domingo, 11 de maio de 2014

O BOTICÁRIO SR MOTTA



PUBLICAÇÃO A PEDIDO
Do Espírito Santo do Mar de Espanha

Não temos ainda a distinta honra de conhecer a um sr. Motta, boticário que muda-se do Mar de Espanha para aqui, aonde vem estabelecer sua botica em razão de nenhum negocio fazer ali; ao que, porem, nos parece, este sr. Motta não é pouca coisa.
O sr. Motta, mudando-se para aqui, como de fato muda-se, só tem em vista aceder ao pedido de seus amigos, que desejam muito seu interesse, assim como também o prejuízo que daí se seguirá para alguém.
Enganam! O sr. Motta, pois, faz grandes sacrifícios deixando a vida da cidade pela da roça; os prazeres do deleitável hotel - Belarmino pelos do Universal; deve merecer muita consideração o amigo que assim procede para com os seus, e claro está que o sr. Motta há de fazer muito interesse.
Há dias estando nós à rua do Comércio, [em Mar de Espanha], vimos passar entre os srs Cândido e Chico Noronhas (Cândido Pereira de Noronha e Silva (1834-1892) e Francisco Joaquim de Noronha e Silva (1832-1897) um rapagote de peras e bigodes, todo bonitinho; como era natural, admiramos de ver gente nova em terra velha, perguntamos então quem era aquele indivíduo assim... assim que estava hospedado em casa dos srs. Noronhas e constantemente rodeado pelos mesmos? Responderão-nos então que era o distinto sr. Motta boticário, etc. etc., e que linha vindo procurar uma casa para vir estabelecer-se com sua botica. Constou-nos logo que o sr. Chico Noronha meteu o peito no negócio, e nada podendo fazer, cedeu o cômodo do negocio de sua casa, e aí está preparando uma armação imperial para o sr. Motta; é tão bonitinho que até parece com a desfrutável rodinha.
Depois de tudo neste estado, lá se foi o sr. Motta muito contente para o Mar de Espanha, dizendo a todos o quanto vinha ser feliz no Espírito Santo [do Mar de Espanha] por ter uma proteção redonda etc. Foi em uma dessas ocasiões que o sr. Motta, perguntado por pessoa séria que tal achava o Espírito Santo [do Mar de Espanha] e seu povo? Assim respondeu: "é tudo ali uma canalha; para nenhum tirei o chapéu e nem tirarei, depois que lá estiver morando."
Fomos logo informados do elogio com que nos havia brindado o sr. Motta, e ficamos muito contentes esperando ocasião de mais tarde podermos agradecer ao sr. Motta. O recomendável (já se sabe, á policia) médico deste lugar está muito satisfeito com a vinda do sr. Motta, e garante a todos que de ora em diante nenhum de seus doentes morrerá (*), pois que tem um bom boticário etc e que se seus doentes sempre morrem é porque o boticário do lugar altera sempre suas receitas, tirando seu efeito primitivo. Damos nossos parabéns ao sr. Francisco Joaquim, e estimamos que Ss. até agora tão caipora, seja muito feliz com o auxilio de seu imediato boticário.
O povo agradece ao distinto sr. Motta as delicadas expressões com que brindou-o, assim lambem ao medico que vai se tornar útil, e, em sua segunda carta, acabará de agradecer a ss. ss. o quanto estão se esforçando pela sua saúde.
15 de setembro de 1866 - Populus
(Publicado no Jornal "Diário de Minas")

 (*) Está aqui há três anos e ainda não deu remédio a um só doente que não morresse: este medico é o bom sr. Francisco Joaquim Pereira da Silva.

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