quarta-feira, 6 de novembro de 2013

OS ANOS DE 1916 A 1920

1916
       
          Para o ano de 1916 registra-se segundo Roberto de Capri, em Guarará uma população superior a 22 mil habitantes.
          Em bicas havia o Salão Santos Dumont, na rua Cel Joaqum de Souza, de propriedade de Jordão Mendes que, além de cabeleireiro e barbearia, funcionava também como uma perfumaria.
          Em Guarará, na Rua 7 de setembro, havia a Oficina de Seleiro, do Sr. João da Cunha.
          Neste ano de 1916, no dia, 21 de janeiro, uma sexta-feira, morre a sra. Ana de Oliveira Souza, esposa do Cel. Joaquim José de Souza, presidente da Câmara de Guarará. (Jornal "O Pharol", sábado, 22 de janeiro de 1916); 
          É inaugurada a "Praça Cel Afonso Leite", com coreto e chafariz que se caracterizaria como um dos principais cartões postais do município. 
          Em 11 de abril deste ano é suspensa a publicação de "O Guarará" e neste mesmo mês de abril, o coronel Joaquim José de Souza funda o semanário "A Gazeta Municipal". Posteriormente o seu filho Dr. José Maria de Oliveira Souza, assumiria a direção do jornal.

1917
       
          A Praça do Divino é remodelada e é inaugurado o jardim. A Companhia Mineira de Eletricidade, estende a rede elétrica, a partir de Juiz de Fora, à Vila de Guarará. Em 15 de junho, em sessão solene, é instalado o Termo Judiciário de Guarará.

1918
       
          Em 1918 é inaugurada a luz elétrica em Guarará e Bicas. No dia 6 de novembro surge o jornal "O Povo", editado por Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira.
          Nas eleições de 01 de novembro de 1918 , são eleitos como VEREADORES GERAIS, os srs.: Cel. Francisco de Paula Retto Junior, Padre Angelo Rezende, Cel. Victor Belfort de Arantes, Cap. Francisco Pinto Ferreira, Cap. Emydgio Braz dos Santos e Cap. Luiz Fabris. Pelo DISTRITO DE GUARARÁ, é eleito, como VEREADOR ESPECIAL, o Cap. José Vieira Camões e como JUÍZES DE PAZ, os senhores: Cap. Antonio José da Costa Junior, Tte. José Alfredo Garcia e o Tte Manoel Jorge Furtado. Pelo DISTRITO DE BICAS, é eleito como VEREADOR ESPECIAL, o  Tte Cel. Alvaro Fernandes Dias e como JUÍZES DE PAZ, os senhores: Joaquim José de Souza Junior, Major Américo de Souza e o Sr. Joaquim Soares de Mendonça. Pelo DISTRITO DE MARIPÁ, é eleito como VEREADOR ESPECIAL, o Major Gervasio Evaristo Monteiro de Rezende e como JUÍZES DE PAZ, os senhores: Cap. Francisco de Azevedo Netto, Geraldino Rocha e o Cap. Antonio Ferreira Martins Junior.
          José Joaquim Ferreira é médico em Bicas.   

1919
       
          Domingos Orlando (casado com dona Aracy da Cruz Orlando) era o empresário encarregado dos serviços da Ferro-carril Guararense. (*a)  Em 25 de julho de 1919 os serviços da Ferro Carril são colocados em hasta pública para serem arrematados no dia 28 de agosto próximo.
         Dentre os negociantes, comerciantes e profissionais diversos estavam Pedro Marques de Carvalho, Emídio Braz dos Santos, Apolinário Camões. Apolinário, filho de José Vieira Camões, havia herdado do pai o tino para os negócios. Ele era proprietário da "Casa Progresso" onde eram negociados toda classe de mantimentos (secos e molhados), com especialidade na carne suína (compra e venda) e aritgos outros e de ocasião. Apolinário, mais adiante deixaria os negócios em Guarará e se fixaria em Juiz de Fora, onde se dedicaria aos serviços de hotelaria, ao tornar-se proprietário do "Hotel Avenida" no coração de Juiz de Fora, em frente à estação, próximo a "Leopoldina Railway".
         O eixo comercial, desde sempre, fixava-se principalmente na praça do Divino. Era lá que funcionavam as oficinas tipográficas do jornal "O Guarará", que reiniciara em 14 de julho [de 1919] as suas atividades, em uma nova fase. A sua fase anterior havia sido suspensa três anos antes, em 11 de abril de 1916 e, agora sob a direção de Elcenor Leite que era também o editor e proprietário, voltava à carga. O jornal, agora inovado trazia artigos de Ângelo Poliano e seus artigos "Entre parênteses", onde eram abordados os temas sociais e quotidianos. Traziam artigos de Pedro, o Eremita e seus artigos de cunho religioso voltados, ao mesmo tempo, para a educação. Trazia textos de Augusto Júlio de Moraes Carneiro, que versavam basicamente sobre a família e a instrução. Júlio era também professor do Grupo Escolar "Ferreira Marques" e sua sobrinha  Dolores de Moraes Matos era professora do Grupo Escolar "Cel. José Braz", em São João Nepomuceno. Júlio escrevia e publicava no jornal também as suas quadras poéticas às quais assinava como "M. C.". O jornal trazia ainda artigos e poesias de Luiz de Freitas Santos, cujos artigos "Pela Pátria", "Espirros" e seus "Registros Literários" denotavam a brasilidade do articulista e um declarado, porém cometido anti estrangeirismo. Luiz, oriundo de uma família de homens dedicados à imprensa, era também o revisor editorial do jornal naquela sua nova fase, a 5ª desde sua fundação e foi ele, graças ao seu raro talento jornalistico quem viabilizou o ressurgimento de "O Guarará" e que trazia os belos textos de J. Paixão, de Lycidio Paes, renomados poetas. Trazia igualmente as poesias de "Bento Castanheira", este as enviava da cidade de Recreio, onde estabelecera as suas funções. E tinha ainda os artigos de Joaquim Fróes Vieira Pisco, de nome "Caturrices...", aos quais ele assinava sob o pseudônimo de Frei Vieira. Nestes artigos Pisco abordava de um modo inteligente, às vezes como um diálogo, temas contemporâneos e José Vieira Camões com os seus "Trapeiros", assinados com o pseudônimo "C.V.J", onde ele tratava de um modo jocoso as "dessarrumações" da política da época. Ainda tinha os artigos assinados por Otto Prazeres, que teciam uma criteriosa crise político-social e tecia um panorama atualizado do Brasil e o mundo.
          Para angariar adesões e assinantes do jornal, o editor valeu-se de uma interessante técnica que era: "... consideraremos assinantes do nosso modesto jornal todas as pessoas que receberem e não devolverem o presente nº..." Não muito depois, em em 9 de novembro do mesmo ano de 1919 o jornal passa à mãos do tio de Elcenor, o tte Pedro Leite que já havia gerenciado a mesma folha anos atrás em sua segunda fase de existência. E, pouco depois, surgiria outro órgão de imprensa, "O Estro", sob a direção e redação de Félix Gomoso e, cujas letras voltavam-se para uma variedade de textos, anedotas, literatura, etc (5)
          Os jornais aqui, à época,  editados dariam, como sempre, sua contribuição à instrução e neste ano lançaram mão de uma campanha pela instrução e fundaram a "Liga Guararense" contra o analfabetismo, conclamando a sociedade a participar deste propósito. (5a) Haviam também os tipógrafos, como era o caso de Ângelo Barroso, contrato para exercer sua profissão na praça do Rio de Janeiro.
          A praça do Divino com seu marco característico que era a igreja matiz e onde oficiavam os padres Ângelo Resende, ajudado pelo companheiro de batina, o Pe Galdino Rodrigues Malta, que viera cooperar com aquele vigário desde 18 de julho de 1919, tinha também, ao redor de si, o maior fluxo comercial da localidade. Era na Praça do Divino onde estavam também "A Predileta" de propriedade de "Carmella Viggiano & Leite, que negociavam, compravam e vendiam, gêneros alimentícios dos mais diversos, secos e molhados e mais uma variedade de outros produtos. Tinha o "Salão Ideal", de propriedade de José de Oliveira Dutra. Era um moderno salão de cabeleireiro e barbearia, cujos serviços incluíam também massagens, flexões, perfumaria, etc. Outro barbeiro era João da Cruz, filho do Cap Deolindo Cruz.
          Também na Praça do Divino o Grupo escolar "Ferreira Marques", dirigido pelo farmacêutico, jornalista, poeta e orador, Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira. O grupo de professores que atuavam no município, era considerável, todavia haviam as pequenas escolas rurais e os professores itinerantes, um deles era o Profº Marcelino de Castro Moura, que dedicou toda a sua vida à causa do ensino.
          Ainda na Praça do Divino funcionavam as oficinas de "O Guarará", com os serviços de tipografia por encomendas diversas, cartões, impressos, talonários, etc. Ali também estava a "Farmácia Guararense" do farmacêutico Cap. Aristides Leite Guimarães, que tinha seu estabelecimento aparelhado com "...os melhores preparados, nacionais e estrangeiros...", e se comprometia a  aviar receitas a qualquer hora do dia ou da noite. Aristides era um sujeito raro, além de farmacêutico, era poeta, e tinha inclinações para atuar em várias áreas públicas. E colaborava com seus artigos em "O Guarará". Aristides era irmão de João Leite Guimarães, Jovita Guimarães Ferreira (casada com Domingos Ferreira) e do Cel. Francisco José Leite Guimarães, este último, residente na cidade de Ubá, além de Inspetor Federal do Ensino junto à tradicional Escola de Minas, era jornalista e tribuno.
          Mas havia outros farmacêuticos igualmente habilitados em sua funções como Pereira Junior, Carlos de Ouro Preto Tarquínio Pereira, diretor do Grupo Escolar, etc.
          Ainda, próximo à praça funcionava a Câmara municipal, onde era agente executivo o cap. José Vieira, o vice-presidente Francisco Pinto Ferreira e, não muito longe dali, estava a delegacia de polícia, onde era o 2.º suplente de delegado, o filho do Barão de Catas Altas, Eduardo Gomes Baião. O mesmo Eduardo assumiria, no ano seguinte, em abril de 1920, o cargo de delegado de polícia em Guarará
          Igualmente próximo estava o "Cinema Guararense" que havia inovado suas sessões cinematográficas, com a inclusão de uma orquestra e mantinha suas exibições sempre atualizadas. A orquestra, ao término das exibições, fazia uma apresentação com "...partes musicais variadíssimas." Eram oferecidos aos expectadores, algumas cortesias, como suco ou algo do gênero. E como o Cinema e suas atividades havia se tornado uma atividade de interesse público, a municipalidade achou por bem subvencionar aquele órgão com a isenção de impostos.  (*b) À frente da empresa "Cinema Guararense", estava o empresário Paulo Roque, um dos proprietários e que também era avaliador judicial do termo e Guarará. Paulo Roque era irmão de Miguel Roque, negociante em Providência.
          Igualmente próximos estavam o Cartório de Paz, do major José Álvares de Oliveira Júnior (*c) e o Cartório do 2.º ofício do Cap. Antero Soares de Almeida, a "Padaria Francesa" de Domingos Trefíglio, estava a "Agência dos Correios", onde era o agente (já a mais de um decênio) Agenor de Alvarenga. Agenor era um dos dez filhos do falecido major Francisco Batista de Alvarenga, médico, grande intelectual e excelente orador, além de um poeta de qualidade considerável. Mas além da Padaria Francesa existia ainda a confeitaria do João Evangelista de Souza que recentemente (24/12/1919) acabara de acoplar a ela uma padaria. (6) Os titulares do Cartório de Paz, antecedendo ao major José Álvares de Oliveira Júnior, desde as tempos do Espírito Santo do Mar de Espanha, foram, primeiro, José Álvares Pinto e depois Manoel Barbosa de Amorim. O mesmo José Álvares, por sua própria conveniência, conforme publicou ele em 1 de de outubro de 1895, passou, durante certo tempo, a assinar como José Cotta.
          Igualmente próximo, na Rua Capitão Gervásio estava a "Oficina de Ferreiro" de Miguel de Giorge, que trabalhava em sua oficina atendendo a toda sorte de coisas e necessidade e que, que em sua fundição ou forja, fazia ferraduras, ferraria diversa, chapeação para carros e carroças (troles). Não muito longe estava o "Externato Dr Raymundo Tavares", instituição de ensino mantida pelo Prof Luiz de Freitas Santos, que contava, em seu ciclo de ensino, com os cursos primário, médio e secundário. Além das matrículas e da mensalidade o Externado era subvencionado pela municipalidade que providenciava assim para a continuidade e excelência na qualidade de ensino. (*d)
          Bem próximo havia o Fórum onde era Juiz municipal do termo, o advogado Gilson Vieira de Mendonça. Gilson era nascido em São João Nepomuceno, filho do Cel. José Braz de Mendonça e era casado com dona Guiomar Sicca de Mendonça, professora do "Grupo Escolar Cel. José Braz", seu falecido sogro. O pai de Gilson, o Ce. José Braz, foi um dos grandes nomes do empreendedorismo na São João Nepomuceno, valendo-lhe o nome de uma escola, o Grupo Escolar "Cel. José Braz". No mesmo prédio funcionavam as coletorias estadual e federal. Era coletor estadual o Sr. Francisco Barnabé da Fonseca Barroso, e era o coletor federal, o Cel Arlindo Ribeiro de Oliveira. Arlindo pertencia a uma das famílias tradicionais da região ele era irmão de Antonio Ribeiro de Oliveira e Silva, grande fazendeiro e produtor em Guarará e de José Ribeiro de Oliveira e Silva, ex- Agente Excutivo do município de Guarará, fazendeiro em Bicas e comerciante em Juiz de Fora. Arlindo era casado com Francisca da Cunha Oliveira. O adjunto da promotoria era o Cap. Josino Ribeiro da Silva. Era o Juiz de Direito da Comarca, o Dr João Alves de Oliveira Juiz de Direito da Comarca, e o Dr. Mario da Silva Pereira, era o Promotor Público da Comarca.
          O edifício do fórum, tinha sido construído recentemente e havia sido inaugurado em 15 de junho de 1917, para abrigar o recém criado Termo de Guarará pela lei 663 de 18 de setembro de 1915.
          O comércio em Bicas desde muito havia ultrapassado em importância aquele que se via no distrito sede de Guarará. Muito dos comerciantes migravam aos poucos suas casas comerciais ou escritórios e residências para aquele distrito (o de Bicas). A estratégia lógica era a proximidade com a estação ferroviária, a estação de Bicas. Muitas casas comerciais se tornaram importantes e mantinham negócios com as praças do Rio e São Paulo, como por exemplo a firma A. Leite & Comp, que tinha à sua frente Salim Haddad, firma esta que mais tarde seria incorporada pela Salomão Abrahão & Comp. Era uma Casa de Comissão e consignação de gêneros diversos. Encarregava-se de retirar, despachar e representar os seus clientes. E era ali em Bicas onde se encontrava também o Hotel Moreira, de propriedade de Américo Ribeiro Guimarães, genro este de Vieira Camões. O Hotel se encontrava nas proximidades da Estação de Bicas e oferecia acomodações famílias, para veranistas, comerciantes e representantes de firmas em viagens de negócios e seu dono além de um comerciante nato, era zangão (corretor de valores) na praça de Bicas. (7)
          A outra estação mais próxima era a de Santa Helena que se localizava no distrito de mesmo nome e onde havia um fluxo comercial considerável. Era lá que estava a bem aparelhada casa de negócios, a chamada "Casa Comercial" de Ângelo Viggiano. Localizada bem próximo à estação da Estrada de Ferro Leopoldina, atuava como vendedor e comprador e oferecia aos seus clientes, no atacado e no varejo, uma grande variedade de gêneros alimentícios (secos e molhados), alem de bebidas, conservas, etc.
          A sociedade da época, caracterizada em suma pelos modos e costumes franceses, tinham um modo peculiar e ao mesmo modo assemelhado de comportamento. Imperava o cavalheirismo. Os homens vestiam-se à moda, A grande onda" nas grifes masculinas eram as roupas Raunier ou Almeida Rabelo. Usavam chapéus de claque de Paris, charutos de Havana ou suerdick, botinas de Campas e luvas de Jouvin. A sociedade guararense não se diferia em modas e costumes, e tinha os seus Raunier, assim chamados por estilarem estilizados à moda de então, eram eles, entre outros, o cap Bernardino Ortiz Dias, Tte Menezes da Silva Neves e Lindolfo Torres Filho, os chamados Rauniers da Vila. (8)
          Naquela sociedade da época eram comuns os grandes bailes, soirées dançantes, nas fazendas, em grandes vivendas, nos casarões. Eram comuns piqueniques, festas comemorativas e cívicas, religiosas, as de batizados, casamentos, etc.
          No termino daquele ano de 1919, deu-se um considerável, sentido mais gravemente no comércio e nos prédios públicos, motivado pelas pesadíssimas chuvas do dia 10 de outubro. Tanto Guarará, quando o distrito sofreram grandes perdas. Perceberam-se granizos de até meio quilo. Foram enormes prejuízos com estragos em "telhados, vidraças, quase todas as lampadas de luz elétrica, abat-jours, etc..." (9)

FONTES E REFERÊNCIAS:
0- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 1. Guarará, 14 de julho de 1919
1- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 2. Guarará, 20 de julho de 1919; 
2- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 3. Guarará, 27 de julho de 1919; 
3Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 4. Guarará, 3 de agosto de 1919;
4Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 5. Guarará, 10 de agosto de 1919; 
-
5- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 22, fl. 1. Guarará, 7 de dezembro de 1919.
5a- Jornal "O Pharol", ANNO LIV, N. 183 - quinta-feira, 07 de agosto de 1919.
6- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 28, pg. 3. Guarará, 28 de dezembro de 1919
7- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 15. Guarará, 19 de outubro de 1919.
8- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 6. fl. 2. Guarará, 17 de agosto de 1919;
10- Jornal "O Pharol", ANNO LIV, N. 244. Juiz de Fora, sábado, 18 de outubro de 1919.


NOTAS:
(*a) - Resolução municipal N.º 186, de 18 de maio de 1919;
(*b) - Resolução municipal N.º 188, de 18 de maio de 1919;
(*c) o Major José Álvares de Oliveira Júnior era casado com dona Ubaldina Pires de Oliveira. Pais de Geni, Ilka e Galba de Oliveira.
*d- Resolução municipal N.º 189, de 18 de maio de 1919.
    
          1920

          Em 01 de novembro ocorre o recenseamento do município e seus dois distritos: Bicas e Maripá.
          Por esta época era Tesoureiro da Câmara Laudelino Rabelo.
         O "Grêmio literário Carlos Góes", fundado nos anos anteriores, havia se tornado uma "importante e forte associação literária, anexa à Escola Noturna" e promovia as suas festas e comemorações, mormente as cívicas, com entrada franqueada aos ouvintes e interessados. O diretor da escola o profº Luiz de Freitas Santos era a referência no ensino, a peça principal donde se espelhariam os jovens daquela instituição os quais, depois de concluídos ali os seus preparativos iam para a capital federal, o Rio de Janeiro, onde concluiriam os seus estudos. Por esta época era o presidente administrativo do agremiação literária, que tinha sua diretoria executiva formada dentro do corpo discente da escola noturna, o aluno José de Oliveira Dutra (Juca), que se destacava por suas qualidades no aprendizado. Outros alunos que destacaram-se na agremiação foram: Nicolino Retto (Vice-presidente), Antonio Carvalho (1.º secretario), Genésio Pereira dos Santos (2.º secretario), Aparício Felisberto (1.º tesoureiro), Sebastião Pereira dos Santos (2.º tesoureiro), Círio Vale (1.º orador), Heitor de Matos (2.º orador), João Batista Vale (1.º bibliotecário), José Grassano (2.º bibliotecário), etc (1)
          Alem das festividades e comemorações, o grêmio literário promovia sessões literárias, como a que se registra em 1 de julho de 1920, quando estavam presentes além dos alunos, pessoas do povo, autoridades e a imprensa local. Eram abordados nestas ocasiões, além dos temas cívicos, outros e dos mais diversos dos mais diversos, em sua maioria proferidos pelo profº Luiz de Freitas Santos. Para melhor aparelhar o Grêmio Literário Luiz de Freitas tratou de fundar, em 11 de março de 1920, a "Biblioteca Belmiro Braga". Para isso teve início uma grande campanha, através de circulares, pedindo doações de livros, jornais, revistas, etc., além disso os alunos promoveriam dois espetáculos, no teatro local, sábado e domingo da Páscoa, com a reversão da renda em beneficio da Biblioteca "Belmiro Braga". Nas seções literárias, eram apresentados e declamados trechos em prosa e poesias dos grandes vultos da literatura, como Victor Hugo, Luiz Delfino, Francisco Otaviano, etc, como também as composições dos ingressos àquela agremiação e do diretor da escola Luiz de Freitas Santos, um poeta de talento a se considerar. (2) E, para tecer um elo entre o grêmio, suas atividades intelectuais e a sociedade, Luiz tratou de criar um órgão de imprensa, um jornal literário, batizado com o nome de "O Lírio". Para a criação do pequeno jornal ele contou com a cooperação do cunhado, Elcenor Leite e eram ambos os redatores daquele órgão, fundado em 23 e abril de 1920. (3) O conteúdo do jornal era pragmático, voltado para a instrução e "os moços do Grêmio, colaboravam na redação em seus diversos artigos, onde distinguia-se uma programação lítero-cultural." Formara-se assim uma verdadeira sociedade literária.
          Outra página a se considerar era o desenvolvimento da elite e seus desdobramentos. Muitos estudantes traziam de "fora" a vida social e os costumes da sociedade. Um desses exemplos foi a fundação do "Guarará Basket Ball" que se deu por iniciativa e empenho de Filhinha Leite. Em julho de 1920, ela reuniu-se com algumas amigas e moças de seu círculo e criou aquela agremiação e, ao mesmo tempo, surgiram dois times. O primeiro jogo oficial foi em 03 de julho, em homenagem ao cônego Ângelo Resende, pároco da cidade. (3a
          Assim e em outros e variados aspectos, o intercâmbio entre a região e as grandes metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro eram, além de uma necessidade e, feitos intensivamente, promoviam as suas consequências naturais.
          Era para o Rio que estavam as melhoras escolas, os melhores jornais, os melhores centros comerciais e era para lá que iam os comerciantes, profissionais e estudantes e também para lá seguiam toda sorte de gêneros de exportação. Era destas duas cidades que vinha a grande maior parte dos artigos que por aqui se vendiam. Artigos como fazendas, calçados, chapéus de sol e de cabela, perfumarias, armarinhos, louças, ferragens, conservas, lâmpadas elétricas, artigos de papelaria, gêneros alimentícios, etc.
          Estes artigos encomendados pelas casas comerciais que aqui tinham praça, eram então franqueados à venda aos seus clientes. Muitas eram as casas comerciais que se distinguiam neste seguimento. Era a "Casa de primeira Ordem", propriedade da "Leite & Comp", cujos titulares eram Elcenor Leite e Carmella Viggiano, sediada à Pça do Divino, no centro da cidade e que vendia de um tudo, desde artigos simples e comuns até calçados e artigos de primeira linha para homens senhoras e crianças, artigos chic e elegantes, finos e modernos.
          Outros estabelecimentos haviam de igual importância e que seguiam na mesma linha, como a "Casa Libaneza", de Pedro Miguel & Irmãos ou a "Casa da Barateza" de propriedade de Francisco Padula, em Santo Antonio do Aventureiro, município vizinho, e que vendia de tudo como as anteriores, chapéus, armarinho, calçados, brinquedos, perfumarias louças, ferragens, arreios, mantimentos, roupas feitas, etc...
          Todavia, para atender os gostos mais exigentes e que preferissem um modelo específico para certa ocasião,  ou simplesmente não gostasse de roupas feitas, haviam os alfaiates, como por exemplo o Sr. Manoel Jorge Furtado, e tte Menezes da Silva Neves, no distrito sede de Guarará ou Ângelo Padula e Antônio Luccacio em Bicas. Este último tinha a sua oficina na Rua dos Operários e tinha constituído um grande atelier de costura, e podia dar-se de oferecer a "...máxima perfeição e pontualidade, bom gosto e elegância, obedecendo aos figurinos recebidos mensalmente, com os últimos moldes de Paris.", ou, segundo o gosto do cliente. (4)
           Eram profissionais que faziam a diferença e profissionais havia que tinham várias várias habilidades como o caso do Cap. Bernardino Ortiz Dias que além de suas notáveis habilidades como cirurgião dentista, era também distribuidor, contador e partidor do Termo da Vila de Guarará, (5)  outro dentista de nome era Mateus Monteiro da Silva. Advogados do termo Antonio da Costa Oliveira, residente em Mar de Espanha e o Dr. Gilson Vieira de Mendonça. (6)
          Para facilitar a intermediação entre a região produtora e o mercado escoador do produto que era o Rio de Janeiro, haviam por aqui os agentes e representantes das grande firmas de importação, exportação e distribuição dos produtos agrícolas. Era o café mas, sobretudo, o açúcar que ganhara terreno na preferência nacional e internacional. Vários eram os representantes, como por exemplo Salomão Abrahão & Irmão, que eram agentes da "Companhia Usinas Nacionais" e de "A. Moura & Comp.". Os agenciados se comprometiam a fazer compras "...em grande escala para a usina que representam...", responsabilizavam-se por retirar e despachar mercadoria e, além disso eram grandes atacadistas e mantinham um armazém de secos e molhados, de nome "A Economia do Povo", próximo à Estação da Estrada de Ferro Leopoldina, em Bicas, onde mantinham grande estoque de farinhas de trigo, sal, cal, querosene, formicida, arame farpado, etc (7) E outros comerciantes igualmente bem assentados na praça como "Augusto Jorge & Irmão", no distrito de Bicas que passou a denominar-se "Augusto Jorge & Irmãos" com a entrada do irmão João Jorge, na sociedade familiar. (8)  E, em Santa Helena, havia a imponente congeladora e fábrica de manteiga da firma Marques Sampaio & Comp. (9)
          A tradição da região era ainda, e sempre fora, a cafeeira. O café da região de Bicas era tido como o de gosto mais apurado. Dentre os grandes empreendedores, mereceria destaque Vieira Camões. E bem ali no largo do Divino a firma Camões & Gomes mantinham a sua máquina para beneficiar e re-beneficiar café e arroz. E o própria Vieira Camões titular da Vieira Camões & Comp. tinham na Rua Santa Clara, no distrito de Bicas a sua agência para compra de Café e Arroz.
         
NOTAS:
Em 1920, com o advento da Lei Eleitoral N.º 4.215, é feita uma revisão dos distritos eleitorais de Minas Gerais. Guarará passa a integrar o 2º distrito e dele farão parte também as cidades de Caratinga, Manhuassu, Rio José Pedro, Aymorés, Viçosa, Palma, Carangola, São Manoel, São Paulo do Muriaé, São José de Além Paraíba, Cataguases, Rio Branco, Ubá, São João Nepomuceno, Rio Novo, Mar de Espanha, Leopoldina e o 3º distrito fica composto pela cidade de Juiz de Fora. (Jornal Cataguases, 25/12/1920).

FONTES E REFERÊNCIAS:
1- Jornal "O Guarará" de 24 de março 1920;
2- Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 42, fl.1 - Guarará,  de 25 de abril de 1920;
3 - Jornal "O Guarará" de 01/10/1939, pg.2;
3a- Jornal "O Guarará" de 04 de julho de 1920
4 - Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 41, 18 de abril de 1920;
5 - Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 44, fl.2. Guarará, 9 de maio de 1920;
6 - Jornal "O Guarará", ANNO V. M.º 107, fl.2. Guarará, 7 de agosto de 1921
7 - Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 39, fl.3 - Guarará, 4 de abril de , 1920; 
8 - Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 46, fl.1. Guarará, 23 de maio de 1920;
9 - Jornal "O Guarará", ANNO III, N.º 52, fl.3. Guarará,4 de julho de 1920.

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