ABISMOS...
Fomos ver há dias, na fazenda dos Alpes,
naquele dia da “Festa do Cafés, da “apanha”, como mais conhecida, uma coisa
nova, que é velha do que a Sé de Braga. E que coisa seria essa? Seria aquela
hospitalidade tão admirável quanto sincera e natural, do dono daquela casa
grande, o sr. Antônio Vital dos Reis? Seria aquele relicário de brasileirismo da
festa folclórica e viva, com os seus calangos cantados à sanfona, em versos
improvisados e aqueles “vivas a todos”?...
*-*-*
Já terei deixado perceber certamente,
que a vida da cidade me atrai e me interessa pelas características da
intensidade emocional e espiritual, ficando mais de lado a evidência econômica,
histórica, social e política. No caso particular desta terra onde nasci, peço
vênia para querer muito e sobretudo, ao “invisível” da minha infância,
constituído de bem mofinos episódios que só para mim se identificam e se
renovam por meio de uma herança personalíssima - a veia poética.
O mundo da infância será sempre um mundo
murado. Por isso, digo apenas que aqui, nesta terra, ficaram e ficarão sempre,
por um sortilégio de memória que o novelista Proust descobriu no fundo de uma xícara
de chá, para consolo destes meus dias “adultos”, inúmeras coisas puras e
humildes, sublimes veneráveis como um velho moinho de tábuas antigas que se
enegrecem ao tempo, sem pintura...
Certos imponderáveis do ar, da água, do
temperamento mantem-se suspensos por cima de tudo, superando todas as turbações
do meu espírito cansado e saem ainda hoje, de dentro da minha infância para vir
correr de novo, com cores inigualáveis, pelos vales verdes e montanhas azuladas
pelas distâncias, sacudindo uma vez mais, o silêncio da minha solidão e os
abismos imponderáveis dos meus pecados de outrora e de hoje...
A.
Gr.
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