O
POETA MARGARIDA
Em outros tempos, fim do século passado
e início deste, no áureo período de nossa terra, que foi chamado “época dos Agostinhos”, porque lembrava o
tempo dos chefes eminentes que comandaram a política e a administração mardespanhense,
com repercussão em todo o Estado, naquele tempo, vivia por aqui o poeta Manoel
Margarida.
Era uma alma de artista, esse Manoel
Margarida, errante à moda dos menestréis da antiguidade, talvez, até mesmo, um
personagem semelhante Àqueles poetas que outrora também povoaram as ruas de
Paris, ao tempo do “Rei-Vagabundo” coroado e reinante na cloaca dos esgotos da
cidade imortal e duas vezes milenária.
*-*-*
Manoel Margarida era, segundo sei, um
tipo de “Mané-Casinha”, biscateiro, carregador de água em quintos, para as
casas da cidade que ainda não possuíam os serviços de água atuais. Andava ele
pelas nossas ruas, daqui para ali e acolá, fazendo mandados e dedilhando versos
improvisados e repentistas que lhe floriam a pobreza honrada. Os que lhe
conheceram falavam e falam ainda alguns contemporâneos dele, com verdadeira
admiração ao valor inato e à inspiração poética prodigiosa que lhe aflorava
cristalina como a água da fonte.
Um dia, no sepultamento de dª.
Minervina, veneranda esposa do Dr. Infante Vieira, isto é, a 13 de Março de
1882, lá no cemitério velho, na rua das Flores, ei-lo a declamar de improviso:
"Duas pessoas distintas
Em posição e bondade
Como por fatalidade
Com a morte foram extintas.
É justo mortais que sintas
Porque Deus tudo assim destina
Não tem força a medicina
Contra o império da morte
Partilharão igual sorte
Eduardo e Minervina.
Altos desígnios de Deus
Que ninguém os compreende
A alma justa desprende
Da matéria e voa ao Céu
Apresentando o troféu
A majestade divina
Caridade peregrina
Companheira de Jesus
Gozai pois, perpetua luz
Eduardo e Minervina.”
Um dia, Manoel Margarida desapareceu. E
ninguém ouviu depois notícias suas. Desaparecera, como que por encanto, o poeta
das ruas, o “Rei-Vagabundo”, alegre menestrel do velho Mar de Espanha...
A.
Gr.
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