quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A BIOGRAFIA IMPROVÁVEL

A BIOGRAFIA IMPROVÁVEL

          Como se cria uma biografia???... Não!...Antes disso!... Qual é o sentido e o que é uma biografia???
          Bem, uma biografia   (bio = “vida” + graphó = registros, apontamentos, escrita)  é a descrição de uma vida, o perfil de uma pessoa, de uma personalidade, seja ela ilustre ou não...
          E como montar uma biografia quando, embora relevante, nos faltem da pessoa sobre a qual se pretenda escrever, dados históricos, tais como descendência, lugares em que viveu, o que fez, quando nasceu e morreu e, principalmente as datas...
          Bem esta é uma tarefa quase improvável. há que se valer da obviedade, da comparatividade, da probabilidade e do achômetro, bom mas aí não é uma biografia fiável...Sim, por isto o título UMA BIOGRAFIA IMPROVÁVEL.
          Bom, já que isto ficou acertado, falemos então de Domingos Ferreira Marques que foi o cidadão mais importante dessas bandas (provavelmente) e do qual nada existe, nada é sabido ou pensado...
          Domingos Ferreira Marques, cujos progenitores nos são desconhecidos, casou-se com Feliciana Francisca Dias (em data ignorada) e tornaram-se proprietários de uma sesmaria (larga extensão de terras, doadas pelo governo imperial) no sertão do Rio Novo, recebida em outubro de 1818.
          De caráter inquieto e de exemplar religiosidade, era juntamente com José Antônio Furtado de Mendonça, Antônio Dutra Nicácio, e Domingos Henriques de Gusmão, aqueles a quem poderíamos chamar de os desbravadores da região ainda inculta. Tanto que lá pelo ano de 1812, os quatro foram responsáveis por lançar a pedra fundamental da futura São João Nepomuceno, quando fundaram uma localidade nas imediações da “Capela de Baixo” ou “Capela do Rio Novo de Baixo”. (1)
          Aproximadamente seis anos depois, em 16 outubro de 1818, Ferreira Marques e esposa recebem legalmente uma vasta extensão de terras (sesmaria) do governo imperial, que tinha como intenção o cultivo da terra para suprir a economia ressentida da escassez do ouro, cujas minas estavam exauridas.
           O título de capitão não fora originário de uma patente propriamente, ou título comprado, mas é de se crer que tão somente representava a qualidade e a significância do homem que, a seu tempo, fora Ferreira Marques, que no dizer de Celso Falabella, era ele um “Homem afeito ao trabalho, entrou de rijo na faina de derrubar matas e plantar café, prosperando rapidamente.” . Muitos outros de mesma importância de Ferreira Marques detinham títulos iguais.
          Dez anos depois (1828) alguns moradores (não identificados historicamente) da região chamada "Córrego do Meio" (Maripá) solicitam ao capitão, a criação uma capela onde pudessem exercer seus ofícios religiosos. (2)
          Graças à esta solicitação e a ajuda obsequiosa de sua esposa Feliciana, em 20 de julho de 1828, reunidos na Fazenda Bonsucesso, a seis quilômetros do que hoje é Maripá (3) é lavrada a escritura de 40 alqueires de terras às quais teriam como destino a criação de uma capela (como fora rogada) e de um curato e a partir de onde, por consequência natural, surgiria um povoado adjacente. Isto inclusive foi constante da escritura, quando Domingos nomeou a José Antônio de Oliveira, para gerir, ou seja vender, as terras não usadas pela igreja e cujo dinheiro seria empregado no aumento e conservação da mencionada Capela e "passar o escrito de venda e cobrar e empregar todo o rendimento nas obras da dita capela"
Domingos Ferreira Marques e esposa passam então a residir nas imediações da capela (em construção ainda). O Curato (4) que se formou foi chamado de "Curato do Espírito Santo" e depois distrito do Espírito Santo do Termo da Vila de Barbacena da Comarca do Rio Paraibuna, e teve como seus primeiros habitantes, além de Domingos e esposa, a outros como Gervásio Antonio da Silva Pinto, José Antônio de Oliveira, João de Araújo Moreira e sua esposa Ana Angélica do Carmo; Maria Vitória, Maria Joana Ribeiro, comendador José Joaquim Monteiro de Castro, João José Monteiro Bastos, José Pires, José Ferreira Maciel, Manoel José da Silva e sua esposa Ana Rita de Jesus; Fortunato Ribeiro e Felisberto Henrique de Souza. Este arraial ou povoado, com o crescente desenvolvimento, passou a denominar-se Espírito Santo de Mar de Espanha, lembrando que e denominação de "Espírito Santo" fora uma prerrogativa sugerida por Feliciana e aceita por Domingos para a nomeação da comunidade que se iria formar. (3) Seguidamente vieram outras família, como Francisco de Oliveira Ruellas e a esposa Silveria Maria Cardena; Fortunato José Ribeiro, Joaquim Ribeiro Lobo, Dâmaso Franco de Azevedo,
          No ano de 1864, Domingos, uma figura atuante, consta como partícipe do corpo eleitoral da Província, que tinha, como Eleitores gerais, além dele, o Tenente coronel Manoel José Pires, José Machado de Sant'Ana, Ancelmo José Machado, Antônio Alves Barbosa, Francisco Ferreira da Fonseca e como Eleitores especiais; Dr Francisco Barboza Lage, Augusto José Gomes, Alexandre Augusto Gomes Valim, Cezario Dias Tostes, João Pires de Mendonça, Leopoldino Dutra de Moraes. (5) E exercia também as funções de juiz de paz, juntamente com, Manoel Pires, José Ferreira da Fonseca e João Antônio Tostes Júnior. A localidade já contava com um subdelegado, Antônio Alves Barbosa e com um delegado vacinador, José Rodrigues Costa.
          Domingos Ferreira Marques tinha sua fazenda na Estrada de Santa Bárbara, próximo ao ponto fronteiriço entre Bicas e São João Nepomuceno, (6) onde provavelmente residira nos últimos anos de vida.
Já em idade avançada, um otagenário, Domingos Ferreira Marques, morreu aos 20 de junho de 1870, conforme inscrição lapidal, lavrada em seu túmulo no cemitério de Guarará. O único filho documentado é Antônio Ferreira Marques, (7) que assina a escritura em lugar da mãe (que não sabia escrever) e que figura como proprietário de grande extensão de terras (recebidas em 22.06.1819, conforme atesta Celso Falabella).
          Da descendência de Domingos (direta ou não) ainda constam Manoel Ferreira Marques (8) e Vicente Ferreira Marques e que, além de propriedades, tinham ocupações na sociedade de então; O major Anibal Ferreira Marques que, em 1913, juntamente com o capitão Felício Verlangieri, eram os dois suplentes de Juiz seccional federal por aqui; Juvenal Ferreira Marques, político atuante em Bicas, entre os anos de 1927 e 1935; Antero Dutra Marques, vereador em Bicas, entre os anos 1935 e 1937; Wellington Dutra Marques, vereador em Bicas, entre os anos 1983 a 1988; O coronel Joaquim José de Souza (filho de outro coronel Joaquim José de Souza) bisneto de Domingos Ferreira Marques, um chefe político, que tivera uma grande atuação, sobretudo entre 1910 e 1920.
          Da memória de Domingos Ferreira Marques restou a lembrança de seus feitos e o reconhecimento do que fora, tanto que dezesseis anos passados de sua morte ainda se encomendavam missas à sua “pranteada” memória, conforme atesta o jornal “O Guarará”, em junho de 1896.
          Assim é que, finalmente, uma biografia não se encerra ao último golpe do cinzel sobre as brancas folhas de papel, ela estará sempre aberta e receptiva para fortalecer o lastro, as ramificações e a memória daquele que a motivou.

1 – Medina, Paulo Roberto de Gouvêa. São João Nepomuceno: O Município, sua criação, seus vultos históricos.
2 - "ANNUÁRIO E MINAS", em sua pg. 453 - Maripá é, portanto mais antiga que Guarará;
3 - CASTRO, Celso Falabella de Figueiredo. “Os Sertões de Leste - Achegas para a História da Zona da Mata”, página 105
4 - Curato é o nome que se dá à sede eclesiástica provida de um "Cura", “cura das almas”, vigário;
5 - Almanak de Minas Gerais, 1864, 3ª parte, página 34
6 - Jornal O Povo de 08 de setembro de 1901
7 - Revista do Arquivo Público Mineiro, edição para o ano de 1900. A página 446 menciona Antônio Ferreira Marques e a 447 menciona Domingos Ferreira Marques.
8 - Que, conforme o livro de arrecadação fiscal, enviado pelo distrito da Piedade, no ano de 1875, exercia a profissão de sapateiro

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