bússola" não se iluda a respeito do sacrifício do pobre Teixeira, cujos filhinhos a caridade está amparando, enquanto os implicados no assassinato afrontam as leis, certos, como estão, de que ninguém os chamará a contas... "Um jornalista de menos, um crime de mais" escreve Lopes Neves, comentando a desfaçatez com que se vai protelando esse fato hediondo, que só não apavora aos que mercadejam o periodismo...
O tempo há de passar... o cadáver do assassinado, no trabalho misterioso do túmulo, tornar-se-á em pó... os orfãozinhos hão de sofrer os dias negros da pobreza... o o crime ficará impune, porque assim é preciso, porque a ordem é mesmo essa...
E Lopes Neves será muito feliz, se conseguir escapar aos ódios que fremem em derredor dele, roncando como um bando de felinos, farejando sangue - o repasto predileto da tirania escancarada com os mandonetes de aldeia, reminiscências dos tempos da escravidão.
No regime das mentiras, em que vivemos, os pregoeiros da verdade, quando não são insultados, são eliminados pelo bacamarte dos capangas, muito dignos eleitores e, não raro, briosos oficiais da Guarda Nacional, cujos chanfalhos o governo não cessa de distribuir por todo o país, ávido de tetéias e de se mostrar ridiculamente pulha." (Jornal "O Pharol" ANNO XXXVI, N. 73 - Juiz de Fora, quarta feira, 25 de setembro de 1901)
Por conta de suas incursões incisivas nas colunas da Bússola, em prol da justiça, ele sofre ameaças e perseguições, como atesta o Pharol: "Segundo depreendemos de um artigo subordinado "Na defensiva", inserido na "Bússola" da estação de Bicas, é cada vez mais arriscada a posição de seu redator, o nosso colega Lopes Neves, que tem levantado os ódios do mandonismo guararense tão somente porque, em nome da solidariedade jornalística, o nosso confrade não cessa do pedir justiça para os matadores do desventurado Teixeira, sacrificado àqueles ódios.
Tão verdade é isto que Lopes Neves afirma quererem os partidários de um fidalgo, que impera em Guarará, "uma justificativa para outro atentado igual ao do já citado jornalista"..." (Jornal "O Pharol" ANNO XXXVI, N. 174 - Juiz de Fora, quinta-feira, 23 de janeiro de 1902)
Todavia a liberdade e a censura na imprensa da época, parecia ser uma tônica, como diz o Pharol: "... Até hoje, esses crimes tem ficado impunes, e já não causam grande mossa, tanto que eles se repetem, e a imprensa carioca publica, sem o menor comentário, telegramas de jornalistas provincianos, clamando por providencias por se verem seriamente ameaçados na vida e na propriedade. Se a Providência não os salva, bem aviados estarão eles esperando que alguém se doa por suas peasoas. O jornalista Teixeira foi trucidado barbaramente ali em Guarará. O processo está sendo feito com uma morosidade que não irrita, porque é perder tempo zangar-se a gente diante de alguns homens que estão protegendo os mandantes. "A Bússola", pela pena de Lopes Neves, não cessa de profligar o crime, a que mais de uma vez tem o Pharol feito referências.
As nossas palavras não encontram eco lá fora, e aqui encontram apenas o sofisma grosseiro da chefia de polícia, cujo magistrado entende que é infalível, e, portanto, intangível à censura..." (Jornal "O Pharol" ANNO XXXVI, N. 194 - Juiz de Fora, domingo, 16 de fevereiro de 1902)
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Foi, em Minas Gerais, um dos grandes nomes do jornalismo e da literatura, sobretudo a poesia.
Em Juiz de Fora, junto com Lindolfo Gomes, redigiu a "Noticia", vespertino que fez época. Antes e depois desse tempo, fundou e dirigiu, em vários pontos do Estado, diversos outros periódicos e colaborou em outros de renome a exemplo de "O Pharol".
Varias vezes sufragado para a Academia regional de Juiz de Fora. Lopes Neves "... conhecia a técnica do verso e a tessitura da língua, foi um poeta medíocre; mas era um jornalista primoroso [...] um dos nomes de vanguarda da imprensa da Zona da Mata..." (14) e, talvez de toda a Minas Gerais. Escreveu ele vários livros, entre os quais; "Vermes", poesias, e "Porca!" novela de costumes mineiros.
Embora falto de uma das pernas, posto que, vitimado por uma doença, tivera que vê-la amputada, resignando-o assim a uma vida de relativa privação, ele vivera quase que sempre às expensas do lucro obtido dos periódicos em que labutava, fosse como proprietário, redator ou colunista e às vezes como advogado leigo em defesa de algum que de seus serviços carecesse.
Lopes Neves depois de algum período dedica-se ao magistério, ao mesmo tempo que é diretor do diário "Comércio da Mata", na cidade de Carangola. Com residência fixa nessa cidade, ele é também o diretor do Grupo Escolar.(*)
Lopes Neves morre em Carangola aos quarenta e dois anos, em 18 de novembro de 1912, "...depois de contrair uma moléstia. O professor mais antigo do Grupo, Archimedes Pedreira Franco, assumiu o cargo interinamente, mandando “hastear a bandeira em funeral” e suspendendo as aulas por três dias, aproveitados também para obter do “presidente da Câmara Municipal os meios para fazer uma limpeza rigorosa no prédio, visto ser contagiosa a moléstia que vitimou o diretor.” (Cf. SI 3403, Arquivo Público Mineiro)
Um pouco antes de sua morte ele apresentara uma tese sobre o ensino primário no II Congresso brasileiro, reunidos entre os dias 28 setembro a 4 de de outubro de 1912 na cidade de Belo Horizonte.
Do seu casamento com dona Luisa Neves ficam dois filhos menores.
OBRA:
Vermes 1901 (poesia) Tipografia Matoso - Juiz de Fora (Jornal "O Pharol", quarta-feira, 14 de agosto de 1901)
ADENDOS
(*) - Criado em 26 de agosto de 1908 e inaugurado em 20 de setembro do mesmo ano, o Grupo Escolar de Carangola tinha o seguinte quadro de docentes: Diretor: José Francisco Lopes Neves; Professores Archimedes Pedreira Franco, Minervina de Carvalho Tavares, Esther de Azevedo, Amalia Rodrigues Gonçalves, Alexandrina Dutra de Carvalho, Maria de Azevedo, Leonor Martins Bhering, Maria dos Reis.
(**) A Typografia Mattoso, da firma Mattoso & Medeiros, foi fundada em Juiz de Fora, na década de 1890, realizava trabalhos tipográficos, de pautação, encadernação e foi responsável, entre 1896 e 1899, pela edição do Almanaque de Juiz de Fora.
NOTAS E REFERÊNCIAS
- Jornal "O Pharol", ANNO XLVII, N.º 276 - Juiz de Fora, quinta-feira, 21 de Novembro de 1912;
- PAES, Lycudio. - Brevidades: Crônicas, (Organização e apresentação: Regma Maria dos Santos), 2002 EDUC-EDITORA DA PUC-SP
- SOBRE O “SONHO GLORIOSO DE DERRAMAR SOBRE A INFANCIA MINEIRA O BÁLSAMO VIVIFICADOR DO ENSINO PUBLICO”: fragmentos... (1906-1912)
Tarcísio Mauro Vago1 - Universidade Federal de Minas Gerais Belo Horizonte, MG
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