sábado, 6 de setembro de 2014

VENENO OPHIDICO



VENENO OPHIDICO

Do Espirito Santo do Mar de Espanha, escreve o Sr. Antônio A. Carvalho, a seguinte carta ao Dr. Lacerda:
“Ilm.º. Sr. Dr. Lacerda. — Parabéns, mil parabéns, por tão feliz descoberta.”

Mais um caso a registrar.

“Às 9 horas da noite do dia 22 de março do corrente ano fui chamado, e eu por minha parte convidei ao distinto facultativo Sr. Dr. José Joaquim Monteiro de Castro, para vermos um escravo do Sr. Antônio José da Costa, que tinha sido picado por uma cobra, as 9 horas da manhã. O escravo era de constituição regular, temperamento sanguíneo nervoso, de 16 anos de idade, mais ou menos, gozando sempre boa saúde, carreiro de profissão.       
Apresentava na hora da visita o seguinte: agitação, insônia, olhos demasiadamente abertos, conjuntivas excessivamente injetadas a ponto do simular uma placa de sangue ou equimose subconjuntival; cefalalgia frontal intensa, língua com as bordas cor de lacre, e nos dois terços posteriores coberta de uma saburra negra, hálito fétido e ácido, vômitos constantes de natureza hemorrágica, assemelhando-se a sangue coagulado em pequenas massas e do cor quase negra; urinas avermelhadas e em pequena quantidade, extraídas pela sonda; tosse seca, dispneia, frequência das pulsações do coração, pulso pequeno, filiforme, miserável, suores frios, e viscosos na região frontal.
Na região tíbio-tarsiana, parte anterior, existia uma pequena solução de continuidade, tumefata e dolorosa à menor pressão, indicando o lugar em que a cobra havia mordido; a dor prolongava-se em toda a perna.
Nestas condições foram, aplicadas pelo distinto Dr. Monteiro, três injeções com o permanganato de potássio, à razão de 1/100, e com intervalos de uma hora, senão duas nas proximidades do lugar mordido e com uma grama da solução e uma injeção com meia grama da solução no lado interno da coxa. No dia seguinte foram feitas mais duas injeções de uma grama, da solução sendo uma na coxa e uma no braço. Após as primeiras injeções, o estado geral foi sucessivamente melhorando pela cessação dos vômitos, da ansiedade, da hemorragia das escarificações que se havia, feito junto ao lugar mordido, e da hemorragia das gengivas, as quais eram abundantes. Graças exclusivamente ao permanganato de potássio, alguns dias depois o escravo achava-se completamente restabelecido.
O escravo fora mordido às 9 horas da manhã, e ás 9 da noite apresentava todos os sintomas de um envenenamento completo, caracterizado pela absorção da peçonha, que levou sua ação destruidora a toda a massa sanguínea, e aos grandes centros nervosos.
Não restava, pois, a menor dúvida que o escravo estava envenenado, e, nestas críticas circunstancias, sendo empregado tão somente o permanganato de potássio ele triunfou do mal, restituindo a saúde a um infeliz, que foi julgado irremediavelmente perdido.
Se esta minha tosca exposição pode ser útil a V. S., faça dela o uso que lhe aprouver.
Sou, com a maior admiração e respeito, de V. S. atento venerador e criado -Antônio Cândido A. Carvalho."

Fonte: Jornal "Gazeta de Notícias", 29 de julho de 1883.




O Dr. João Batista de Lacerda (Campos dos Goitacases, 12 de julho de 1846 — Rio de Janeiro, 6 de agosto de 1915) foi um médico e cientista brasileiro. 
Formado médico pela faculdade do Rio de Janeiro, clinicava em sua cidade natal quando foi nomeado pelo ministro da Agricultura subdiretor da seção de antropologia, zoologia e paleontologia do Museu Nacional.
Mais tarde, foi eleito subdiretor do laboratório de fisiologia experimental, que ajudou a organizar em conjunto com Louis Couty. Nesta época, fez estudos pioneiros com o curare e os venenos de ofídios e anfíbios. Descobriu a ação neutralizadora do permanganato de potássio sobre a peçonha da cobra.
Dedicou-se também à microbiologia e a estudos sobre febre amarela. Foi diretor do Museu Nacional e presidente da Academia Nacional de Medicina. Foi autor de estudos sobre o homem fóssil do Brasil e em 1878 foi premiado com a medalha de bronze na exposição antropológica de Paris.

Fonte: Wikipedia
 

0 comentários:

Postar um comentário