PUBLICAÇÃO A PEDIDO
Do Espírito Santo do Mar de Espanha
Não temos ainda
a distinta honra de conhecer a um sr. Motta, boticário que muda-se do Mar de
Espanha para aqui, aonde vem estabelecer sua botica em razão de nenhum negocio
fazer ali; ao que, porem, nos parece, este sr. Motta não é pouca coisa.
O sr. Motta,
mudando-se para aqui, como de fato muda-se, só tem em vista aceder ao pedido de
seus amigos, que desejam muito seu interesse, assim como também o prejuízo que
daí se seguirá para alguém.
Enganam! O sr.
Motta, pois, faz grandes sacrifícios deixando a vida da cidade pela da roça; os
prazeres do deleitável hotel - Belarmino pelos do Universal; deve merecer muita
consideração o amigo que assim procede para com os seus, e claro está que o sr.
Motta há de fazer muito interesse.
Há dias estando
nós à rua do Comércio, [em Mar de Espanha], vimos passar entre os srs Cândido e Chico Noronhas (Cândido Pereira de Noronha e Silva (1834-1892) e Francisco Joaquim de Noronha e Silva (1832-1897) um
rapagote de peras e bigodes, todo bonitinho; como era natural, admiramos de ver
gente nova em terra velha, perguntamos então quem era aquele indivíduo assim...
assim que estava hospedado em casa dos srs. Noronhas e constantemente rodeado
pelos mesmos? Responderão-nos então que era o distinto sr. Motta boticário,
etc. etc., e que linha vindo procurar uma casa para vir estabelecer-se com sua
botica. Constou-nos logo que o sr. Chico Noronha meteu o peito no negócio, e
nada podendo fazer, cedeu o cômodo do negocio de sua casa, e aí está preparando
uma armação imperial para o sr. Motta; é tão bonitinho que até parece com a desfrutável rodinha.
Depois de tudo
neste estado, lá se foi o sr. Motta muito contente para o Mar de Espanha,
dizendo a todos o quanto vinha ser feliz no Espírito Santo [do Mar de Espanha] por ter uma proteção
redonda etc. Foi em uma dessas ocasiões que o sr. Motta, perguntado por pessoa
séria que tal achava o Espírito Santo [do Mar de Espanha] e seu povo? Assim respondeu: "é tudo
ali uma canalha; para nenhum tirei o chapéu e nem tirarei, depois que lá
estiver morando."
Fomos logo
informados do elogio com que nos havia brindado o sr. Motta, e ficamos muito
contentes esperando ocasião de mais tarde podermos agradecer ao sr. Motta. O
recomendável (já se sabe, á policia) médico deste lugar está muito satisfeito
com a vinda do sr. Motta, e garante a todos que de ora em diante nenhum de seus
doentes morrerá (*), pois que tem um bom boticário etc e que se seus doentes
sempre morrem é porque o boticário do lugar altera sempre suas receitas,
tirando seu efeito primitivo. Damos nossos parabéns ao sr. Francisco Joaquim, e
estimamos que Ss. até agora tão caipora, seja muito feliz com o auxilio de
seu imediato boticário.
O povo agradece
ao distinto sr. Motta as delicadas expressões com que brindou-o, assim lambem
ao medico que vai se tornar útil, e, em sua segunda carta, acabará de agradecer
a ss. ss. o quanto estão se esforçando pela sua saúde.
15 de setembro de
1866 - Populus.
(Publicado no Jornal "Diário de Minas")
(*) Está aqui há
três anos e ainda não deu remédio a um só doente que não morresse: este medico
é o bom sr. Francisco Joaquim Pereira da Silva.
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