terça-feira, 24 de junho de 2014

O CINE TEATRO PAZ

O CINE TEATRO PAZ


Fomos, ontem, visitar as obras do novo cinema, à rua Halfeld, na antiga casa de moveis Corrêa & Corrêa.
Recebeu-nos o Sr. coronel José Ribeiro de Oliveira e Silva, sócio principal da firma proprietária J. Ribeiro & Comp., e iniciamos então a nossa visita.
A impressão que tivemos foi a mais grata e salutar por termos verificado com que luxo, arte e conforto está sendo construída esta nova casa de diversões, como também por vermos que nossa cidade enfim será dotada com um teatro digno de seu atual desenvolvimento, e isto deve-se ao espírito empreendedor de um abastado capitalista que, apesar de aqui residir há pouco tempo, já é um incansável trabalhador pelo seu maior progresso.
Em rápidos traços vamos descrever como está sendo executada essa obra, em boa hora confiada ao competente industrial Sr. Carlos Meurer.
Como se sabe, o prédio da antiga fábrica Corrêa é de sólida construção, comprovada pelo funcionamento, durante 30 anos, de inúmeras e pesadas máquinas de indústria.
Pois bem, na reforma por que está passando agora, todo o emadeiramento foi modificado, sendo aliviado de muito peso que o sobrecarregava.
A caixa do teatro foi construída sobre sólidos alicerces e pilastras de tijolos e, pelo seu tamanho avantajado, nela pode ser representada qualquer peça, por muito movimentada que seja.
A cabine do projetor elétrico é completamente isolada da caixa, conforme exigência da Câmara, não havendo por isso perigo algum.
Os 36 camarotes e varandas são feitos sobre forte base de pedra e tijolos, oferecendo assim máxima segurança.
O teto do vasto edifício é todo forrado a xadrez, formando desenhos de muito gosto e facilitando a ventilação que ali é muita ampla, aumentada em caso preciso por seis grandes ventiladores.
A plateia é enorme e nada deixa a desejar quanto a comodidades.
Haverá uma sala de recreio para os frequentadores de camarotes, montada com todo capricho, inclusive instalações sanitárias.
A sala de espera, pelas explicações que tivemos, terá irrepreensível luxo e arte, e está incumbida de sua construção a conhecida fábrica de móveis "A Competidora", localizada na Rua da Imperatriz, de propriedade do Sr. Daniel Pinto Corrêa Sobrinho, exímio industrial, e que fizera um extraordinário na construção das arquibancadas do "Tupy Foot-ball Club", encomendadas pelo Sr. Francisco Valadares, e inauguradas em junho passado (1919).
Quanto à instalação elétrica e pintura, nada precisamos dizer porque estão entregues a dois hábeis artistas: os Srs. José Maria e Xisto Valle de Assis.
Pelas linhas acima vê-se que o Sr. José Ribeiro de Oliveira e Silva virá resolver um problema até há pouco julgado como insolúvel, isto é, o da existência em nossa cidade de um excelente teatro que possa receber boas companhias, e onde o público passe umas horas agradáveis, mediante preço módico.
À firma J. Ribeiro & Comp. apresentamos os nossos parabéns e votos de felicidades.
Durante essa visita fizemo-nos acompanhar do Sr. Daniel Pinto Corrêa Sobrinho, que gentilmente nos prestou valiosos informes, os quais agradecemos.
Quanto ao pintor Xisto Valle de Assis, ele foi escolhido a dedo e de um modo muito fortuito pelos irmãos José Ribeiro de Oliveira e Silva e Arlindo Ribeiro de Oliveira. Filho de escravos, Xisto tinha desde cedo, um talento natural para as artes, tendo sido tipógrafo, desenhista, pintor, pintor autodidata, caricaturista, fotógrafo e cineasta atuando juntamente com João Carriço.
Seu vasto curriculum incluía a participação, em 1913, em Juiz de Fora, do centenário comemorativo ao compositor Giuseppe Verdi, que teve lugar no “Teatro Juiz de Fora”, na Rua Espírito Santo, quando ele pintou o retrato do compositor italiano; nas alegorias dos carnaval de 1914 ao lado de João Carriço e de dois pintores cutubas; nas alegorias dos carnaval de 1915 ao lado de Heitor Guimaaes, Braz Xavier, Bastos Junior e Luiz Aroeira; na criação, em 1915, do atelier “Fotografia Popular”, juntamente com os irmãos Cortez; da participação nas alegorias do carnaval de 1916; a composição dos cenários do Cinema Ideal quando do “Festival Artístico” e da decoração do “Comercial Club”, em 1917; a pintura, em fevereiro de 1919, dos cenários do “Cine Teatro Vésper”, que se inauguraria naquele mês; da participação no carnaval 1919, etc.

XISTO VALLE DE ASSIS (1878-1928)

Em sua terceira exposição de pinturas, inaugurada em 13 a 17 de março de 1913, num dos salões do prédio n. 142 da rua Direita, o pintor expôs 38 de seus quadros, cujos motivos representavam a natureza morta, figuras, pinturas históricas, várias paisagens de lugares como Juiz de Fora, Belo Horizonte e Rio Novo, retratos, marinhas, estudos diversos, um quadro intitulado a Tentação, representando o cena bíblica de Cristo no deserto, frutas, e outros.
Dentre todos os trabalhos, mereceram destaque, principalmente, as paisagens e, as frutas, entre as quais e, de uma naturalidade flagrante, umas bananas e umas mangas.
Dono de um talento ímpar e de uma inteligência artística arquetípica, o modesto pintor teve sua exposição visitada por grande número de pessoas e, vários de seus quadros expostos comprados, dentre os compradores, constavam os senhores os Geraldos e os srs. Altivo Halfeld e o capitão Antonio Carlos Horta.

COMPANHIA ARRUDA

Está, como era de se esperar, causando grande interesse a vin­da da Companhia Arruda, que dará uma récita de seis espetá­culos no Cinema-Teatro Paz.
A Companhia, conforme temos noticiado, estreará no dia 28 do corrente mês, encerrando-se hoje as assinaturas.    
Até ontem haviam tomado assinaturas:
Camarotes:
Cel. Agilberto Costa, Guerino Binda, Dr. Pedro Vieira Mendes, J. G. Martins, Cel. Vidal Barbosa Lage, Fagundes Netto, Ivone Alves.
Cadeiras e varandas:
Sílvio Massena, Amaro Cavalcanti, Jaime Corrêa, Leônidas Assis Pint0, Roberto Teixeira, Cel. C. Ministério, Alcides Alves, Romeu Arcuri, Mario Cataldi, Dr. Ormindo Maia, Fortes Bustamante, Otílio Galhardo, Teófilo Ribeiro, Heráclio Alves, Luiz Corrêa, Francisco Halfeld, Pedro Franco, João Quintino, João Canoso, Mozart Magalhães, Urbano Maia, Dr. José Mendonça, M. Moreira, Gabriel dos Reis Vilela, Abril Alves, Salvador Polly, Carlos Pagy, Alberto Fonseca, Álvaro Fontes, Eliseu Pedroso, D. A. Tostes, Dr. João Massena, Cap. Pacca, Dr. Pedro Costa, Carlos Monteiro, J. Campos, João de Assis, Henrique Meurer Sobrinho, Eugenio Cavagnero, Jarbas Lery Santos, Oswaldo Jardim, Touphy Jorge, Orlando Machado, Fernandes Rezende, José de Oliveira, Arlindo Winter, Clemente Zero, Aristomenes Rosa, Mario Arcuri, Luiz Ruffolo, Nestor Santos, Umberto Gaburri, Mario Braga, Cel. Francisco Eugenio de Rezende, Ravolin, S. H. Campos, José Franco, José Seixas, Aristides Sopro, Zeferino Gomes da Fonseca, José Lopes de Almeida, Cap. Góes, Rafael Arcuri, João Stehling, Cap. Oberlander, Euquério Rodrigues, Fotofísio, Hilário Horta, A. Sá   Fortes, Guerino Binda, Augusto Brandão, João Ribeiro Coelho, J. Beghelli, M. Gonçalves da Silva, Antenor Barbosa, José Al­varenga, Hugo Weingrill, José Augusto Fontes, José de Rezen­de Loures, Daniel Pinto Corrêa Sobrinho, Joaquim Martins de Carvalho, Dr. João d’Avila, viúva Bechthifft, Pedro de Stéfano, Cel. Soares da Silva, Assis Filho, Severo Lapadulla, Vicen­te Manzini, Carelli Rufaelle Caiaffa, Leopoldo Silveira, Gilberto Goulart, Antonio José de Mat­tos, Francisco Andrade Junior, J. Rômulo Bisaglia, Heitor Ma­gno Vieira, Olegário Gerheim, Henrique Simões, Casa Electro, F. Lobo Sobrinho, Luiz Grazziani, Aristides Rocha, Antonio Pe­reira, Dr. Hermogeneo de Quei­roz, José Monteiro de Barros, José Teixeira Alves Costa, Cap. Ashton, Augusto Magalhães, Anália Barros, Jaime Lage, Luiz Enéas, Custodio Rezende, Dr. Cícero Tristão, Raimundo Guimarães, Tte. Emílio Chaves Teixeira, José Antônio, Dona Ber­ta Paletta, Zeferino de Andrade, Álvaro G. Franco, Aníbal Lima, Claudio Fernandes, Ripper, José Dutra, Jaime Jenz, Miguel Sirimarco, Angelo Andrade Souza, Antonio Franco, José do Valle, Falcão, Antonio Matheus, Paulo Rocha, Dr. Tancredo Alves, viúva Meurer.



FONTES E REFERÊNCIAS
- Jornal “O Pharol”, 14 de março de 1913
- Jornal “O Pharol”, 19 de março de 1913
- Jornal “O Pharol”, 4 de outubro de 1919;
- Jornal “O Pharol”, 26 de setembro de 1923.

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