PATÚSCO...
Via-se bem que aquele cachorrinho que
caminhava pela rua era um desses cães fidalgos, que come carne e bebe leite com
toda etiqueta de sua estirpe. A dona do cão era uma senhora distinta da nossa
terra, que por sinal não estava presente.
Do outro lado da rua vinha uma dessas
morenas carregadas na cor, com um cachorro feio, com ares de velhaco e
malcriado, que marchava à frente cheirando tudo de passagem...
E mal viu o cãozinho fidalgo avançou
sobre ele, raivoso.
- Patúsco passa aqui - gritou a morena
Sem ligar a mínima importância, porém,
como todo o cão sem vergonha, Patúsco continuou a farejar o outro animal. Aí
apareceu a dona do cãozinho “dandy” a lhe chamar assustada:
Boby! Venha Boby! Cá Boby !
A verdade é que Patúsco, como não podia
rir por fora talvez risse por dentro. Creio que os cães riem assim...
*-*-*
Na briga dos cães Patúsco mordeu o
outro. Este ganiu, rodou mas teimoso, voltou-se sobre Patúsco.
Aí foi uma gritaria.
A essa altura entrou em cena a morena da
catação de café em cena. Raivosa com um ódio surdo contra o desgraçado pandego,
via-a congesta, pespegar um pontapé no lombo escanifrado de Patúsco que, de
espinha em arco, patas encolhidas, rabo jungido ao ventre, caiu fora, ganindo
de dor.
Enquanto isso a voz da morena
blasfemava:
— Cachorro sem vergonha! Do que você
precisa é de pau!
Pobre Patúsco! Humilde, servil, quase
faminto, olhava de longe, com medo e com remorso no coração, por ter quebrado a
linha daquele cãozinho grã-fino. Na vida dos cães há também dessas “diferenças
sociais”...
A.
Gr.
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