terça-feira, 10 de setembro de 2013

AUGUSTUS GRIBEL - PATÚSCO...



PATÚSCO...

Via-se bem que aquele cachorrinho que caminhava pela rua era um desses cães fidalgos, que come carne e bebe leite com toda etiqueta de sua estirpe. A dona do cão era uma senhora distinta da nossa terra, que por sinal não estava presente.
Do outro lado da rua vinha uma dessas morenas carregadas na cor, com um cachorro feio, com ares de velhaco e malcriado, que marchava à frente cheirando tudo de passagem...
E mal viu o cãozinho fidalgo avançou sobre ele, raivoso.
- Patúsco passa aqui - gritou a morena
Sem ligar a mínima importância, porém, como todo o cão sem vergonha, Patúsco continuou a farejar o outro animal. Aí apareceu a dona do cãozinho “dandy” a lhe chamar assustada:
Boby! Venha Boby! Cá Boby !
A verdade é que Patúsco, como não podia rir por fora talvez risse por dentro. Creio que os cães riem assim...

*-*-*

Na briga dos cães Patúsco mordeu o outro. Este ganiu, rodou mas teimoso, voltou-se sobre Patúsco.
Aí foi uma gritaria.
A essa altura entrou em cena a morena da catação de café em cena. Raivosa com um ódio surdo contra o desgraçado pandego, via-a congesta, pespegar um pontapé no lombo escanifrado de Patúsco que, de espinha em arco, patas encolhidas, rabo jungido ao ventre, caiu fora, ganindo de dor.
Enquanto isso a voz da morena blasfemava:
— Cachorro sem vergonha! Do que você precisa é de pau!
Pobre Patúsco! Humilde, servil, quase faminto, olhava de longe, com medo e com remorso no coração, por ter quebrado a linha daquele cãozinho grã-fino. Na vida dos cães há também dessas “diferenças sociais”...

A. Gr. 


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