sexta-feira, 15 de agosto de 2014

OS MINEIROS NAS CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES EM 1897

 OS MINEIROS NAS CIÊNCIAS, LETRAS E ARTES

Como é belo esse despertar contemporâneo da inspirada poesia e da suculenta prosa, no solo da presente geração mineira!
Demorados lustros ficou a arena das letras vasta do bons cultores, como igualmente esquecidas cativaram as gloriosas tradições do nosso passado colonial, para os poucos que, no nosso áspero meio metalizado, dos últimos tempos, sentiam atrativos em celebrar os doces mistérios das Musas, no pórtico augusto do Par­naso...
Agora, porém, surgem esperanças, bro­tam vigor o emulação do meio dessa talen­tosa mocidade, que o norte, o centro, o triângulo o sul do Minas trazem à luz da celebridade merecida, no rumor das aclamações da imprensa, que estampa suas produções ou noticia seus trabalhos.
Aí estão cultivando a prosa — Afonso Arinos (o Gil Cassio. tão mimoso nos seus escritos, autor do Sertão, natural do Paracatu o formado em direito por São Paulo); Aurélio Pires (o tradutor da Evangelina, de Longfellow, e natural do Serro, diplo­mado na Escola Farmacêutica do Ouro Preto); Afonso Celso Junior (o insigne autor de Lupe, dos Vultos e Fatos... o nosso Pierre Lot brasileiro, pela meiguice e doce colorido individualista do estilo, na­tural de Ouro Preto o formado em direito por São Paulo); José Braga (o autor da His­tória Íntima e da Catástrofe, natural de São João del-Rei e redator do Minas Gerais); José do Azevedo Júnior (o delicioso Nemo das crônicas picantes, embora ca­rioca de nascimento, mas mineiro do co­ração, pela família e residência em Pitangui, por muito tempo); Lindolfo Gomes (autor da Vida Galante e natural de Niterói, mas jornalista a morador em Juiz de Fora); Antônio Celestino (autor de Padre Eusébio, natural de Passos); Nelson de Senna, (autor das Páginas Tímidas, das Efemérides Mineiras... natural do Serro e a formar-se em direito pela escola de Ouro Preto); Avelino Fóscolo (jornalista em Tabuleiro Grande e autor d’Os Mestiços); Silva Tavares (autor dos Contos, natural de Juiz de Fora, onde é jornalista); Augusto Ferreira (autor do Regulo de Al­deia); Olímpio Leite (autor das Aquarelas, natural de Rio Novo); Estêvão Lobo (natural de Juiz de Fora, formado em di­reito por São Paulo e fino burilador de crônicas e pequenos contos), Edmundo Lins (que concilia a austeridade de juiz com a doçura de suas eruditas latinidades e es­critos, também formado em direito e na­tural de Serro), Vasco do Azevedo (autor do drama Orgulho e Amor, natural de Pitangui, onde é jornalista); Bento Ernesto (autor da Vida Aldeã, natural de Itapecerica e hoje professor na cidade do Pará, sendo diplomado pela Escola Normal de São João del-Rei); todos esses e muitos ou­tros, que se tem revelado senhores dos se­gredos e belezas do conto e do romance, da novela e da narrativa, nos livros e pu­blicações que ultimamente produziram.

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Como cultores da poesia, de sonetos e madrigais, odes e poemetos, temos uma legião de distintos patrícios, que, logo aos primeiros passos no convívio das letras ensaiam o futuro renome na rima do verso moderno com suas doces e variadas formas.
Se nem todos conseguem pela quantidade da produção exalçar-se, pela qualidade, to­davia temos uma plêiade de jovens e ar­dentes poetas, que representam o escol glorioso da classe.
Aí estão — Antônio Augusto de Lima (o ilustrado autor dos Símbolos e Contemporâneas, natural de Vila Nova de Lima e formado em Direito por São Paulo, cujo nome como magistrado rivaliza com o brilho de sua fama como professor da Academia Jurídica de Ouro Preto); Arthur Lobo (autor dos Evangelhos, das Quermesses... natural de Montes Claros e professor no Instituto Normal de Uberaba); Aurélio Ne­ves (autor dos Trechos Líricos, natural de Ouro Preto e formado em Direito por São Paulo); Adolfo de Araújo (formado também por São Paulo, onde reside, como jornalista, embora filho da cidade do Serro); Bento Ernesto Júnior (autor das Frondes e Átomos Líricos, que o colocou em bonita posição junto aos eleitos do Parnaso); Francisco Amedèe Peret (autor das Ouro-pretanas e das Mineiras, formado em agri­mensura pela Escola de Minas e natural de Ouro Preto, onde é lente de matemáticas no Ginásio); o ilustrado padre José Joa­quim Correia de Almeida (autor de quatorze livros, já publicados, de poesias Decrepitude Metromaníaca, Sonetos e Sonetinhos, Poesias do Padre Corrêa de Almeida e muitos ou­tros — que passa como o nosso Tolentino no meneio clássico e faceiro da sátira, embora os seus 80 anos de idade, transcorridos em Barbacena, onde nasceu e reside, aí tendo sido professor de latim muitos anos); Ernesto Corrêa (autor dos Salmos Modernos, um belo talento, formado em Direito por São Paulo, natural de Tamanduá e hoje advogado em Passos); Corgosinho Filho (autor dos Pipilos e natural de Pitangui, onde é jornalista); Manoel Viotti - (autor do livro Florais, formado pela Faculdade de São Paulo e natural da cidade de Pouso Alto, sendo hoje talentoso advo­gado na Pauliceia); Arthur Queiroga (inteligente jornalista e poeta de Diamantina, em cuja Escola Normal se graduou, fazendo parte do corpo docente da mesma); Arcanjo da Costa Guimarães (o delicado Arcchangelus que colabora n'O Paiz, na­tural de Ouro Preto e a formar-se na Fa­culdade Livre do Minas); seu irmão Afonso Guimarães (Alphonsus de Guimarães, formado em Direito e hoje magis­trado em Conceição do Serro, sondo autor do várias e apreciadas produções poéticas); Silvestre de Lima (autor do poemeto A Escravidão, natural de Passos e cuja brilhante carreira dolorosa fatalidade cortou, arrancando-lhe as ilusões da Musa); Henrique Câncio (jornalista e poeta, natural da cidade de Peçanha e hoje residente em Vitória); Leopoldo da Silva Pereira (autor das Sertanejas, natural de Milho Verde do Serro e hoje inteligente professor na Escola Normal de Araçuaí). Soares Junior (autor das Tentações e natural de Jacuí, atualmente estudante em São Paulo); Silva Tavares (autor dos Bandoleiros, e de quem já falamos),  César de Carvalho (Tito C. do C. Bhering, autor dos Azulejos, formado em Direito por Bruxelas, (Bélgica) e natural de Ponte Nova); Horácio Guimarães (Horatius do Guymar, filho de Bernardo Guimarães e distinto e modesto cultor da poesia, natural de Ouro Preto, onde exerce o subsecretariado da Faculdade); Francisco Lins (bonito talento poético, que hoje reside na cidade de Pi­ranga); José Severiano de Rezende (natu­ral de São João del-Rei e que tendo feito nome no jornalismo acadêmico em São Paulo, cursando até o 3.º  ano da Faculdade, abandonou o mundo pela Igreja, es­tando a receber o presbiterato no seminá­rio de Mariana); Rodolfo Jacob da Paixão (o erudito autor do poema — Inconfi­dência, natural de São João del-Rei e engenheiro militar pela Escola Superior de Guerra, atualmente deputado federal); José Paixão (autor de Adelfas, natural de Juiz de Fora, onde é jornalista e lente da Escola Normal); Lindolfo Xavier (inteligente jornalista e poeta, natural de Sant'Anna de São João Acima, município do Pará); Rodrigo Bretas de Andrade (que de tempos em tempos semeia em belas estrofes seu culto talento, formado por São Paulo e natural de Ouro Preto, onde re­side, como magistrado); as poetisas dd. Ma­ria Luiza Seixas e Mariana Higina de Fi­gueiredo (naturais de Diamantina, em cuja Escola Normal se diplomaram); Rodrigo Teófilo Gomes Ribeiro (autor das Névoas Matutinas e dos Contos e poe­sias, também natural de Diamantina e hoje inteligente funcionário do Arquivo Mineiro); Trajano Pires (da cidade de Palmira) e pai da jovem poetisa Áurea Pi­res; Arnaud Gribel (formado em Di­reito, natural de Mar de Espanha e que usa do nome de Germansu Hermann, em seus belos contos e poesias); Heitor Gui­marães (talentoso jornalista e poeta de Juiz de Fora, onde reside, autor dos Multicores e dos Versos e Reversos); Agostinho dos Santos Pereira (aluno da Escola de Direito Mineira e autor do romancete Amor Infeliz, auspicioso ensaio literário); Raul Soares, Walfrido Silvino, José Eduardo da Fonseca, Carlos Romeiro e Teófilo Pereira Júnior (igualmente acadêmicos da mesma Faculdade, em Ouro Preto, e talento­sos colaboradores em prosa e verso de vá­rios jornais mineiros); as poetisas sul-mineiras, d. Presciliana Duarte e d. Maria Antonieta Gama e d. Áurea Pires, já festejadas e aplaudidas na imprensa pe­riódica; e outros muitos meus patrícios, cujos nomes de momento não posso pre­cisar e que, no entanto, tem seus justos direitos para nesta lista figurar.

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Para não falar das nossas individualidades da alta política, federal e estadual, como sejam ilustres estadistas e parlamentares, cuja fama escapa à orbita limitada destes ligeiros apontamentos, referirei mais alguns nomes de mineiros, igualmente no­táveis em outros departamentos da Cultura humana e que são dignos de todo o louvor, pois seus trabalhos devem ser compreendidos na série das produções literárias, desde que na "literatura nacional de um povo" - como é sabido — se incluem quaisquer manifestações escritas da inteligência, nas várias modalidades do talento e vocação de cada um indivíduo. Como só falo de contemporâneos, vou direto aos nossos beneméritos da Historia Mineira, atualmente. O erudito comendador José Pedro Xavier da Veiga (natural de Campanha e hoje ilustre diretor do "Arquivo Público Mineiro", em Ouro Preto, autor de volumosos trabalhos e preciosas monografias sobre o nosso passado); seu irmão Bernardo Saturnino da Veiga (distinto jornalista de Campanha, onde tem publicado excelentes almanaques, divulgando história mineira); dr. Pedro Caetano Sanches de Moura (venerando juris­consulto da cidade do Serro, conhecedor emérito de história e línguas e autor de trabalhos vários, muitos dos quais inéditos); e padre Joaquim Silvério de Sousa (vir­tuoso capelão de Macaúbas do Rio das Velhas e autor de memórias e escritos muito apreciados no assunto); o ilustre alferes Luiz Antônio Pinto (velho e infatigável cultor de tais estudos e natural do Serro, norte de Minas); o coronel Antônio Borges de Sampaio (de Uberaba, membro do Instituto Histórico do Brasil e autor de interessantes trabalhos sobre homens e coisas de Minas); o dr. Virgílio Martins de Melo Franco (senador estadual lente da Faculdade e nascido em Paracatu, ilustrado autor de preciosos opúsculos de viagens, e jurisprudência e também sobre corografia mineira); o dr. Antônio Augusto Veloso (natural de Montes Claros, hoje magistrado em Diamantina, e profundo espírito afeito a tal ordem de estudos, em vários trabalhos que já tem publicado como Lições Cívicas); e, como esses, vários outros nossos ilustres comprovincianos.

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Em semelhantes escritos, impossível é (falo diante de vistas imparciais), coordenar a vasta série de produções, que aí correm o mundo da publicidade, sob a égide respeitável de ilustres nomes mineiros.
Ocorre-me agora à memória lembrar de alguns patrícios, como os distintos norte-mineiros, cônego Severiano de Cam­pos Rocha, padre Domingos Moreira dos Santos (ambos de Diamantina, se não me engano, e que belas poesias, odes e sonetos têm produzido, em número copioso, para jornais e almanaques); o dr. José Cândido da Costa Sena (de Conceição do Serro, formado em medicina pela Faculdade do Rio de Janeiro e também apreciado autor de versos, onde predomina delicado sainete brasileiro); e o vigário Teófilo Vieira de Andrade (natural do Serro e também poeta distinto). A esses devo juntar outros mineiros, como Lafaiete de Toledo (morador em Casa Branca, cidade paulista, mas que aí emprega cuidados em eruditos estudos de história de Minas); Francisco Lentz de Araújo (de Campanha, onde exerce o magistério, e autor de interessante e abreviado compêndio de História de Minas Gerais); o dr. João Pedro da Veiga Filho (natural da Campanha ora residente em São Paulo, em cuja Escola de Direito é lente substituto, sendo autor de vários opúsculos e memórias sobre a ciência financeira e Economia Política, como Estudos Econômicos e Financeiros, Monografia sobre Tarifas Aduaneiras e outros); dr. Bernardino Augusto de Lima (natural da vila de Congonhas de Sabará e hoje lente de Economia, nas Escolas de Minas e de Direito de Ouro Preto, autor do opúsculo Economia Rural e outros folhetos); dr. Thomaz da Silva Brandão (natural de Ouro Preto, formado por São Paulo, diretor e lente de pedagogia na Escola Normal da capital, catedrático de Direito Civil na Escola Jurídica, e autor d'O Sentimento, livro de educação moral, e da Gramática Infantil, além de outros tra­balhos didáticos); dr. Américo Lobo Leite Pereira (notável poeta, tradutor em versos primorosos da Evangelina, formado em Direito e hoje o único ministro mineiro do Supremo Tribunal Federal); dr. Alfredo Pinto Vieira de Mello (formado pelo Recife onde nasceu, mas Mineiro polo coração e laços de família, autor de trabalhos jurídicos, como O Júri e de obras literárias, como o drama Disciola, sendo hoje depu­tado federal pelo nosso Estado); e bem longe iriam estas ligeiras páginas, adotado o alvitre de mais sérias indagações sobre o assunto. E ocioso fora timbrar no propósito de passar em revista e analise despretensiosa a já bem respeitável bagagem bibliográfica dos Mineiros contemporâ­neos: escasseiam dados seguros, que habi­litem a execução de tal desiderato. Assim vou passar ao domínio da produção artística, relembrando ainda alguns nomes de patrícios escritores, olvidados, talvez no correr destes apontamentos, pela me­mória rebelde em conservá-los todos, pois como já disse, aqui não me socorro de outra fonte de informação, que não sejam, em tese geral, vagas lembranças guardadas quase de cor.

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Sobre produções teatrais, ocorro-me apontar ainda A moeda, elegante comédia em 2 atos, do dr. Afonso Arinos de Mello Franco; o Tio na América, outra comédia em 1 ato, original do jornalista José de Azevedo Júnior; o drama em 6 atos, O Garimpeiro, extraído do romance do nosso genial Bernardo Guimarães, polo major Joaquim da Costa Mattos; o drama Pescador de Olinda, do dr. Pedro Salazar Moscoso da Veiga Pessoa (pernambucano de nascimento, mas mineiro pelo coração, interesses e laços de família, residente na cidade de Paracatu, onde advoga e é lente na respectiva Es­cola Normal, sondo autor de outros tra­balhos em prosa e verso); e, por fim, uma interessante comédia de costumes, que já tem ido ao palco, saída da pena dos dois moços diamantinenses, Artur Queiroga e Antônio Duarte Mandacaru, ambos normalistas.
É meu desejo não incorrer na pecha de parcial e caprichoso, ao rabiscar, ás pressas e sem método preestabelecido, estes apontamentos sobre filhos notáveis de Mi­nas, da geração contemporânea, no mundo intelectual e artístico. Eis porque com frequência, terão visto os meus poucos leitores intercalações e aditamentos, neste leve escrito: só assim consigo salvar as emissões cometidas.
Devo aqui mencionar dois ilustres mineiros, residentes na capital de São Pau­lo, o primeiro poeta apreciado, que é Sílvio de Almeida (natural da nossa cidade de Pouso Alegre, formado em Direito e lente de português, por concurso, no Ginásio Paulista, e autor das Efêmeras (1893) e outras publicações poéticas de renome); o segundo é também poeta e prosa­dor bem conhecido, Horácio de Carvalho (natural de Lavras (?), diretor desde 92 do Diário Oficial do governo paulista, colaborador do Diário Popular e autor do ro­manceio— O Solitário da Ponte Grande e do Bouquet de Coisas, grossa e magnifica publicação em 2 volumes (1896), contendo as melhores produções do autor). Devo estas ligeiras informações ao talentoso amigo dr. Manoel Viotti, ao qual - também a tempo retifico; - serviu de berço natal a cidade de Baependi e não a de Pouso Alto, como antes tinha eu escrito.
Em trabalhos históricos, escaparam-me os nomes do dr. Pedro Sanches de Lemos (médico e residente na vila de Poços de Caldas, da qual escreveu substancial memória para a Revista do Arquivo Público Mineiro); do lente da Escola de Farmácia, professor Eduardo Machado de Castro (formado em ciências naturais e autor da Epanáfora de Minas, quando lecionava história no antigo Liceu Mineiro, de Ouro Preto); do ilustre jornalista sr. dr. Aristides de Araújo Maia (ora residente na Capital Federal e nascido na fazenda de Monte-Cristo, a légua e meia da atual cidade norte-mineira de Teófilo Otoni (Filadélfia), formado em Direito por São Paulo e conhecido autor de um excelente estudo, infelizmente, não concluído, so­bre a História de Minas, publicado no Liberal Mineiro, e do Homestead, além de vários trabalhos sobre política); do inteligente sr. Basílio de Magalhães (natural de São João del-Rei, professor em colégios na Capital de São Paulo, e autor das Lições de História do Brasil, publicação de 1895, em 245 páginas); e dos velhos professores de História, drs. Teodomiro Alves Pereira (de Diamantina) e Diogo Pe­reira de Almeida Vasconcelos (de Ouro Preto), sendo este profundo conhecedor do passado e das tradições de Minas.
Ainda em trabalhos de jurisprudência, muitos e notáveis escritores práticos e teóricos pode Minas apresentar, atual­mente. Aí estão: o sr. dr. Levindo Ferreira Lopes (lente de processo na Faculdade Jurídica de Minas, senador estadual e autor respeitadíssimo de notáveis publicações de Direito, como Prontuário Policial, Notas e Observações sobre Tribunais Correcionais, Projetos do Código do Processo Civil e Criminal do Estado, etc.); os magistrados Francisco de Paula Fernandes Rabelo e Tito Fulgêncio Alves Pereira (juízes de Direito, nas cidades de Mariana e Bagagem, autores de monografias excelentes); o dr. Antônio Augusto Veloso (juiz de direito de Diamantina e autor do Manual Eleitoral); e muitos outros juris­consultos e advogados de nomeada.
Quanto a obras de medicina, aí estão a Chimica Toxicologica (inédita) e a tese publicada sobre Vírus Rabido, da lavra do talentoso dr. Gomes Freire de Andrade (natural de Mariana, doutorado pela Faculdade do Rio, e lente do 3º ano da Escola Farmacêutica); e diversos tra­balhos do abalizado clínico, filho de Minas Gerais, dr. Hilário de Gouvêa (lente catedrático da Faculdade Médica do Rio de Janeiro, sendo graduado por esta e pela Escola de Medicina de Paris). Como capacidades em engenharia e ciência físicas e naturais, temos: Joaquim Cândido da Costa Sena, Augusto Barbosa, Marciano Pereira Ribeiro e Antônio Olyntho, (lentes da Escola de Minas de Ouro Preto); Martiniano da Fonseca Reis Brandão, Francisco Bicalho, Cláudio de Lima, Antônio Penido, Francisco Lobo, Pedro Versiani, Teófilo Otoni e tantos outros.
Se quiser mencionar professores eméritos, bem versados em línguas e ciências, embora pouco hajam escrito e publicado, acodem à pena os nomes dos srs. Sebas­tião Corrêa Rabelo, Luiz Pessanha, Afonso de Brito, Leonardo Palhares, José Coelho Tocantins de Gouvêa, José Teodoro de Sousa Lima, Cruz Machado, Randolfo Ferreira Bretas, Aureliano Pimentel..., todos dignos preceptores da mocidade, em Escolas Normais, Ginásios e colégios secundá­rios deste Estado.
 Faltam os denodados pelejadores da imprensa mineira; esses, tantos e tão beneméritos e distintos são, que enumerá-los fora ousadia de quem escreve estas linhas. Quase todas as localidades de Minas, cidades, vilas, distritos e pequenos povoados contam seus periódicos; uns melhor orientados e amparados por cultivados espíritos, enquanto outros rastejam na chatice do periodismo politiqueiro de Burgos-podres. Mas, já se veem jornais mineiros de feitura moderna, sob a inspiração de va­lentes mentalidades.
Se passarmos em revista ligeira os nossos patrícios, que mais se tem distinguido no domínio das belas-artes, em nossos dias, encontraremos:
Honório Esteves (natural do Leite, po­voado do município de Ouro Preto, autor de belíssimos quadros de pintura a óleo e crayon, inventor do alfabeto cromático e distinto professor de desenho na Escola Normal de Ouro Preto); Belmiro de Almeida (nascido no Serro e hoje professor na Escola de Belas-Artes do Rio, onde quadros notáveis o colocam junto aos melhores pintores nacionais, sendo autor da tela Arrufos e outras); José da Cunha Vale Laport (natural de Diamantina, em cuja Escola Normal se tem feito apre­ciado como professor de desenho); Alberto Delpino (professor de desenho no Inter­nato do Ginásio e Escola Normal de Barbacena, redator-artístico do Mensal, periódico ilustrado, único no gênero, em Minas, e autor de vários e belos quadros, entre os quais figura O tropeiro); Armínio de Melo Franco, Joaquim Gasparino e outros inteligentes cultores da pintura e desenho, entre nós.
Na música, Miguel Cardoso (nascido no Serro, diplomado em Milão (Itália) e pro­fessor no Conservatório, da Capital Fede­ral); Antônio Efigênio de Sousa e João Batista de Macedo (de Diamantina); Ma­noel Joaquim de Macedo (natural de Barba­cena e autor do poema sinfônico Floriano Peixoto e da ópera Tiradentes, sendo o libreto desta da lavra do sr. dr. Augusto de Lima); Francisco Fonseca (de Prados); Vicente Ferreira do Espirito Santo (de Ouro Preto); esses e mais uma legião de inspirados e fervorosos cultores, que há em Minas, da grande arte que sagrou com a imortalidade os gênios brasileiros do fluminense padre José Maurício Nunes Garcia e do paulista Carlos Gomes.

***

Termino, pois, a resenha incompleta e mal feita — que me propus realizar, em ins­tantes fugazes de lazer — sobre o talento e esforço intelectual e artístico dos Mineiros, na geração atual. Esvurme a boca vil dos maus e desleais, gratuitas injúrias sobre mim: irei sempre trabalhando, con­forme m’o permitirem as circunstâncias em prol de Minas e de minha Pátria, alen­tado pelo vigor presente dos poucos anos e robustecido em minha fé e amor ao futuro com animadoras e cordiais incitações de amigos e compatriotas.
Afez-se meu espírito aos laboriosos e belíssimos estudos da História Pátria; e neles prosseguirei, orgulhoso, sem dúvida, em algo poder servir e dignificar à gloriosa terra em que nasci. Doem-me as ofensas, por imerecidas e não provocadas; mas, longe de me desencorajar, as agressões e calúnias, como os doestos e remoques, me despertam a energia e a vontade, para não abandonar jamais o convívio das letras, que, se não compensam e enriquecem, to­davia confortam a alma, instruindo o espírito e deleitando o coração.

Ouro Preto, maio de 97.
Pelayo Serrano

OBS:
Pelayo Serrano era o Pseudônimo de Nelson de Sena


FONTE
Jornal "O Estado de Minas Gerais" de 20 de abril de 1897
Jornal "O Estado de Minas Gerais" de 26 de abril de 1897                
Jornal "O Estado de Minas Gerais" de 06 de maio de 1897               
Jornal "O Estado de Minas Gerais" de 22 de maio de 1897


NELSON DE SENNA (BIOGRAFIA)
FONTE: ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO
 
Nelson Coelho de Senna nasceu na cidade do Serro, no dia 11 de outubro de 1876, e faleceu em Belo Horizonte, em 2 de junho de 1952. Foi parlamentar, publicista e professor universitário.
Em 1893, diplomou-se professor normalista pela Escola Normal oficial de Diamantina. No ano seguinte, foi nomeado para o cargo de amanuense da Secretaria da Polícia, sendo logo transferido para a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Em 1896, foi nomeado professor substituto da cadeira de História Universal e do Brasil do externato do Ginásio Mineiro.
Durante o período de 1894 a 1896, publicou os seus primeiros livros Memória Histórica e Descritiva da Cidade e do Município do Serro, Discursos Acadêmicos e Paginas Tímidas, coletânea de contos e escritos literários. Foi, ainda, colaborador do jornal O Estado de Minas e redator-chefe de O Belo Horizonte, do quinzenário A Província e do Diário de Minas.
Em fins de 1895, foi eleito presidente da Sociedade Beneficente Mineira dos Estudantes e, em 1897, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Minas.
Em 1906, deu início à publicação do Anuário de Minas Gerais, com estudos sobre história, geografia, literatura e estatística. Defendeu a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, fato que veio a ocorrer em 1907. Ingressou na política e foi eleito Deputado Estadual por diversas legislaturas até o ano de 1921, quando foi eleito Deputado ao Congresso Nacional, onde permaneceu até 1929.
Afastou-se da política em 1930 e retomou suas atividades intelectuais. Em Belo Horizonte, assumiu o cargo de professor, retornou ao exercício da advocacia, às suas pesquisas e aos trabalhos literários. Foi sócio fundador, benemérito, correspondente honorário e membro efetivo de diversas instituições culturais do Brasil e do exterior.
Nelson Coelho de Senna nasceu na cidade do Serro, no dia 11 de outubro de 1876, e faleceu em Belo Horizonte, em 2 de junho de 1952. Foi parlamentar, advogado, publicitário e professor universitário.
Em 1893, diplomou-se professor normalista pela Escola Normal oficial de Diamantina. No ano seguinte, foi nomeado para o cargo de amanuense da Secretaria da Polícia, sendo logo transferido para a Secretaria da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Em 1896, foi nomeado professor substituto da cadeira de História Universal e do Brasil do externato do Ginásio Mineiro.
Durante o período de 1894 a 1896, publicou os seus primeiros livros Memória Histórica e Descritiva da Cidade e do Município do Serro, Discursos Acadêmicos e Paginas Tímidas, coletânea de contos e escritos literários, publicou ainda na Revista do Arquivo Público Mineiro. Foi, ainda, colaborador do jornal O Estado de Minas e redator-chefe de O Belo Horizonte, do quinzenário A Província e do Diário de Minas.
Em fins de 1895, foi eleito presidente da Sociedade Beneficente Mineira dos Estudantes e, em 1897, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito de Minas.
Em 1906, deu início à publicação do Anuário de Minas Gerais, com estudos sobre história, geografia, literatura e estatística. Defendeu a criação do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, fato que veio a ocorrer em 1907. Ingressou na política e foi eleito Deputado Estadual por diversas legislaturas até o ano de 1921, quando foi eleito Deputado ao Congresso Nacional, onde permaneceu até 1929.
 Afastou-se da política em 1930 e retomou suas atividades intelectuais. Em Belo Horizonte, assumiu o cargo de professor, retornou ao exercício da advocacia, às suas pesquisas e aos trabalhos literários. Foi sócio-fundador, benemérito, correspondente honorário e membro efetivo de diversas instituições culturais do Brasil e do exterior, com destaque pela grande colaboração como correspondente do Arquivo Público Mineiro.

 

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