terça-feira, 10 de setembro de 2013

AUGUSTUS GRIBEL - ABISMOS...



ABISMOS...         

Fomos ver há dias, na fazenda dos Alpes, naquele dia da “Festa do Cafés, da “apanha”, como mais conhecida, uma coisa nova, que é velha do que a Sé de Braga. E que coisa seria essa? Seria aquela hospitalidade tão admirável quanto sincera e natural, do dono daquela casa grande, o sr. Antônio Vital dos Reis? Seria aquele relicário de brasileirismo da festa folclórica e viva, com os seus calangos cantados à sanfona, em versos improvisados e aqueles “vivas a todos”?...

*-*-*

Já terei deixado perceber certamente, que a vida da cidade me atrai e me interessa pelas características da intensidade emocional e espiritual, ficando mais de lado a evidência econômica, histórica, social e política. No caso particular desta terra onde nasci, peço vênia para querer muito e sobretudo, ao “invisível” da minha infância, constituído de bem mofinos episódios que só para mim se identificam e se renovam por meio de uma herança personalíssima - a veia poética.
O mundo da infância será sempre um mundo murado. Por isso, digo apenas que aqui, nesta terra, ficaram e ficarão sempre, por um sortilégio de memória que o novelista Proust descobriu no fundo de uma xícara de chá, para consolo destes meus dias “adultos”, inúmeras coisas puras e humildes, sublimes veneráveis como um velho moinho de tábuas antigas que se enegrecem ao tempo, sem pintura...
Certos imponderáveis do ar, da água, do temperamento mantem-se suspensos por cima de tudo, superando todas as turbações do meu espírito cansado e saem ainda hoje, de dentro da minha infância para vir correr de novo, com cores inigualáveis, pelos vales verdes e montanhas azuladas pelas distâncias, sacudindo uma vez mais, o silêncio da minha solidão e os abismos imponderáveis dos meus pecados de outrora e de hoje...

A. Gr. 


0 comentários:

Postar um comentário