sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A FAMÍLIA PAIXÃO


JOSÉ FERREIRA DA PAIXÃO E O "COLÉGIO PAIXÃO"

O Colégio Paixão, em Petrópolis, foi criado em 1871, em substituição ao "Colégio Calógeras", de João Batista Calógeras, no mesmo prédio em que funcionara o anterior, à Rua do Palatinado, quase defronte à estação de cargas da E. F. Leopoldina, anexo à Escola Militar (onde atualmente é Rua Dr. Sá Earp, esquina da Buarque de Macedo). 
A propriedade havia sido arrendada por João Batista Calógeras ao Prédio havia sido arrendado ao marquês de Paraná, Honório Hermeto Carneiro Leão e funcionou de 1850 a 1859. Nessa instituição lecionou grandes nomes da instrução brasileira, como Ignacio Cochrane que que para lá foi transferido de Nova Friburgo. Nesse mesmo ano de 1859 o "Colégio Calógeras", passou para as mãos de Bernardo José Falletti, e passou a denominar-se "Colégio Santa Teresa". Este colégio funcionou até 1863 e em 1868, o padre João de Siqueira Andrade, ali fundou a "Escola Doméstica de Nossa Senhora do Amparo".
E, em 1871, ali passou a funcionar o "Colégio Paixão", fundado e dirigido por José Ferreira Paixão e a esposa e a esposa dona Maria Augusta Paixão, renomados educadores. O colégio manteve suas atividades até 1891. (Cf. Lacomb E, Lourenço Luiz — Cidade de Petrópolis, p. 231, ed. Museu Imperial, Petrópolis)
O casal José Ferreira da Paixão (1838-1908) e Maria Augusta teve os seguintes filhos:
- Ernesto José Ferreira da Paixão - Médico, humorista, jornalista e poeta, (Jornal "Correio de Petrópolis", 25 de dezembro de 1913) nasceu em 25 de dezembro de 1866, em Petrópolis, onde morreu em 14 de janeiro de 1922. Médico homeopata e um dos principais divulgadores da homeopatia. Dirigiu o Hospital Santa Teresa e a Secretária da Saúde, dedicando-se aos enfermos sem distinção de classe ou posição social. Atuou na campanha pela abolição do elemento servil. Foi membro (sócio) e titular da cadeira nº 35 da "Academia Fluminense de Letras", cujo patrono era Teixeira de Melo, entre os anos 1919 e 1922; patrono da cadeira nº 6 da "Academia Petropolitana de Letras"; patrono da cadeira nº 18 da "Academia Brasileira de Poesia - Casa de Raul de Leoni" (onde outro membro da família: Henrique Paixão Júnior, figura como o patrono da cadeira nº 22). Colaborou em diversos jornais, como "O Pharol", de Juiz de Fora; "Gazeta Literária" e "Gazeta de Petrópolis", em sua terra. Usava o pseudônimo Flávio Marciano na imprensa local. (© 2014 - Academia Brasileira de Poesia - Casa de Raul de Leoni.). Casou-se com Maria Augusta Ferreira da Paixão.
- Cecília Ferreira da Paixão; falecida em 1897
- Henrique Ferreira da Paixão; Engenheiro;
- Carlota Ferreira da Paixão (nome de casada Carlota Paixão Ferreira da Costa). Carlota era uma notável musicista, recebera a sua recebera a sua formação musical com Bernhard Wagner, professor de piano e canto. Além de contralto, de notável tessitura, ela executava o órgão, piano e harmônio esplendidamente. Era ela sempre requisitada para as festividades, festas diversas, saraus, comemorações e apresentações sinfônicas. Casada em 19 de setembro de 1889, com o farmacêutico e Vice-cônsul de Portugal, Galdino Ferreira da Costa (falecido em 12 de abril de 1931), ela veio a morrer meses depois, em 11 de julho de 1890, aos 24 anos de idade, sem deixar descendentes. Em sua homenagem a "Ave Maria", op. 51, composta pelo Visconde de Taunay, sob o pseudônimo de Flavio Elysio, tantas vezes por ela cantada, com o acompanhamento de violino e harmônio, foi batizada de "Ave Maria de Carlota Paixão"; O cronista de o "Gazeta de Petrópolis", na edição de 11 de maio de 1901, qualifica a voz de Carlota como límpida, pura e suave e assegura que uma outra voz, não haveria de equiparar-se à sua interpretação da Ave Maria do Visconde de Taunnay, com o mesmo sentimento de religião e piedade com que ela dava à sua interpretação, fazendo jus à melodia que era bela e cheia de unção religiosa. E, em sua "crônica" ainda emenda: 
"- Estamos no mês de maio; o mês das camélias, o mês de Maria.
Precisamente no dia de hoje fazem quatorze anos que o saudoso Visconde de Taunay fez cantar, pela sempre lembrada D. Carlotinha Paixão, com acompanhamento de harmônio e violino, a Ave Alaria de sua composição, “várias vezes interpretada no mês de Maria (maio) de 1887, na matriz de Petrópolis, pela exímia e inolvidável amadora, com tal inspiração e maestria, que deixou a mais funda impressão em quantas a ouviram, mestres e admiradores de seu peregrino talento.”
Acompanhava-a ao harmônio a baronesa de Muritiba [Maria José Velho de Avelar], e ao violino [o cubano José] White.
São passados os anos, e ainda na nossa matriz não foi cantada essa bela página musical do Visconde de Taunay, que é conhecida pela Ave Maria de Carlota Paixão.
Ainda guardamos, como sons perdidos em nosso ouvido, as notas melodiosas, doces, aveludadas emitidas pela garganta privilegiada de nossa saudosa conterrânea, falecida aos 24 anos e tendo deixado de seu nome uma recordação, que todos guardam com carinho, pois que se lembram ainda daquele belo tipo de moça, sempre na vanguarda de todas as obras de caridade."
OBS: Outros autores (a maioria esquecidos), além de Flávio Elysio, Antônio de Carlos Gomes e o Padre José Maurício Nunes Garcia, igualmente compuseram suas Aves Marias em terras brasileiras, foram eles: Libório Gomes Moreira, Remígio Domenech, José White, Júlio Reis, Frederico do Nascimento, Carlos Severiano Cavalier Darbilly, Henrique Oswald, Alberto Nepomuceno, Alberto Nepomuceno, Agostinho Luís de Gouvêa, Marieta Neto, Domingos José Ferreira, Antônio Francisco Braga, Iwan d'Hunac, Antônio Ferreira do Rego, Arnaud Duarte de Gouvêa, Robert Jope Kinsman Benjamin, Vincenzo, Cernicchiaro, Dagmar Matoso Chapot-Prevost, Abdon Filinto Milanez, Manoel Augusto de Medeiros Senra, Bernhardt Wagner, Rafael Coelho Machado, Alfredo Ângelo, Gennaro Arnaud, José Joaquim Emerico Lobo de Mesquita, José Alves da Trindade, Sigismund Neukomm, etc;
- Luiz Ferreira da Paixão. Luiz estudou na "Ginásio Petrópolis", por esta época (1910), editou com outro aluno do mesmo colégio, Gustavo Fonseca, ambos redatores, o jornal "A Pátria", a partir de 15 de maio de 1910, que estampava notícias diversas e literatura.  (Jornal "O Ginasial", ANO 1, N. 4, Petrópolis, 22 de maio de 1910, pg 4). Nos meses que se seguem, em julho, mais apropriadamente, Gustavo Fonseca retira-se da redação do jornal. Luiz entra em acordo com o jornal "O Correio do Alto", e dá-se a fundição dos dois periódicos em um só, sob o nome do primeiro, "A Pátria", sob a direção de  Rodrigo Capela, redator-chefe. Luiz depois, mais tarde, tornou-se médico na Ilha do Governador, primeiro-tenente da armada e cunhado do engenheiro da Inspetoria de Obras Públicas, Dr. Hermógenes Vale de Almeida (casado com sua irmã Maria Eugênia da Paixão) e sogro do advogado e comissário de polícia Gilberto de Paiva Lacerda (Filho do Dr. Edmundo de Lacerda e Elvira Paiva de Lacerda. Gilberto morreu de um enfaro, em 30/09/1963, aos 62 anos). Luiz era casado com Dalila Costa. Eles foram pais de 4 filhos. Luiz morreu em 2 de julho de 1934;
- Justino Ferreira da Paixão; Engenheiro
- Rafael Ferreira da Paixão; Engenheiro
- José Ferreira da Paixão Filho; Casado com Etelvina Alves Guerra (Depois Etelvina Guerra Paixão). Foi advogado e Juiz de Direito em Minas Gerais, nas cidades de Grão Mogol, Manhuassu, Diamantina e Três Corações. Tiveram os filhos: Maria Luiza Guerra da Paixão; José Guerra da Paixão; Mário Guerra da Paixão (ex-prefeito de Diamantina); Luís Guerra da Paixão e Paulo Guerra da Paixão;
- Maria Eugênia da Paixão. Casada com o eng. Hermógenes Vale de Almeida. Nome da casada, Maria Eugênia Vale de Almeida;
- Clotilde Ferreira da Paixão;
- Júlia Ferreira da Paixão



Á MINHA IRMÃZINHA CLOTILDE
Ri, criança, a vida é curta,
A vida dura um instante;
Depois o cipreste esguio.
Mostra a cova ao viandante,
Casimiro de Abreu - Primaveras.

Deleitam-te, criança, os brincos infantis,
A névoa de um pesar não turva o teu viver;
Ainda não foi dado ao goivo florescer
Aos teus pequenos pés; por isso tu sorris.

Em lânguido abandono os teus dias gentis
Tu passas, minha irmã, e tudo te é prazer...
Ai! folga, sim, criança! Ai! folga! e que o sofrer
Nos lábios teus não creste os risos pueris.

A lei do mundo é dura! É lei cruel, severa:
Aos brincos do hoje opõem-se as mágoas d'amanhã
A vida é sonho... não, a vida é uma quimera!

Assim.... folga, criança! Ah! ri-te, minha irmã!
E que seja amadora a tua primavera,
Que, sob eterno azul, tu vivas, flor louçã!

Ernesto Paixão.


MUSA RATIONIS

A raiz—boca da—Vida
Mama nas tetas da—Morte

Guerra Junqueiro.


Força e matéria: eis tudo! Essa, que dizem,
Divina essência e que no corpo existe
A dar-lhe movimento, a dar-lhe vida
É mera criação da fantasia,
Da monte imaginosa do poeta
Por continuas visões enlanguescida!

A alma é pura ficção! A vida existo
Enquanto reagir pode a matéria
Contra uma força oposta ao movimento!
É esta a vida! Um’outra não conheço,
Diz-m’o a ciência audaz, diz-m’o a razão,
Diz-m'o o sentir e sente o entendimento!

Oh! almas que viveis embevecidas
Nossa ilusão dourada, e que esperais
N’uma outra vida a felicidade achar,
Dessa quimera doce, desse engano,
Dessa ilusória crença em que viveis
Meu rude canto não vos quer tirar!

Respeito a crença como um Deus respeito
Como a pobreza, a viuvez, o pranto,
E como a anciã voraz de um coração;
Tirar-vos-ia da mente equivalera
A negar ao faminto angustioso
Uma migalha mínima do pão?

Vós que dela viveis, bem sei, sofreis
Menos as mágoas que o viver nos dá,
Menos a dor sentis!
Eu também, como vós, tive essa crença
Mas dos males o estudo demonstrou-me
Que quanto me iludi, vos iludis!

Vivei com vossa crença: eu não; não posso!
Vendo a matéria inerte eu sei a causa
Dessa falta de vida - o movimento!
Para vós foi a alma a Deus subida,
Para mim foi a força que extinguiu-se,
Como se fora a luz, em um momento!

Na eternidade da matéria eu creio:
Se o vegetal nos nutre, nós nutrimos
A terra onde ele vive!
É esta a realidade e, no entretanto,
Eu quisera viver inda no gozo
Dessa crença que tendes e que tive!

Porém, na—Eternidade—essa que vós
Contais fruir nesse infinito - O céu,
Nessa mansão de gozos mitológica!?
Nossa... não creio, não: porque é mentira;
Nessa não creio, que a condena in totó.
Essa energia tríplice da lógica.

Ernesto Paixão.

7 comentários:

Thais Paixão da Costa disse...

Sou muito saudosista, e me orgulho de conhecer alguns antepassados e seus descendentes da família Paixão.
José Ferreira da Paixão era tio do meu avó Francisco Paixão e José Paixão.
Agradeço ao Blog O Guararence de me dar está oportunidade.

Thais Paixão da Costa disse...

Gostaria de saber se José Paixão (tio Juca) como minha mãe chamava, nasceu em Guarará. Obrigada Thaís Costa Leal

Unknown disse...

José Ferreira da Paixão era meu bisavô e seu filho, Luiz Ferreira da Paixão, meu avô. Alguns desses fatos eu já conhecia, contados por meu pai, Joaquim Paixão. Mas, foi muito interessante descobrir muitos detalhes que eu desconhecia sobre meus antepassados.

Unknown disse...

Estou a disposição, caso interesse, a fornecer mais alguns detalhes sobre a família, que são do meu conhecimento.

Antônio paixao disse...

Sou filho de Jose Guerra da Paixão, filho de José Ferreira da Paixão Filho. Bom saber histórico dos antepassados.

MARCOS disse...

Sou neto de Luiz Guerra Paixão, nascido em Diamantina e depois mudado para Três Corações e Taubaté-SP. Obrigado pelo resgate histórico. Emocionante.

Carol disse...

Ernesto José Ferreira Paixão era meu trisavô. Pai de minha bisavó, Isaura. Muito obrigada por compartilhar um pouco da história da família.

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