quinta-feira, 19 de setembro de 2013

OS CONFLITOS DE SANTA HELENA

VIOLÊNCIAS POLICIAIS

"Escrevem-nos:
— Há um mês, mais ou monos, tem-se dado nesta zona fatos extraordinários, claramente indicativos da política reacionária que vamos ter em Minas. No dia 28 da mês passado (outubro de 1894), em Santa Helena, reunidos para uma eleição de juízes de paz e conselheiros distritais marcada pela câmara municipal, fomos os republicanos democratas cercados pelo delegado de polícia, acompanhado da força de Guarará e de mais de 200 libertos armados de cacete. Nessa ocasião, no correr de uma discussão, o delegado disse com arrogância que era homem educado na escola da garrucha e que dali em diante não teria considerações de ordem alguma.
Retiramo-nos, evitando conflito. A mesa eleitoral oficiou ao presidente do Estado, pedindo providencias e denunciando o abuso. Por seu turno, o presidente da câmara representou, acrescentando que ameaçava a polícia perturbar a verificação de poderes da nova câmara municipal em Guarará no dia 7 de novembro (de 1894), e por isso eram de se esperar providências de modo a evitar a reprodução das cenas do dia 28. O governo pouco se importou com os avisos e representações, e parece que conivente com os abusos, consentiu que se consumasse o inqualificável atentado que sofreu a câmara municipal hoje, 7 de novembro, cercada pela polícia com gente armada em número considerável. Em vista disso, tendo antes a polícia prendido o vereador José Vieira Camões pelo fato de querer entrar na câmara, os vereadores recém-eleitos, republicanos democratas, deliberaram retirar-se, não se sujeitando às ordens e imposições da polícia. Sendo nove o número de vereadores, seis dos eleitos pertencem ao partido democrata.
Nos dois lugares, todo o nosso esforço foi para evitar conflito, e assim tivemos conduta inteiramente outra da que teve a gente constitucional. Pobre República!"

Jornal "O Pharol", ANNO XXVIII, N.º 253

Guarará, 20 de novembro de 1894

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