A BIOGRAFIA IMPROVÁVEL
Como se cria uma biografia???... Não!...Antes disso!... Qual é o sentido e o que é uma biografia???
Bem, uma biografia (bio = “vida” + graphó = registros, apontamentos, escrita) é a descrição de uma vida, o perfil de uma pessoa, de uma personalidade, seja ela ilustre ou não...
E como montar uma biografia quando, embora relevante, nos faltem da pessoa sobre a qual se pretenda escrever, dados históricos, tais como descendência, lugares em que viveu, o que fez, quando nasceu e morreu e, principalmente as datas...
Bem esta é uma tarefa quase improvável. há que se valer da obviedade, da comparatividade, da probabilidade e do achômetro, bom mas aí não é uma biografia fiável...Sim, por isto o título UMA BIOGRAFIA IMPROVÁVEL.
Bom, já que
isto ficou acertado, falemos então de Domingos Ferreira Marques que
foi o cidadão mais importante dessas bandas (provavelmente) e do
qual nada existe, nada é sabido ou pensado...
Domingos
Ferreira Marques, cujos progenitores nos são desconhecidos, casou-se
com Feliciana Francisca Dias (em data ignorada) e tornaram-se
proprietários de uma sesmaria (larga extensão de terras, doadas
pelo governo imperial) no sertão do Rio Novo, recebida em outubro de
1818.
De caráter
inquieto e de exemplar religiosidade, era juntamente com José
Antônio Furtado de Mendonça, Antônio Dutra Nicácio, e Domingos
Henriques de Gusmão, aqueles a quem poderíamos chamar de os
desbravadores da região ainda inculta. Tanto que lá pelo ano de
1812, os quatro foram responsáveis por lançar a pedra fundamental
da futura São João Nepomuceno, quando fundaram uma localidade nas
imediações da “Capela de Baixo” ou “Capela do Rio Novo de
Baixo”. (1)
Aproximadamente seis anos depois, em 16 outubro de 1818, Ferreira
Marques e esposa recebem legalmente uma vasta extensão de terras
(sesmaria) do governo imperial, que tinha como intenção o cultivo
da terra para suprir a economia ressentida da escassez do ouro, cujas
minas estavam exauridas.
O título de
capitão não fora originário de uma patente propriamente, ou título
comprado, mas é de se crer que tão somente representava a qualidade
e a significância do homem que, a seu tempo, fora Ferreira Marques,
que no dizer de Celso Falabella, era ele um “Homem afeito ao
trabalho, entrou de rijo na faina de derrubar matas e plantar café,
prosperando rapidamente.” . Muitos outros de mesma importância
de Ferreira Marques detinham títulos iguais.
Dez anos
depois (1828) alguns moradores (não identificados historicamente) da
região chamada "Córrego do Meio" (Maripá) solicitam ao
capitão, a criação uma capela onde pudessem exercer seus ofícios
religiosos. (2)
Graças à
esta solicitação e a ajuda obsequiosa de sua esposa Feliciana, em
20 de julho de 1828, reunidos na Fazenda Bonsucesso, a seis
quilômetros do que hoje é Maripá (3) é lavrada a escritura de 40
alqueires de terras às quais teriam como destino a criação de uma
capela (como fora rogada) e de um curato e a partir de onde, por
consequência natural, surgiria um povoado adjacente. Isto inclusive
foi constante da escritura, quando Domingos nomeou a José Antônio
de Oliveira, para gerir, ou seja vender, as terras não usadas pela
igreja e cujo dinheiro seria empregado no aumento e conservação da
mencionada Capela e "passar o escrito de venda e cobrar e
empregar todo o rendimento nas obras da dita capela"
Domingos
Ferreira Marques e esposa passam então a residir nas imediações da
capela (em construção ainda). O Curato (4) que se formou foi
chamado de "Curato do Espírito Santo" e depois distrito do Espírito Santo do Termo da Vila de Barbacena da Comarca do Rio Paraibuna, e teve como seus
primeiros habitantes, além de Domingos e esposa, a outros como
Gervásio Antonio da Silva Pinto, José Antônio de Oliveira, João de Araújo
Moreira e sua esposa Ana Angélica do Carmo; Maria Vitória, Maria Joana Ribeiro, comendador José
Joaquim Monteiro de Castro, João José Monteiro Bastos, José Pires,
José Ferreira Maciel, Manoel José da Silva e sua esposa Ana Rita de Jesus; Fortunato Ribeiro e
Felisberto Henrique de Souza. Este arraial ou povoado, com o
crescente desenvolvimento, passou a denominar-se Espírito Santo de
Mar de Espanha, lembrando que e denominação de "Espírito
Santo" fora uma prerrogativa sugerida por Feliciana e aceita por
Domingos para a nomeação da comunidade que se iria formar. (3) Seguidamente vieram outras família, como Francisco de Oliveira Ruellas e a esposa Silveria Maria Cardena; Fortunato José Ribeiro, Joaquim Ribeiro Lobo, Dâmaso Franco de Azevedo,
No ano de
1864, Domingos, uma figura atuante, consta como partícipe do corpo
eleitoral da Província, que tinha, como Eleitores gerais, além
dele, o Tenente coronel Manoel José Pires, José Machado de
Sant'Ana, Ancelmo José Machado, Antônio Alves Barbosa, Francisco
Ferreira da Fonseca e como Eleitores especiais; Dr Francisco Barboza
Lage, Augusto José Gomes, Alexandre Augusto Gomes Valim, Cezario
Dias Tostes, João Pires de Mendonça, Leopoldino Dutra de Moraes.
(5) E exercia também as funções de juiz de paz, juntamente com,
Manoel Pires, José Ferreira da Fonseca e João Antônio Tostes
Júnior. A localidade já contava com um subdelegado, Antônio Alves
Barbosa e com um delegado vacinador, José Rodrigues Costa.
Domingos
Ferreira Marques tinha sua fazenda na Estrada de Santa Bárbara,
próximo ao ponto fronteiriço entre Bicas e São João Nepomuceno,
(6) onde provavelmente residira nos últimos anos de vida.
Já em idade
avançada, um otagenário, Domingos Ferreira Marques, morreu aos 20
de junho de 1870, conforme inscrição lapidal, lavrada em seu túmulo
no cemitério de Guarará. O único filho documentado é Antônio
Ferreira Marques, (7) que assina a escritura em lugar da mãe (que
não sabia escrever) e que figura como proprietário de grande
extensão de terras (recebidas em 22.06.1819, conforme atesta Celso
Falabella).
Da
descendência de Domingos (direta ou não) ainda constam Manoel
Ferreira Marques (8) e Vicente Ferreira Marques e que, além de
propriedades, tinham ocupações na sociedade de então; O major
Anibal Ferreira Marques que, em 1913, juntamente com o capitão
Felício Verlangieri, eram os dois suplentes de Juiz seccional
federal por aqui; Juvenal Ferreira Marques, político atuante em
Bicas, entre os anos de 1927 e 1935; Antero Dutra Marques, vereador
em Bicas, entre os anos 1935 e 1937; Wellington Dutra Marques,
vereador em Bicas, entre os anos 1983 a 1988; O coronel Joaquim José
de Souza (filho de outro coronel Joaquim José de Souza) bisneto de
Domingos Ferreira Marques, um chefe político, que tivera uma grande
atuação, sobretudo entre 1910 e 1920.
Da memória
de Domingos Ferreira Marques restou a lembrança de seus feitos e o
reconhecimento do que fora, tanto que dezesseis anos passados de sua
morte ainda se encomendavam missas à sua “pranteada” memória,
conforme atesta o jornal “O Guarará”, em junho de 1896.
Assim é que,
finalmente, uma biografia não se encerra ao último golpe do cinzel
sobre as brancas folhas de papel, ela estará sempre aberta e
receptiva para fortalecer o lastro, as ramificações e a memória
daquele que a motivou.
1 – Medina, Paulo
Roberto de Gouvêa. São João Nepomuceno: O Município, sua criação,
seus vultos históricos.
2 - "ANNUÁRIO E
MINAS", em sua pg. 453 - Maripá é, portanto mais antiga que
Guarará;
3 - CASTRO, Celso
Falabella de Figueiredo. “Os Sertões de Leste - Achegas para a
História da Zona da Mata”, página 105
4 - Curato é o nome
que se dá à sede eclesiástica provida de um "Cura",
“cura das almas”, vigário;
5 - Almanak de Minas
Gerais, 1864, 3ª parte, página 34
6 - Jornal O Povo de 08
de setembro de 1901
7 - Revista do Arquivo
Público Mineiro, edição para o ano de 1900. A página 446 menciona
Antônio Ferreira Marques e a 447 menciona Domingos Ferreira Marques.
8 - Que, conforme o
livro de arrecadação fiscal, enviado pelo distrito da Piedade, no
ano de 1875, exercia a profissão de sapateiro
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