quinta-feira, 15 de maio de 2014

DR. CARLOS FERREIRA ALVES - 6 DE SETEMBRO DE 1888



SÃO JOÃO NEPOMUCENO, 6 DE SETEMBRO DE 1888

Aqui chegou a 30 do mês passado como se esperava, o dr. Carlos Ferreira Alves representante do 10º distrito na assembleia provincial mineira.
Sua ex. foi recebido por um grande numero de seus amigos correligionários que na estação desta cidade aguardaram a sua vinda.
As harmonias musicais da sociedade Lyra Sanjoanense, o estrugir das bombas dos foguetes, a regurgitação da galé que estava literalmente cheia, davam a esta recepção um aspecto imponente.
O sr. dr. Alves foi abraçado por todos os seus amigos presentes que o acompanharam até a casa do sr. Cândido Pereira de Noronha e Silva, onde s. ex. jantou com alguns deles.
Vieram em sua companhia O tenente José Rabelo Teixeira, escrivão de órfãos desta cidade e um dos redatores do Municipio, o cidadão Antonio Pacheco de Sá que havia ido á estação de Rochedo com o pessoal da tipografia esperar s. ex. e oferecer-lhe como homenagem por parte da empresa um cartão com a inscrição em letras douradas.
Às 6 horas da tarde reuniram se de novo os seus amigos, à Sociedade Italiana de Socorro Mútuo, a sociedade musical Lyra Sanjoanense, estas com seus estandartes, e dirigiram-se à chácara do sr. dr. Alves para o cumprimentarem pelo seu regresso. Sua ex. os recebeu com aquela lhaneza que lhe é peculiar.
Houve como soe acontecer nestes casos, música, foguetes, discursos e copo d'água.
Foi orador oficial por parte do povo o sr. dr. José Augusto Gomide que em bem elaborada oração manifestou ao ilustre representante do distrito, ao amigo dedicado, o contentamento do povo Sanjoanense pelo seu regresso depois de sua fatigosa, mas benéfica, cooperação na assembleia mineira em prol do município, da província e da pátria.
Falou por parte do fórum e ainda do povo o advogado dr. Manoel Gomes Tolentino que eloquentemente manifestou os mesmos sentimentos.
Tomou depois a palavra o sr. Cantídio, jovem e esperançoso filho do dr. Tolentino, o qual, cheio das novas ideias reformistas, num arrojado e por isso mesmo pequeno discurso, congratulou-se com a manifestação Sanjoanense, esperando ver em um dia, que não está longe, aproveitada a inteligência do ilustrado sr. dr. Alves na presidência do poder do povo pelo povo.
Falou depois por parte da colônia italiana o advogado Luciano de Souza Lima, que salientou as virtudes cívicas do deputado mineiro, as qualidades morais do ilustre cidadão, do médico caritativo e do amigo dedicado.
O sr. dr. Alves agradeceu comovido esta manifestação da amizade e consideração que lhe tributavam seus amigos, sentimentos esses de que por vezes já tem tido provas sobejas.
Falaram ainda os srs. Antonio Balbino de Lima, o revdmo. vigário Francisco Rodrigues Condé e o inteligente 40 anista da faculdade de medicina, Arthur Vieira de Mendonça, membro da importante família Furtado de Mendonça deste município, e muitos outros cujos nomes agora me escapam.
Continuaram ainda inter pocula os brindes e discursos, que se prolongaram até as 9 horas da noite, mostrando o sr. dr. Alves rasgos de verdadeira eloquência, combatendo algumas das ideias reformistas que, dizia, tendem a desmoronar o edifício social.
Concitando os seus companheiros a manterem-se firmes em seus postos, e parodiando o general francês que nas últimas agonias de Waterloo respondeu a intimação que lhe fizeram os vencedores — La garde meurt mais ne se rend pas!, - disse num tom decisivo e convicto: O partido conservador de São João Nepomuceno morre mas não se rende.
Deu fim a esta festa o brinde de honra levantado à sua majestade o imperador pelo sr. dr. Alves, o qual foi calorosamente correspondido.


Jornal "O Pharol", quarta-feira, 12 de setembro de 1888

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