terça-feira, 10 de setembro de 2013

AUGUSTUS GRIBEL - O POETA MARGARIDA



O POETA MARGARIDA

Em outros tempos, fim do século passado e início deste, no áureo período de nossa terra, que foi chamado “época dos Agostinhos”, porque lembrava o tempo dos chefes eminentes que comandaram a política e a administração mardespanhense, com repercussão em todo o Estado, naquele tempo, vivia por aqui o poeta Manoel Margarida.
Era uma alma de artista, esse Manoel Margarida, errante à moda dos menestréis da antiguidade, talvez, até mesmo, um personagem semelhante Àqueles poetas que outrora também povoaram as ruas de Paris, ao tempo do “Rei-Vagabundo” coroado e reinante na cloaca dos esgotos da cidade imortal e duas vezes milenária.

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Manoel Margarida era, segundo sei, um tipo de “Mané-Casinha”, biscateiro, carregador de água em quintos, para as casas da cidade que ainda não possuíam os serviços de água atuais. Andava ele pelas nossas ruas, daqui para ali e acolá, fazendo mandados e dedilhando versos improvisados e repentistas que lhe floriam a pobreza honrada. Os que lhe conheceram falavam e falam ainda alguns contemporâneos dele, com verdadeira admiração ao valor inato e à inspiração poética prodigiosa que lhe aflorava cristalina como a água da fonte.
Um dia, no sepultamento de dª. Minervina, veneranda esposa do Dr. Infante Vieira, isto é, a 13 de Março de 1882, lá no cemitério velho, na rua das Flores, ei-lo a declamar de improviso:

"Duas pessoas distintas
Em posição e bondade
Como por fatalidade
Com a morte foram extintas.

É justo mortais que sintas
Porque Deus tudo assim destina
Não tem força a medicina
Contra o império da morte
Partilharão igual sorte
Eduardo e Minervina.

Altos desígnios de Deus
Que ninguém os compreende
A alma justa desprende
Da matéria e voa ao Céu
Apresentando o troféu
A majestade divina
Caridade peregrina
Companheira de Jesus
Gozai pois, perpetua luz
Eduardo e Minervina.”

Um dia, Manoel Margarida desapareceu. E ninguém ouviu depois notícias suas. Desaparecera, como que por encanto, o poeta das ruas, o “Rei-Vagabundo”, alegre menestrel do velho Mar de Espanha...

A. Gr. 


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