SÃO JOÃO NEPOMUCENO, 6 DE SETEMBRO DE 1888
Aqui
chegou a 30 do mês passado como se esperava, o dr. Carlos Ferreira Alves
representante do 10º distrito na assembleia provincial mineira.
Sua
ex. foi recebido por um grande numero de seus amigos correligionários que na
estação desta cidade aguardaram a sua vinda.
As
harmonias musicais da sociedade Lyra Sanjoanense, o estrugir das bombas dos
foguetes, a regurgitação da galé que estava literalmente cheia, davam a esta
recepção um aspecto imponente.
O
sr. dr. Alves foi abraçado por todos os seus amigos presentes que o acompanharam
até a casa do sr. Cândido Pereira de Noronha e Silva, onde s. ex. jantou com
alguns deles.
Vieram
em sua companhia O tenente José Rabelo Teixeira, escrivão de órfãos desta
cidade e um dos redatores do Municipio, o cidadão Antonio Pacheco de Sá que
havia ido á estação de Rochedo com o pessoal da tipografia esperar s. ex. e
oferecer-lhe como homenagem por parte da empresa um cartão com a inscrição em
letras douradas.
Às
6 horas da tarde reuniram se de novo os seus amigos, à Sociedade Italiana de
Socorro Mútuo, a sociedade musical Lyra Sanjoanense, estas com seus
estandartes, e dirigiram-se à chácara do sr. dr. Alves para o cumprimentarem
pelo seu regresso. Sua ex. os recebeu com aquela lhaneza que lhe é peculiar.
Houve
como soe acontecer nestes casos, música, foguetes, discursos e copo d'água.
Foi
orador oficial por parte do povo o sr. dr. José Augusto Gomide que em bem
elaborada oração manifestou ao ilustre representante do distrito, ao amigo
dedicado, o contentamento do povo Sanjoanense pelo seu regresso depois de sua
fatigosa, mas benéfica, cooperação na assembleia mineira em prol do município,
da província e da pátria.
Falou
por parte do fórum e ainda do povo o advogado dr. Manoel Gomes Tolentino que
eloquentemente manifestou os mesmos sentimentos.
Tomou
depois a palavra o sr. Cantídio, jovem e esperançoso filho do dr. Tolentino, o
qual, cheio das novas ideias reformistas, num arrojado e por isso mesmo pequeno
discurso, congratulou-se com a manifestação Sanjoanense, esperando ver em um
dia, que não está longe, aproveitada a inteligência do ilustrado sr. dr. Alves
na presidência do poder do povo pelo povo.
Falou
depois por parte da colônia italiana o advogado Luciano de Souza Lima, que
salientou as virtudes cívicas do deputado mineiro, as qualidades morais do
ilustre cidadão, do médico caritativo e do amigo dedicado.
O
sr. dr. Alves agradeceu comovido esta manifestação da amizade e consideração
que lhe tributavam seus amigos, sentimentos esses de que por vezes já tem tido
provas sobejas.
Falaram
ainda os srs. Antonio Balbino de Lima, o revdmo. vigário Francisco Rodrigues
Condé e o inteligente 40 anista da faculdade de medicina, Arthur Vieira de
Mendonça, membro da importante família Furtado de Mendonça deste município, e
muitos outros cujos nomes agora me escapam.
Continuaram
ainda inter pocula os brindes e discursos, que se prolongaram até as 9 horas da
noite, mostrando o sr. dr. Alves rasgos de verdadeira eloquência, combatendo
algumas das ideias reformistas que, dizia, tendem a desmoronar o edifício
social.
Concitando
os seus companheiros a manterem-se firmes em seus postos, e parodiando o
general francês que nas últimas agonias de Waterloo respondeu a intimação que
lhe fizeram os vencedores — La garde meurt mais ne se rend pas!, - disse num tom
decisivo e convicto: O partido conservador de São João Nepomuceno morre mas não
se rende.
Deu
fim a esta festa o brinde de honra levantado à sua majestade o imperador pelo
sr. dr. Alves, o qual foi calorosamente correspondido.
Jornal "O Pharol", quarta-feira, 12 de
setembro de 1888







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