segunda-feira, 19 de maio de 2014

FERRO-CARRIL GUARARENSE

BONDES EM GUARARÁ

No dia 28 [de dezembro de 1898] deram entrada na linha férrea um bonde e um wagon para carga, que devem funcionar com a regularidade que o horário determinar, após a chegada de mais um bonde que ainda falta e não deve demorar.
O bonde e o vagonete vieram cheios desde Bicas a esta Vila, entre as quais notamos o digno sr. Agente Executivo, o ilustre clinico Dr. Emílio Luiz Rodrigues HortaO sr. Paschoal Lamoglia. contratante dos bondes ofereceu cerveja às pessoas presentes. 
Em seguida, dirigindo-se as mesmas pessoas ao ponto dos bondes, seguiu o mesmo para Bicas, cheio, em experiência da linha e do Bonde, que provou, ao se procederem alguns reparos na linha e no aperto das rodas, pode funcionar perfeitamente.
A viagem de ida e volta, fez-se sem incidentes dignos de nota.
O bonde é bem construído, bonito e forte para o serviço a que é destinado; sendo o wagon nas mesmas condições.

Finalmente o bonde é uma realidade em Guarará, razão porque os pessimistas perderam mais um tento..."
Inauguração dos bondes
"... Do digno agente executivo [Sr. Álvaro Fernandes Dias], recebemos um ofício, convidando-nos a assistir a inauguração dos bondes que tem de funcionar na linha de Guarará a Bicas e vice-versa e que terá lugar no dia 15 deste mês [janeiro de 1899].
A inauguração será solenizada com a bênção do virtuoso Sr. padre José Juvêncio de Andrade, vigário da Vila.
Em seguida partirão os dois bondes para Bicas, sendo um bonde destinado para a corporação da câmara municipal e o outro para os convidados.
O wagonet destinado a cargas também acompanhará os bondes, equivale a dizer-se que os que não tiverem lugar nos bondes, embarcarão no wagonet.
O sr. Paschoal [Lamoglia], contratante, já mandou encomendar as bandeiras e os galhardetes para a ornamentação da solenidade.
Também mandou vir cerveja..."

Jornal "Gazeta de Guarará", 1 de janeiro de 1899


Guarará àquela época, assim se descrevia aos olhos do Dr. Floriano de Lemos em sua novela "A Flor do Vasa": 
"Guarará... a... localidade, ela apresentava um aspecto muito comum entre as outras vilas do interior do nosso país. — Poucas ruas, todas por calçar e apenas, a intervalos, com um passeio de lajedo; todas cavadas na argila e irregularmente alinhadas. Casas de fachada e altura variáveis, segundo o habitua estilo indígena.
Das principais ruas, quatro iam ter a uma grande praça central — o largo do Divino.
Esse largo do divino é, por assim dizer, o coração de Guarará.
Nele achavam-se instalados, naquele tempo, os mais importantes estabelecimentos da vila, a modesta sede do correio, a tipografia da Gazeta de Guarará — jornal fortemente oposicionista, apesar de ser então o único órgão do lugar; e ainda muitas e muitas casas de negócio, entre as quais sobrelevavam esses armazéns característicos, altamente expressivos, que tanto se vê pelo interior, e que são na realidade uma miscelânea complicada e complexa, onde se vendem, numa curiosa mistura, toucinho e metros de fazenda, chapéus de palha e feijão nacional...
Frequentemente, um circo de cavalinhos vinha armar no centro da praça os seus penares ambulantes. Era uma delicia para os sossegados moradores da vila.
À noite, a função corria animada e o circo ficava repleto de capitães; majores e outras potências da Guarda Nacional de lá. Aliás, tratava-se, via de regra, do sr. farmacêutico X., do estimado padeiro Y., ou do antigo sapateiro Z... E de resto isso é familiar, nos nossos Estados a dentro.
[...]... pode-se dizer que o largo do Divino dividia Guarará em duas partes desiguais. Uma ficava para as bandas de Bicas e era constituída por algumas ruas feias, com poucas casas, tendo nomes grotescos: rua do Sapo, rua do Pito... Outra, com aspecto bem mais gazil (elegante), possuía ruas abertas no sopé de verdejantes colinas, onde se via quase sempre, passeando descansado, um ou outro exemplar equídeo.
A esta ultima parte, os nativos chamavam, genericamente, o Vasa. Era no Vasa que residia o maior número de famílias do Guarará.
 Havia ai mais beleza física, mais alegria na paisagem, mais trato na gente. Por isso, não estava longe de reinar uma séria animosidade entre a rapaziada de além-largo do Divino para com a do Vasa, animosidade essa por vezes derivada em encarniçados conflitos, onde o guanambú não verga e junco, que não quebra, eram as armas de predileção...."

 

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