CATIVEIRO...
Acredito que há uns cinquenta anos
passados no tempo em que nem sonhávamos existir, a humanidade era mais pobre,
mas, também, mais feliz. Era comum amar-se a poesia, a arte, o pensamento em
todas as suas melhores manifestações. Amava-se a Beleza, enfim.
O homem, sem rádio, sem avião, sem
televisão sem arranha-céu e sem cinema, era de, certo um pobre diabo, para nós
da época de hoje.
Mas, em verdade, na sua humildade e
pobreza daqueles tempos, tinha a sua suma riqueza: — a imaginação que falta a
quase todos nos nossos dias.
E não podendo trocar ideias e
pensamentos com uma pessoa amiga, fazia justamente isto: tornava presente
aquela pessoa querida por meio de sua saudade e de sua imaginação, escrevendo
versos, cartas e cantando a beleza das coisas... Era de fato mais perfeito que
hoje, vindo a nós e indo nós a ela, de avião ou sobre os pneus de automóvel.
*-*-*
Com o progresso ninguém mais pensou em
ser grande, mas, tão somente em ser rico. A aristocracia do dinheiro esmagou a
fidalguia do espirito! O primado da inteligência pura cedeu lugar ao da
inteligência aplicada. O dono de uma casa de linguiças no Rio, olharia com
desprezo um mísero Dante, se o cantor da Comédia ressuscitasse. É o
materialismo tomando mil formas que o progresso lhe deu e lhe dará ainda...
*-*-*
E o que é que dizem os homens de hoje,
senhores dos mares, dos céus, das distâncias e de toda essa ciclópica
civilização? Que são felizes? Não, não! Clamam, bradam, que são desgraçados,
que nunca foram tão infelizes como agora, trocando a liberdade da imaginação pelo
cativeiro do estômago...
A.
Gr.
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